Capítulo 23

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O cheiro de café adentra minhas narinas me obrigando a abrir os olhos, na melhor sensação possível, por um instante penso que pode ser um sonho por conta da fome que começa a dominar meu estomago. Levanto e sigo o cheiro, que vem da sala, vejo Leone atrás da bancada que separa os ambientes, no estilo de cozinha americana, seu apartamento é grande e ao mesmo tempo acolhedor, segui até a bancada, e me sentei em um dos bancos, ficamos frente a frente. Ele coloca uma caneca de café perto de mim e prepara ovos mexidos com pão, distribuindo nos dois pratos disponíveis na bancada.

- Espero que aprove. – Ele sorri.

Retribuo o sorriso de forma tímida e começo a comer, o sabor era muito bom, ele se senta ao meu lado e comemos juntos. Ele me observa, eu permaneço em silêncio.

- Como está a mão? – Ele pergunta esperando que eu mostre. Ergo a mão na bancada para ele avaliar, me pego avaliando também.

- Sinto umas pontadas fortes e não consigo movimentar muito bem os dedos, provavelmente pela inflamação do tecido e o inchaço das articulações.

- É verdade Doutor. – Ele sorri com a minha resposta e acabo sorrindo também.

- Não quero te dar trabalho. - Solto

- E quem disse que me dá trabalho? Se não percebeu minha casa é bem vazia e eu não tenho muito com o que me ocupar. – Ele diz mostrando o apartamento com as mãos enquanto ri – Coma, quero lhe mostrar uma coisa.

Ele sai da cadeira e some entrando no corredor. Volto a comer, finalizando meu café e aguardo seu retorno. O vejo voltar com uma caixa preta nas mãos, senta no sofá e me chama, vou até ele e sento próximo. Ele coloca a caixa entre nós.

- John eu nunca tive oportunidade de lhe mostrar isso, a minha distância nunca foi proposital. Seu pai te colocou num internato logo que sua mãe faleceu...

- Eu passei dois anos lá. – Completo e deixo que ele continue.

- Ele proibiu minha entrada na casa e o contato com todos os funcionários, eu tentei te achar de todas as formas, eu nunca soube que tinha voltado até aquele dia na mansão.

- Nada me impressiona vindo dele.

Ele abre a tampa da caixa. Eu olho e vejo várias fotos da minha mãe, pego uma das fotos e olho para ele incrédulo, ela era muito bonita, cabelos pretos e olhos claros, parecia jovem, talvez um pouco mais de 20 anos. Tinha outra foto dela com um bebê nos braços ela está sorrindo e o bebê também.

- Esse bebê é você. – Ele pega outras fotos que estou com ela.

- Ela era linda. – Confirmo. Tento segurar as lagrimas, sem sucesso, secando-as com o braço. – Como você conseguiu isso? – Fico confuso.

- Prometi a ela que um dia você veria e saberia de tudo.

Eu abraço uma das fotos, como se a tivesse ali pertinho de mim.

- Ela te amava tanto John, mais do que a si própria. – Ele me dá um sapatinho vermelho de croché e depois uma toalhinha bordada com meu nome. – Ela mesma fez.

Eu passo o dedo na linha, como se a sentisse ali. Eu o abraço em agradecimento. Percebo que ele também está emocionado com tudo isso. Continuo olhando tudo que tem na caixa, tinha fotos minhas dando os primeiros passos, foto da minha mãe cozinhando, sempre tão feliz, vejo uma foto no fundo, pego e olho, era minha mãe e Leone. Olho para ele em busca de explicações.

- Eu amei sua mãe, mais do que qualquer outra coisa. – Ele seca as lagrimas nos olhos.

- Não entendo, vocês traíram meu pai? – Eu fico confuso.

As marcas do medo.Onde histórias criam vida. Descubra agora