31 • morta do meio da rua

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A expressão de choque ainda não tinha saído do rosto da Vanessa. Foi muito difícil contar a ela o que tinha acontecido, já que ela não parava de me interromper, pedindo por mais detalhes.

Porém, ainda mais difícil do que isso foi convencê-lo a ir no shopping comigo para comprar roupas de ginástica, ou seja lá como essas roupas se chamam. Eu nunca tive motivo para comprar esse tipo de coisa, e era exatamente por isso que a Vanessa estava convencida de que tudo não passava de uma pegadinha.

Passamos por várias lojas, mas só na terceira ou quarta que a Vanessa começou a me levar a sério, tão a sério que ela até mesmo me fez comprar um par novo de tênis. Apesar de não querer gastar mais dinheiro do que eu já estava gastando, me deixei ser convencida por ela. Afinal, tênis novos me ajudariam a convencer todos da minha história.

A maioria das peças que escolhi variavam entre tons de preto e cinza. Porém, na última loja em que entramos, Vanessa me desafiou a comprar algo colorido. Sendo fiel a mim mesma, obviamente que rejeitei o desafio dela. Eu não tinha que provar nada a ninguém. No entanto, ela não me deixou em paz e, no final, só para fazê-la se calar, peguei um par de meias laranjas.

- Feliz?

- Ao invés de meias, por que você não escolhe algo tipo um short? Ou uma saia? Ou talvez um short-saia?

Eu não me dignei a respondê-la, apenas me virei e caminhei em direção ao caixa, a deixando sozinha no corredor de meias. Eu estava tão louca para finalizar essas compras e ir para casa que, à medida que eu avançava na fila do caixa, não notei a pessoa que se aproximava de mim por trás.

- Finalmente decidiu acrescentar um pouco de cor à sua vida?

Ouvi aquela voz dizer e imediatamente todos os pelos do meu corpo se arrepiaram. Me virei e dei de cara com ela, o diabo encarnado em rosa choque, lançando um olhar sugestivo sobre as meias que eu ainda tinha em minhas mãos. Eu queria muito saber o que eu tinha feito de errado nas minhas vidas passadas para ter que me encontrar com a Pamela em praticamente todos os lugares em que eu ia.

Eu não estava com disposição para perder o meu tempo com discussões inúteis, muito menos com ela. Então, simplesmente lhe dei as costas e aguardei, mais ansiosa do que nunca, a fila andar.

- Não fala mais comigo? — ela falou como se estivesse de fato ofendida. Ainda assim me mantive quieta, apenas revirando os meus olhos — Onde está a sua educação?

- Lá na esquina. Você pode, por favor, ir lá buscar para mim? — falei de repente, não aguentando mais.

Quem diria... Afinal, eu não era boa nessa coisa de ignorar quem me incomoda. E eu duvidava muito que isso seria algo que dominaria nos próximos minutos, então... Porque adiar o inevitável?

- Rude — ela falou perto demais de mim, assim que me virei para ela.

- Idiota — respondi enquanto limpava as gotas invisíveis de saliva do meu rosto com gestos bem exagerados na esperança de deixá-la constrangida — O que te faz pensar que eu quero falar com você? Ou que eu tenha qualquer coisa para falar com você?

Pamela soltou um pesado suspirou e revirou os olhos antes de olhar para mim de novo. Ela passou a língua sobre os lábios, os umedecendo, e o seu batom permaneceu intacto. O que me fez perder mais uma grande parte da minha paciência. Como ela conseguia sempre manter a maquiagem perfeitamente intacta desse jeito o tempo todo? As vezes eu achava que ela já tinha nascido com toda aquela pintura no rosto.

- Você vai passar uma mensagem minha para o Gael.

Não era um pedido, era uma ordem. Tive que me controlar para não começar a rir. Ela não tinha a minha atenção, mas tinha a minha curiosidade. Eu queria muito saber onde isso iria parar.

Não Posso Te Beijar [livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora