Não Posso Te Beijar [livro 1]

50 • chuva, raios e trovões

Eu não tinha falado nada em voz alta, mas eu achava que não era segredo que eu não estava particularmente empolgada com o nesse Natal. Sim, esse era o meu feriado favorito, mas nesse ano tudo aconteceu completamente diferente dos anos anteriores e o Natal não era uma exceção. Tudo porque o meu pai tinha resolvido se casar de novo.

Eu não estava reclamando... Bom, na verdade eu estava sim. Não é que eu queria que as coisas continuassem sendo como sempre foram. Era só que me partia o coração que algumas coisas jamais poderiam mais do que eram.

Tentei fugir do Natal em família que a Liz estava tão ansiosa para celebrar, mas, justamente por isso, não tive escapatória. Esse seria o nosso primeiro Natal depois que o meu pai e a Liz tinham se casado. Eu deveria estar tão ansiosa por isso quanto eles, mas eu não estava. Eu simplesmente não conseguia. Era como se toda alegria e felicidade tivessem sido drenadas do meu corpo ao longo dos últimos dias e agora eu não passasse de uma casca vazia.

Conhecer o Gael tinha sido a melhor e a pior coisa que já aconteceu comigo. Os meus melhores dias tinham sido ao lado dele e eu temia que os meus piores ainda estavam por vir, justamente porque eu não o teria mais ao meu lado.

Esse era o motivo do Natal ter um gosto especialmente amargo esse ano. Hoje era o último dia que eu veria o Gael. Não era algo para sempre, mas eu não fazia ideia de quando nós nos veríamos de novo. Amanhã ele sairia cedo para acampar com o Jason e o Roger, e quando ele voltasse para casa eu já teria ido embora.

Eu não conseguia nem imaginar como eu agiria com ele daqui para frente, quando nos reuníssemos em família novamente. Eu não suportava a ideia de algum dia receber a notícia de que ele tinha encontrado alguém e estava em um relacionamento.

A felicidade dele é tudo o que importa, uma vozinha dentro de mim sempre dizia. Sim, eu concordava com ela. Mas era egoísmo demais da minha parte desejar que nós pudéssemos ser felizes juntos? Eu achava que não. No entanto, não adiantava mais eu perder o meu tempo pensando em algo que nunca aconteceria.

Neste Natal, a coisa que eu mais queria no mundo era algo que eu não deveria querer, algo que eu nunca poderia ter. E isso me matava por dentro. Eu me sentia tão errada e ao mesmo tempo tão injustiçada.

- Gia, você ainda não tocou na sua comida — Liz observou, fazendo as demais pessoas na mesa olharem na minha direção, menos uma.

Não dei uma resposta a ela, apenas engoli um pouco da comida que estava no prato e torci para que ninguém me incomodasse de novo. Eu não estava no clima para conversas e festividades, mas eu também não estava afim de brigar com ninguém hoje.

- Animada para a sua viagem, Gia? — Roger perguntou, me distraindo momentaneamente dos meus pensamentos.

- Sim. Muito.

Roger, assim como o Jason, tinham vindo passar o Natal conosco. Aparentemente ele nunca passava o Natal com o próprio pai já que ele estava sempre ocupado demais com o restaurante e esse ano de certa forma não foi exceção. Já o Jason... Bom, pelo o que eu tinha ouvido, a situação na casa dele tinha melhorado, mas por algum motivo tudo tinha ficado meio caótico com a proximidade das festas de final de ano e ele não queria estar perto dos pais dele nesse momento.

- Gia mal pode esperar para passar um tempo com a mãe — meu pai falou como se alguém tivesse real interesse pelo assunto — Já fazem anos que as duas não passam um tempo de qualidade juntas.

Nós moramos na mesma casa e ainda assim eu poderia dizer a mesma coisa de você, pai. Eu só pensei, não disse nada. Como já deixei claro, eu não estava afim de brigas.

A refeição seguiu sem grandes acontecimentos e, assim que pude, pedi licença e fui para o meu quarto. Eu não tinha interesse em conversar ou socializar com ninguém. Tudo o que eu queria era que esse dia acabasse logo para que eu pudesse ir embora dessa casa o mais rápido possível.