Capítulo 28: Terno colorido

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- Não acredito que estamos fazendo isso. - Poncho dizia balançando a cabeça, com as mãos no volante.

- Pode acreditar. - Anahí respondeu, com um sorriso de canto. As ruas eram aclaradas apenas pelas luzes dos postes, a lua não quis aparecer. Ela estava sentada no banco do passageiro, fazendo a companhia de Poncho.

Estavam voltando de uma reunião do centro de Tijuana. Anahí conhecia aquele lugar de cor. O carro corria pela avenida principal da cidade, chegando à casa que ela tão bem era familiarizada: a Mansão de Jorge Vivaz.

O governador havia saído do estado. Provavelmente, à esta altura, estaria chegando no outro lado do país para resolver assuntos políticos. Anahí ficara sabendo disso há alguns dias, assistindo à TV. Ver Vivaz depois de tanto tempo a deixou instigada. Não soube exatamente o que estava sentindo.

Entretanto, agora, ao passar próximo à mansão, ela teve uma ideia um tanto absurda. O mais absurdo ainda, é que Poncho concordou em realizá-la.

- Tudo bem. Pare o carro aqui. - Anahí ordenou. Colocou os cabelos para dentro do capuz e fechou o casaco. - Vamos entrar pelas portas do fundo. Sei onde ficam as chaves. - ela pegou uma bolsa pequena e colocou na lateral de seu corpo. Poncho apenas assentiu, desligando o carro.

A rua estava em um silencio preponderante, mas em um bairro nobre isso era a regra. Anahí sentiu um rápido calafrio atravessar seu corpo quando saiu do carro e começou a se aproximar da casa. Lembrou-se da última vez que pisou naquela calçada, a forma que havia fugido de Vivaz, o tapa que deu na cara dele... O ódio ainda a consumia por inteiro.

Poncho trancou o carro e começou a seguir Anahí. Também andava a passos silenciosos.

Ela atravessou o jardim e foi em direção à porta dos fundos, a entrada dos empregados. Poncho chegou junto com Anahí no momento em que ela abria uma caixa de madeira suspensa na parte superior da parede. De lá, tirou uma chave de prata.

Ela deu um suspiro, olhou para os lados, confirmando que ninguém os veria, e prosseguiu. Poncho também fazia a guarda. Anahí colocou sorrateiramente a chave na fechadura e, depois de duas voltas, a maçaneta já podia ser aberta.

- Vamos. - ela falou com a voz baixa. Sabia que a casa ficaria vazia por alguns dias mais, enquanto Vivaz estivesse fora, todos os empregados eram liberados.

Eles finalmente entraram, totalmente discretos, pela cozinha. Poncho fechou a porta atrás de si, enquanto Anahí já andava pelo local que não vira há meses. Recobrou as memórias que teve ali, todas as vezes em que chorou no colo de Rose quando se sentiu exausta, ou nas vezes em que recorria à sala dos empregados para fugir das reuniões com parceiros políticos de Vivaz. Parecia uma outra dimensão.

Ela caminhou até a enorme sala, Poncho a seguiu, deslumbrado pelo luxo do lugar.

- Então era aqui que você morava? - ele questionou Anahí, que virou para olhá-lo.

- Era... - ela deu um riso sem jeito. Aquele lugar nunca tinha sido um lar para ela.

- Até que é bem chique. - ele comentou, irônico. Anahí balançou a cabeça, tirando o capuz.

- Vamos logo fazer isso. Não gosto de ficar nesse lugar. - Anahí começou a andar em direção às escadarias. Poncho a seguiu sem mais considerações.

Eles chegaram em um longo corredor.

- Este era meu quarto. - Anahí apontou para uma porta branca, à direita. - Eu passava quase cem por cento do tempo trancada aqui. - ela foi até a porta e abriu. Tudo continuava intacto. Os móveis, as roupas de cama. Vivaz ainda esperava sua volta.

Dos VecesWhere stories live. Discover now