Capítulo 41

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Senti uma sensação na minha mão, como se alguém estivesse apertando-a, me dei conta que estava sentindo o meu corpo, era pesado e difícil de mexer, tentei apertar a mão de volta, mas a mão não obedecia, consegui movimentar apenas alguns dedos. Ouvi algumas vozes misturadas invadindo minha audição, era difícil identificar de quem eram as vozes. Uma das vozes começou a se destacar das demais.

- John, estou aqui com você. – Era a voz Emily, consegui reconhecer, queria abrir os olhos e vê-la, sinto os dedos acarinharem meus cabelos.

Tento abrir os olhos, mas eles ardem com a luz do ambiente, a imagem é turva consigo ver sua forma em minha frente, seus cabelos negros e seus olhos castanhos em cima de mim vão ficando mais nítidos, olho em volta e consigo ver o teto do quarto, a janela sendo invadida pela luz do dia, tento olhar para mim mesmo e tinha alguns fios ligados ao meu braço e peito, do lado alguns aparelhos conectados. Reconheci Leone do outro lado, eu estava confuso, estava mesmo vivo? Era possível? Meus olhos se encheram de lágrimas em pensar nessa possibilidade, deixando a minha visão embaçada.

- Estou vivo? – Minha voz estava roca e baixa. Eu não conseguia acreditar que estava vivo.

- Está meu amor. – A voz de Emily me faz encará-la e eu não acreditava que estava vendo-a novamente.

Eu tento levar sua mão até a minha boca, não consigo exigia um grande esforço físico, ela me ajuda colocando sua mão próximo ao meu rosto, eu a beijo levemente, repetidas vezes. Vejo-a chorando como nunca vi antes, ela beijava a minha testa e eu sentia as lagrimas caírem sobre minha pele. Leone segurava a minha outra mão, ele também estava chorando, vê-lo ali me deu um alivio. Lembrei de tudo que tinha acontecido antes do último tiro e não pude controlar o choro intenso.

- Calma John. Tente se manter calmo.

Era difícil não ser invadido por tudo que havia acontecido, me lembro da dor do tiro, solto a mão de Emily e Leone e passo pelo meu tronco procurando o ferimento, estava abaixo do meu peito ao apalpar sinto a dor invadir o peito novamente, tento olhar por baixo da roupa e vejo um curativo enorme, lembro da perna, tento tatear o local ferido, procuro pela perna e encontro o curativo na parte externa da cocha, sinto uma pequena dor ao tentar movimentar.

- Você está se recuperando. – Diz Leone me olhando.

Me recordei de encontrar Leone enquanto estava no chão e me lembro da chave que tinha escondido na calça que estava.

- Cecília, onde ela está? – Me sinto angustiado e assustado, Emily tenta me acalmar poiando a mão em mim. - Ele a levou? Onde está a minha filha?

- Ela está bem John, eu achei a chave no seu bolso e tirei ela do quarto, ela está com Sarah.

Respiro fundo e aliviado ouvindo aquelas palavras, meu maior medo era que ele tivesse feito algo com a minha filha. As lembranças vinham confusas na minha cabeça, a cabeça doía, passei a mão e percebi que uma parte estava raspada, lembrei da coronhada, passei o dedo pelos pontos, percebendo que o corte não foi pequeno. Meu coração estava acelerando, com tantas lembranças na minha cabeça, não conseguia parar de chorar, estava feliz por estar vivo pela primeira vez, mas lembrar de tudo me fazia sentir medo.

- John, descanse você passou por muita coisa, vamos com calma.

Vi quando a enfermeira veio com a medicação e colocou no acesso. O sono veio quase que imediatamente, paralisando todos os meus pensamentos, as pálpebras estavam pesadas, era impossível manter os olhos abertos, a escuridão surgiu rapidamente. 

Acordei me sentindo mais calmo, olhei a minha volta e estava de noite, vi Leone deitado em uma das cadeiras, lembrei de Roberto e de tudo que ele me disse, como era injusto pagarmos pelo egoísmo desse homem, pensei no quanto ele deve ter se culpado a vida inteira, por não consegui viver feliz com sua família.

As marcas do medo.Onde histórias criam vida. Descubra agora