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Peter dirigia pelas ruas molhadas de Seattle, encarando a estrada com semblante pensativo. O carro estava quente, os vidros fechados onde apenas se ouvia o barulho da chuva que continuava a cair. O silêncio entre ambos não era desconfortável, pelo contrário, deixava-me descontraída. Estava encolhida no banco. Apesar de o aquecimento do automóvel estar ligado, sentia-me gelada.

— Continuas com frio? — Ouço Peter perguntar. Abano a cabeça em afirmativo e o rapaz acelera. — Já estamos quase a chegar. 

As ruas iluminavam-se pelos postes de luz uma vez que o sol começava a pôr-se. Reparo que Peter começa a estacionar em frente à casa onde foi a última festa.

"É a fraternidade de Peter?"

— Anda, se não ficas doente. — O rapaz de olhos cinzentos afirma, saindo do carro e batendo com a porta.

Não perco tempo e me desenvencilho do cinto, abandonando o automóvel preto de dois lugares seguindo atrás dele. Passamos pelo grande jardim que se encontrava vazio e adentramos na casa que ao contrário da última noite, estava completamente arrumada e vazia. Peter deixa-me entrar, para que possa fechar a porta. Olho em volta sem saber o que fazer e nem o que dizer, mas por sorte, Peter se apressa com as palavras.

— Anda. — Ele diz, seguindo caminho para as escadas de madeira.

— Não está ninguém aqui? — questiono, entrando na porta que este abre, deparando-me com um quarto grande e amplo. A divisão estava pintada em tons de azul escuro, com uma escrivaninha de vidro encostado à parede com um computador em cima da mesma, uma estante com livros do lado esquerdo. Uma cama de casal com cabeceira preta encostada à grande janela do quarto, um roupeiro grande espelhado trás da porta e uma porta entreaberta no lado direito, que julgo ser o banheiro pela dimensão do compartimento. Se soubesse, tinha me inscrito numa fraternidade... há muito mais espaço e privacidade.

— Tens aqui o banheiro, — Peter diz, acendendo a luz do mesmo — vai tomar banho antes que te constipes.

— Mas eu não tenho roupa... — digo medrosa, encarando a minha roupa toda molhada e colada ao corpo.

— Eu empresto-te alguma coisa, vai logo! — Ele insiste.

Engulo em seco e olho em redor do quarto uma vez mais, caminhando  finalmente até ao banheiro, trancando-me. O banheiro era espaçoso, tinha uma pia com um espelho grande, um vaso, uma prateleira com toalhas, um pequeno armário em baixo da pia e uma box. Caminho até à box, rodo a torneira para o lado quente, deixando a água aquecer enquanto me dispo. Assim que estou desprovida de roupa coloco a minha mão debaixo de água confirmando a temperatura da mesma entrando logo de seguida. Deixo a água quente escorrer pelo meu corpo, sentindo todo o meu corpo relaxar. Olho ao redor e reparo que não há shampoo para o meu cabelo nem condicionador.

"Calculei..."

Coloco um bom bocado do gel na palma da minha mão, esfregando pelo meu corpo enquanto penso no facto de Peter ter vindo me socorrer, uma vez mais. Não consigo entender algumas atitudes dele e isso está me deixando louca. Vagueei em pensamentos por longos minutos, mas decido sair do banho quando noto que tenho a ponta dos meus dedos enrugados. Suspiro, enrolando-me numa toalha branca passando as mãos pelo rosto.

"Será que ele está no quarto?"

Destranco a porta do banheiro e coloco a cabeça de fora, procurando por Peter que felizmente não estava no quarto. Saio caminhando até à cama do garoto onde estava uma básica preta e um moletom da mesma cor. Seco o meu corpo rapidamente vestindo a camiseta e logo de seguida o moletom que mais parecia um vestido em mim. Sento-me na cama pegando na toalha para enxugar o cabelo.

LiesWhere stories live. Discover now