Não Posso Te Beijar [livro 1]

48 • um pedaço de carne

Pietro agarrou os meus braços com força o suficiente para deixar marcas e tentou me beijar mais uma vez. Tentei me soltar dele, mas foi em vão. Mesmo sendo mais novo, ele ainda era maior e mais forte do que eu. O máximo que consegui foi virar o rosto, evitando que ele beijasse a minha boca.

- Você mentiu para mim — ele falou ao meu ouvido — Por que?

- Pietro, você está me machucando — falei, mas a força com que ele me segurava apenas se intensificou.

- Eu te solto assim que você me disser porque eu não posso te beijar.

- Por que eu não quero! — quase gritei.

Eu precisava me controlar. Eu não podia chamar a atenção dos meninos lá embaixo ou essa situação tomaria proporções absurdas e eu simplesmente não podia correr riscos de deixar o pior cenário possível acontecer — o cenário em que toda a minha família se desfaz por causa de um erro meu.

- Mentira! Você não quer me beijar porque na verdade você está com ele. Não é mesmo? Vai, diz que não é isso, que eu estou enganado.

- Você está enganado — falei e tentei empurrá-lo de novo, mais uma vez sem sucesso — Você entendeu tudo errado.

- É mesmo? Se eu entendi tudo errado, então me explica algumas coisas — ele falava tão perto da minha orelha que eu podia sentir a sua respiração no meu pescoço, me deixando ainda mais tensa do que eu já estava — Naquele dia na praia, de quem a sua amiga falava? Para mim ficou muito claro que ela se referia a você e aos seus sentimentos pelo seu irmão postiço. Só um completo idiota não entenderia isso. Depois disso, porque o meu irmão e o Jason vieram me encher o saco dizendo que eu precisava ficar longe de você? Porque o Gael sempre age de forma tão protetora e possessiva quando você está com ele? Porque ele perdeu a cabeça durante aquele jogo de futebol só porque te viu com outro cara?

- Não foi assim que as coisas aconteceram — falei, me referindo principalmente a última coisa que ele tinha falado.

- E, o mais importante, porque ele sempre consegue tudo o que eu quero?

- O que? — minha voz não era mais do que um sussurro a esse ponto.

- Eu tentei entrar para o time de futebol da escola, mas ele não deixou, mesmo eu tendo me saido claramente melhor do que qualquer outra pessoa do meu ano. Sabe o que ele me disse? Ele simplesmente me desejou melhor sorte no próximo ano. E no próximo ano eu vou sim ter mais sorte. Sabe porque? Por que no próximo ano ele não estará lá para me atrapalhar.

- Eu tenho certeza de que... — comecei a falar, mas ele imediatamente me interrompeu.

- Sabe o que mais ele fez? Você não é a primeira garota que ele rouba de mim. Logo que eu comecei o Ensino Médio, eu vi essa menina que era simplesmente a definição de perfeição. Você conheceu ela, então sabe que eu não estou exagerando. A Pamela é simplesmente a pessoa mais perfeita que existe. Um dia eu criei coragem para finalmente falar com ela, só para descobrir que o Gael já tinha chegado primeiro. Mesmo depois que eles terminaram eu não podia tê-la para mim, ela estava completamente maluca, disposta a tudo para reconquistar ele. Ela nunca sequer olhou duas vezes na minha direção graças a ele. Ele me impedia de tê-la para mim mesmo quando ele já não a queria mais.

- Eu sinto muito por isso, mas...

- Não. Eu ainda não terminei. Até mesmo o meu irmão eu perdi para ele. Eu nunca entendi porque o Paolo insiste em seguir o Gael para todos os lados como se fosse um cachorro. Cada pedido do Gael é como uma ordem para ele e de repente nós não podíamos fazer mais nada sem antes a permissão do precioso capitão do time. Toda vez que eu sugeria alguma coisa, meu próprio irmão me dispensava porque o Gael já o tinha chamado para fazer algo melhor.