18: As Cores do Fliperama

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— É bom que isso dê certo

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— É bom que isso dê certo. — entoei as palavras, enquanto acelerava o passo sobre meus tênis para conseguir acompanhar Jader.

O sol taciturno estendia seu manto quente sobre meus cachos espalhados em todas as direções e, enquanto caminhava, sentia as baforadas ardentes do ápice daquela tarde de quarta-feira em Amaré incendiarem meus poros.

O calor, aliado à velocidade em que eu estava andando, começava a transformar minhas costas cobertas pelo tecido da camiseta em uma cachoeira de suor.

— Vai dar, cactozinho. A menos que ele tenha sido abduzido, atropelado ou sofrido um AVC, com certeza vai estar lá. — respondeu, assim que consegui equalizar nosso passos, quase à beira da morte por insuficiência respiratória.

— Será que pode andar mais devagar? — Meu tom foi um arfar exaurido.

Seus olhos claros me fitaram com divertimento.

— Mas a gente não andou nem por dez metros...

— Olha só, eu tô cansada, mas ainda posso te fazer engolir o meu sapato em dois segundos.

Ele riu, e, pouco depois, chegamos em frente ao Fliperama.

Assim que passei pelas duas metades da porta de vidro que separavam o resto do mundo caótico do paraíso de jogos, o cheiro fervente das placas, fontes e transformadores aquecidos dentro dos arcades golpeou minhas narinas, misturados às notas azedas de suor que flutuavam no ar.

Deslizei o olhar por cada uma das máquinas enfileiradas nas paredes, onde alguns adolescentes e crianças de diversas idades berravam gritos de comemoração e fúria, até que minhas orbes encontraram Antônio em uma delas, jogando o clássico Street Fighter II em meio a um pequeno amontoado de outros quatro caras.

Pela expressão desgostosa deles, o garoto era realmente bom e deveria estar lhes dando uma surra.

— Ai, meu Deus. — sussurrei para mim mesma e torci a barra da blusa na metade dos meus joelhos, a textura áspera da bermuda jeans arranhando suavemente meus dedos.

Mirei as feições naturalmente serenas de Jader, procurando enxergar duas boias salva-vidas ali, ao invés de um par de íris castanhas.

— Você sabe o plano. É só ir lá e desafiar ele. — murmurou, oferecendo-me um dos seus sorrisos que, naquele momento, pareceu um chá de camomila. — Cinco partidas. Se você ganhar, tem direito a um encontro. E se ele ganhar...

— Não vai. — afirmei, erguendo uma sobrancelha, um sorriso frouxo pendendo em meus lábios.

Caso ele ganhe, vocês negociam alguma outra coisa. Mas a intenção é que perca, pra acelerar nossa vida.

Então, deu-me as costas, mas antes que começasse a andar na direção oposta, fisguei um dos passantes da sua calça, e a textura do cinto escorregou contra meu indicador assim que dei um pequeno puxão no jeans.

Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Estou Fazendo AquiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora