25: A Abstinência de Caramelo

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Eu li uma vez que, quando se passa um tempo considerável com uma pessoa, tendemos a nos viciar nos toques, cheiros, diálogos e em todo o universo que a envolve, porque ela pode estimular nosso sistema nervoso de um jeito muito semelhante ao que ac...

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Eu li uma vez que, quando se passa um tempo considerável com uma pessoa, tendemos a nos viciar nos toques, cheiros, diálogos e em todo o universo que a envolve, porque ela pode estimular nosso sistema nervoso de um jeito muito semelhante ao que acontece com as drogas.

Com isso, é comum que aconteça uma espécie processo de abstinência quando essa presença deixa de existir no nosso dia a dia, com uma sequência de sintomas esquisitos que te fazem pensar que está prestes a ter um infarto a todo momento, principalmente quando o seu cérebro possuído pelo vício faz questão de te lembrar constantemente da droga — que não é droga — já mencionada.

Um saco de balas de goma, caramelos, filmes de comédia romântica e qualquer sinal de cactos, fossem representações ou reais, eram apenas algumas das coisas que traziam à minha cabeça tudo o que eu queria esquecer.

Sentia falta de Jader, por mais que me recusasse a admitir. Sentia de um jeito que, sempre que lembrava do som estridente do seu riso, ou da sua mania de falar demais e mergulhar nos próprios devaneios, meu coração apertava como se estivesse sendo comprimido por uma centena de heras invisíveis feitas de metal.

Era o mesmo sentimento de quando o avistava pelos corredores do colégio e nossos olhares se colidiam, permanecendo unidos em um enlace cósmico por segundos que pareciam carregar galáxias inteiras de significados e palavras não ditas no espaço que sempre parecia grande demais entre nossos corpos.

Durava até que alguma coisa nos forçasse a desviar o foco para outra direção, rompendo o fio invisível que me enlaçava à ele, de um jeito que sempre parecia inevitável não caçar os seus olhos, ou desejar tomar seus lábios por entre os meus mais uma vez, e de novo, e de novo, até que a lua caísse sobre as nossas cabeças e colocasse fim ao mundo.

Eu quis adiar o máximo possível o confronto com o que estava nadando no abismo dentro de mim com relação à ele, porque a ideia de chegar até o fundo escuro e finalmente me deparar com o sentimento que por tanto tempo procurei fugir, era assustador.

Tinha medo de doer, medo de acontecer alguma tragédia que a tendência que circulava no meu sangue amaldiçoado sempre parecia fisgar e de tantas outras coisas, em um amontoado de angústias e receios que parecia ter se tornado paradoxalmente maior do que eu.

Não tinha conversado com ninguém sobre isso. No caso de Cris, foi principalmente pelo fato de ter ficado distante de mim nos últimos dias, na proporção que se aproximava cada vez mais do seu novo grupo de amigos, em que Carolina Ribeiro estava inclusa.

Não sentia ciúmes, porque percebia o quanto ela gostava da presença daquelas pessoas. Era apenas uma pequena pontada de tristeza por pensar em tudo o que tínhamos sido e ver, a cada dia, isso se dissolver um pouco mais feito um castelo de areia levado pela espuma disforme da praia.

Em se tratando de Paulo, eu sabia que ele já percebera que tinha algo errado, porque não parou de me sondar durante a semana, duplicando o número de piadas toscas certamente na intenção de me fazer sorrir e, até mesmo, preparando lanches para mim.

Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Estou Fazendo AquiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora