6: Peixe, Peixinho e Minhoca

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Felizmente, o efeito da maconha não durou tempo o bastante para me deixar mortalmente encrencada

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Felizmente, o efeito da maconha não durou tempo o bastante para me deixar mortalmente encrencada.

Algum tempo indefinido depois de Jader falar o que planejara, com ambos tentando conter nossas próprias risadas e manter o foco — sem muito sucesso, obviamente —, começamos a voltar ao normal. E foi aí que me dei conta da vergonha cataclísmica que tinha passado.

Aliás, que nós dois tínhamos passado.

O ruivo me levou para casa algumas horas após o space brownie, quando nossos neurônios pareciam ter voltado a pensar com parcial normalidade, e, durante todo o percurso, tentou puxar qualquer assunto que fosse, das formas mais estranhas possíveis, desde o papo sobre a grande mancha vermelha na atmosfera de Júpiter — que descobri ser um enorme anticiclone mais ou menos perpétuo —, até do seu antigo cachorro que morreu há dois anos de câncer retal.

O cara parecia ter uma alergia patológica ao silêncio. E, conforme falava e o efeito letárgico da erva se esvaía, mais eu sentia que provavelmente estava desenvolvendo alergia à ele.

Mas não falei nada. Apenas permaneci massageando minha têmpora com uma mão e torcendo o jeans que cobria minha coxa por entre os dedos da outra, tentando jogar um balde de água fria nos meus neurônios fervilhantes, mesmo quando eles insistiam em dizer que a única forma de conseguir alívio seria quebrando o balde metafórico na cabeça de Jader.

Assim que o carro estacionou em frente ao prédio, fisguei a mochila nos meus pés, encaixei sua alça nas costas e abri a porta do passageiro.

— A gente se vê? — indagou, quase em um murmúrio.

Mirei suas orbes castanhas e soltei um suspiro.

Balinhas de caramelo.

Como pude pensar em algo tão bizarro?

Fiz a anotação mental de nunca mais usar nenhum tipo de substância com o potencial de converter meu cérebro em um pedaço de lama capaz de mentalizar esse tipo de coisa.

— É, a gente se vê. Estudamos na mesma escola, então, é meio inevitável isso acontecer. — respondi. — Tchau, eu acho.

— Tchau... — Estreitou os olhos, o canto dos lábios se curvando em um sorriso quase imperceptível. — Eu acho. — completou, uma singela descontração enfeitando seu tom.

Balancei a cabeça, deixando um sopro de riso escapar.

Então, impulsionei o corpo para fora, recebendo o vento morno do crepúsculo iminente inundar meus poros com seus dedos invisíveis e, depois, bati a porta. Contornei o veículo rumo à entrada do prédio, onde o porteiro Ademir me cumprimentou com seu tradicional aceno de cabeça e, logo em seguida, direcionou um olhar questionador para algum ponto atrás de mim, no canto em que provavelmente Jader estava.

Talvez, pelo fato de que, nos cinco anos que morava ali, nunca tinha me visto na companhia de nenhum outro garoto além do meu irmão.

Não que eu nunca tivesse saído com ninguém. Apenas nunca deixei que os ditos cujos se aproximassem demais do meu prédio, para não correr nenhum risco de ser flagrada por Gertrudes com algum deles.

Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Estou Fazendo AquiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora