C A P Í T U L O 05

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    Alguma vez parou e pensou sobre o mundo em que vivemos? Não, o mundo em que nascemos? Seria apenas estudar, crescer, trabalhar e morrer tendo como felicidade um amor, uma viagem de 1 mês considerando que tenhamos dinheiro para tal diversão?

    Alguma vez desejou que as coisas fossem diferentes?

    Talvez… fosse. Talvez os autores de fantasia saibam de algo que a população em geral não saiba. Talvez os produtos de filmes tenham visto algo. Ou talvez fosse apenas a imaginação de quem, no fundo, queira algo diferente.

    Afinal, por que criar? Por que imaginar outro mundo, outro universo se estivéssemos realmente satisfeitos com a realidade nua e crua?

     Mas a vida é assim, cruel e enganosa vivendo em um mundo criado por terceiros que acreditam ter algum direito de nos fazer de fantoche dentro de uma bolha de mentiras. Essa bolha maldita que já existia por séculos…

     Mas vez ou outra, alguém escapa. Basta apenas ver algo que considere anormal. Algo como Arya.

    Um lobisomem. Ouvimos sobre eles em diversas culturas que em sua maioria nunca se encontraram, mas os cientistas nos disseram que era impossível alguém ter tamanha metamorfose em questão de horas. Porém, desde quando as leis criadas por humanos têm que ser obedecidas pela natureza?

    Deve ser porque um livro chamado bíblia criado numa era machista e modificado por séculos tenha mencionado algo sobre uma certa — ridícula — superioridade humana perante aos animais e, ou, natureza. Não que eu lembre detalhadamente sobre essas besteiras.

    Lobisomens existem e por séculos são mais organizados do que as modernas civilizações do século XXI. Há as feras que aterrorizam Ella e aquelas que salvaram Arya e muitas outras.

     Dulce tinha a leve impressão do que aqueles rugidos significavam. A sonoridade podia fazê-la quase imaginar uma fera negra, de olhos vermelhos prensando-a no chão com afiadas conforme arranca sua carne com dentes poderosos.

    Foi o que houve com aqueles homens berrando?

    Dulce tinha que sair daquele lugar e, por tanto, forçou seu corpo para alcançar a espada do viking caído aos seus pés. O corte na bochecha dada pela bofetada de Arya era aparente, contudo, o homem ainda respirava.

    Em algum momento, o caos ocasionado pelo que acontecia na floresta, a correria, os gritos, tudo pararia. Dulce pegou na lâmina.

     Mas o viking ainda segurava em seu cabo com força. A princesa teria que puxar, usar sua força. Assim ela fez e cortou sua mão.

    O sangue escorreu pela palma branca e pingou no chão entre a terra e a neve. Um explosão de odor ácido impregnou o lugar como um jaiser oculto ao olhos. Naquele momento, Dulce atraiu atenção indesejada.

    Na floresta, onde nem ela e nem eles se viam, olhos vermelhos caíram em sua direção. 

    Ela era uma lagarta lenta, boba e sem defesas que virou brinquedinho de ratos e poderia ser morta a qualquer momento. Algo lhe alertava disso e assim, a adrenalina dominou seu corpo. Mesmo que mais sangue fosse arrancado de sua mão, Dulce cortou as cordas de seu pulso e já estava terminando de arrancar as amarras de seu tornozelo quando o viking a sua frente abriu os olhos.

    Ela saltou para longe, mal perdeu tempo em vê-lo gemer de dor e correu para o lado oposto ao de Arya. Correu para a sobrevivência e, sem querer, em direção a outra coisa.

    A criatura vinha rápido, com velocidade, com agilidade e uma potência que mudava o ar ao seu favor. Estava sendo atraído por um ímã de odor, instinto e caos. Sangue, rugidos, sangue, gritos e sangue.

     Pobre Dulce! Ela só tinha que correr. 

    Mas como exigir algo de alguém nas situações dela? Estuprada, esfomeada e amedrontada, ela só seguia seu instinto ligado pelo medo: sobreviver. Não importa para onde ia, ela deveria sair daquele lugar, daquele ambiente e sumir em meio a mata cheia de lobisomens.

     Mas os vikings saíram atrás dela, com arcos e machados, com gritaria e caos. Dulce era uma lagarta, lenta, boba e machucada e duas raças não queriam que ela saísse daquele lugar com vida.

    O arco entrou em posição atrás da lagarta boba e lenta que não deveria sair viva. Lobisomens lhe aguardavam mais a frente, ocultos em meio aos arbustos numa armadilha que ela não poderia sobreviver.

     Então a flecha mirou nas costas nuas e sujas da humana que mancava desesperadamente em direção a morte; lenta, boba e machucada. Sua genitália ardia e provavelmente sangrava, talvez mais do que suas mãos.

    As garras rasparam silenciosamente a neve quando Dulce chegou a dez metros dos grandes lobos. Eles se prepararam.

    E a flecha foi atirada; E um estrondo partiu os céus. Um buraco formou-se nas nuvens e algo caiu como um raio.

    A flecha terminou seu curso, mas não acertou seu alvo. Dulce caiu e viu a morte que lhe aguardava quando três castanhos lobos gigantescos saltaram em sua direção.

    Então grandes asas foram abertas e chocaram-se com violência contra os lhycans. As grandes bestas dominantes no topo da cadeia alimentar foram jogadas vários e vários metros no ar, quebrando galhos e partindo uma árvore ao meio.

    O ar ficou quente, a neve derreteu rapidamente e Dulce só conseguiu ver os olhos vermelhos antes de ser agarrada e levada para os céus e perder complementarmente a consciência.

     No chão, um estrondo marcou a queda da árvore. Esmagados, com os vikings, morria a certeza de que a flecha havia atingido uma cabeça.

Anjo SombrioWhere stories live. Discover now