Capítulo 11

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Acordo cedo e disposto, hoje meu turno começaria cedo no hospital, estava empolgado demais. Levantei logo, vesti minha roupa, arrumei minha maleta e sai, achei melhor tomar café antes de ir. Quando abro a porta percebo uma movimentação estranha no corredor, vi uma funcionária retirando roupa de cama do quarto de Liz, eu sabia que as funcionárias começavam cedo, mas normalmente os quartos eram na hora do café. Passei devagar e vejo Liz deitada ainda, parecia estar dormindo.

Desço e vejo Roberto sentado à mesa com o Edward. Me acomodo e me sirvo, ele não fala nem uma palavra,

- Pai, cadê Liz? – Edward pergunta.

- Ela amanheceu indisposta, mas logo ela vai ficar bem.

Era muito estranho tudo aquilo, mas a verdade é que ela parecia abatida já há algum tempo, talvez tivesse com a imunidade baixa, tenha pegado alguma virose, resfriado.

- Se quiser posso avaliá-la. – Pontuo já acabando o café.

- Não é necessário. – Ele é ríspido.

Dou um beijo em Edward e saio, pego a chave do carro e vou até o hospital. A imagem de Liz fica em minha cabeça durante todo o caminho, mas com o tempo de trabalho vou esquecendo toda a situação.

Próximo ao final de expediente convido Emily para almoçarmos juntos, mas ela prefere que eu vá até a sua casa. Passo no restaurante e levo uma massa, sempre que almoçávamos no hospital era a sua preferencia no cardápio. No caminho vejo uma floricultura, paro e compro uma rosa, sabia que era muito pouco para tudo que aquela mulher representava, uma simples rosa para um paraíso inteiro, parecia insignificante, mas arrisquei. Chego até sua casa, alguns minutos antes do horário combinado, ela me recebe linda como sempre, com um sorriso contagiante.

Ela era incrivelmente apaixonante.

Escondo a rosa na mão atrás das costas e entrego a comida.

- Você sempre pensa em tudo? – Ela dá um beijo, pega a comida das minhas mãos e coloca na mesa.

- Penso até demais. – Sobre esse fato não estava mentindo, passo por trás, abraçando-a de costas e mostro-lhe a flor.

- Assim você me acostuma mal. – Ela pega e cheira a flor, logo depois me beija em agradecimento.

Nós nos sentamos e conversávamos enquanto comíamos, ela era muito engraçada, seu sorriso me cativava e eu ficava completamente envolvido nas suas histórias. Contei sobre os meus anos de Faculdade e sobre Adam. Ela me contou que foi para a França estudar, que se formou lá e voltou depois que a mãe morreu, ela ficou um tempo cuidando dela no hospital, até o seu óbito.

- Também não tenho mãe, ela morreu quando eu tinha 8 anos. – Pela primeira vez meu tom não soou tão melancólico.

- E seu pai? Não te vejo falando sobre ele.

- Não tenho muito o que falar... – Tento desviar o olhar.

- Vocês não se dão bem? – Ela percebe minha expressão de tristeza.

- Não sei como dizer... – Cruzo minhas mãos em frente ao rosto tentando achar as melhores palavras. – Bom... ele é responsável por muita coisa na minha vida, das quais não são nada boas.

- Desculpe se entrei num assunto delicado.

- Uma hora ele chegaria. – Seguro sua mão. – Eu sou um cara partido e que tem medo de se mostrar. Quando você entrou na minha vida eu queria só esquecer tudo, absolutamente tudo, muita coisa ainda quero. – Beijo sua mão. – Mas hoje você me dá bons motivos para querer lembrar.

As marcas do medo.Where stories live. Discover now