26 • possibilidades impossíveis

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- Você está com uma cara péssima.

Vanessa finalmente verbalizou os seus pensamentos quando nos sentamos em uma das mesinhas que ficavam do lado de fora de uma sorveteria perto da nossa escola — ela com as pernas cruzadas e toda a classe de uma dama da alta sociedade enquanto eu tinha simplesmente me jogado na cadeira como se tivesse acabado de receber a surra da minha vida e não me aguentasse em pé.

Ela passou a manhã inteira perguntando o que tinha de errado comigo enquanto eu simplesmente dava de ombros e dizia que não era nada. A verdade era que eu estava louca para conversar com alguém — com ela, especificamente — mas eu não queria falar nada perto de ouvidos curiosos.

- Talvez seja porque eu me sinto péssima — respondi, fazendo a Vanessa arquear uma sobrancelha — Não dormi quase nada essa noite.

- O que aconteceu? — ela perguntou enquanto provava do seu sorvete de chocolate.

Soltei um pesado suspiro antes de deixar a Vanessa a par dos últimos acontecimentos do desastre que era a minha vida amorosa. Tentei não entrar em muitos detalhes, mas foi impossível. Eu precisava urgentemente de uma perspectiva diferente, de alguém que conseguisse enxergar as coisas por um outro ângulo e me dissesse o que eu deveria fazer.

- Acho que você está deixando escapar uma ótima oportunidade.

- Oportunidade de que?

- Gia, presta atenção... — ela apontou para as minhas mãos — O seu sorvete vai derreter.

- Oh.

Na verdade, o sorvete já tinha começado a derreter e grandes gotas azuis escorriam pelas laterais da casquinha, quase alcançando os meus dedos. Gastei alguns instantes tomando metade do meu sorvete às pressas, garantindo que ele demoraria um pouco mais para voltar a me causar problemas.

- Sabe, não existem comidas azuis — Vanessa falou de repente — Não na natureza, pelo menos. Esse ai deve ser o sorvete menos saudável do mundo.

- Deve ser por isso que gosto tanto do sabor — dei de ombros.

- Esse sabor não existe, provavelmente foi feito em laboratório. A cor, o sabor, o cheiro, tudo nisso aí é artificial.

Olhei para ela por um longo momento enquanto eu me perguntava quem era essa pessoa e o que ela tinha feito com a minha amiga que sempre gostou de comer porcarias junto comigo.

- Você está falando igual a Liz — comentei.

- Que seja — ela revirou os olhos — Voltando ao que interessa. Gael foi ou não o seu beijo perfeito?

- Você realmente não perde tempo, não é mesmo? — falei enquanto me afundava na cadeira e tentava esconder as minhas bochechas coradas atrás da casquinha de sorvete.

- Hein? — ela me lembrou que eu ainda devia uma resposta.

- Foi, mas isso é irrelevante — falei baixinho.

Eu já estava ficando sem paciência com isso e me perguntava quantas vezes mais eu teria que explicar as mesmas coisas. Eu me sentia um papagaio ultimamente.

- Talvez fosse esse o caso se você fosse a única sentido alguma coisa. Mas o garoto já admitiu que gosta de você, então...

- Então nada — sacudi a cabeça veementemente.

Eu não gostava desse tipo de conversa. Eu não precisava desse tipo de conversa, do tipo que me fazia pensar em possibilidades impossíveis. Eu não poderia permitir que minha mente vagasse por esse caminho. Esse era o caminho da esperança, mas um caminho que não existia no mundo real. Era um caminho impraticável.

Não Posso Te Beijar [livro 1]Where stories live. Discover now