27: O Coelho Sentimental e o Cinema em Vermelho

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Aquela não era a primeira vez que eu saía em um encontro, mas, definitivamente, era a primeira em muito tempo

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Aquela não era a primeira vez que eu saía em um encontro, mas, definitivamente, era a primeira em muito tempo.

Não sabia exatamente como deveria me sentir, mas, enquanto fitava a garota de calça jeans larga demais e camisa do Linkin Park que se refletia no espelho a minha frente, não conseguia notar nenhum tipo de furor alegre correndo pelo meu sistema em saber que, dali a alguns minutos, eu me encontraria com Antônio.

Na verdade, meu estômago borbulhava de um jeito nada agradável e, à medida que o tempo corria, meu cérebro caixinha de pandora começava a me trair, calculando tudo o que poderia dar errado, a começar com a possibilidade de um raio nos fritar no meio da rua, cair um ultra-meteoro exterminador de mundos nas nossas cabeças ou sermos atropelados por uma multidão de ratos comedores de pipoca no cinema.

- Você tá com uma cara de bunda tão grande, maninha. Parece que tá indo pro enterro do cara, não pra um encontro romântico. - Paulo comentou, estacionando atrás de mim.

Os fones pendiam do tecido desbotado da camisa que, combinada à calça moletom que já estava usando há uns quatro dias, formava seu combo-mendigo para mais uma noite de sábado.

Costumávamos passar elas juntos, comendo porcarias e assistindo filmes ruins até desmaiarmos no sofá para, depois, acordarmos no domingo sob a bronca de mamãe nas vezes em que esquecíamos a televisão ligada - o que acontecia quase sempre.

- Não parece que eu tô animada? - A pergunta foi irônica.

Seu riso ecoou.

- Parece que tá de luto, mas tô achando que o que morreu foi a sua vergonha na cara depois de se meter nessa situação.

- Nessa situação? - indaguei, na esperança que explicasse sua fala.

- É, com essa onda fumada de sair com um cara que você não gosta.

- As pessoas fazem isso, Paulo. - Esforcei-me para soar convicta. - Na verdade, é por isso que elas costumam sair juntas. Podem não gostar muito de uma pessoa inicialmente, mas depois elas têm um encontro e as coisas fluem.

- Teu rabo. - Indignação refugiou-se nas sílabas. - Tanto eu quanto você sabemos que não é isso que tá acontecendo aqui. E não pense que eu vou sorrir e concordar com essa situação que você claramente não quer estar, por favor.

Suspirei, expurgando parte do meu cansaço.

- É o que tem que ser feito, Paulo. A gente já conversou sobre isso ser o melhor.

Seus braços se cruzaram em frente ao corpo, as sobrancelhas se erguendo em incredulidade.

- O melhor é esquecer o cara por quem você tá apaixonada, saindo com outro?

- Não tô fazendo isso pra esquecer o Jader. - afirmei, ultrajada. - Sei que não dá pra tapar buracos que algumas pessoas deixam com outras, até porque a forma não encaixa. Tô fazendo isso por outro motivo. E eu... quero sim sair com ele.

Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Estou Fazendo AquiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora