C A P Í T U L O 04

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     O que nós realmente sabemos sobre o mundo em que nascemos? Apenas o que terceiros nos disseram. O governo forma uma bolha ao redor de nós, meros números a serem manipulados através de religião, leis e ignorância.

    É assim que a idade média mantinha seu domínio. Eles sabiam o que estava por trás da bolha que criaram, as criaturas que viviam e caçavam. Eles eram lindos, o sonho do paraíso mas também perigosos. Era como um belo e elegante gato sendo um demônio para um rato. Então eles chamaram essas criaturas de "sobrenaturais" como se a existência deles não fosse natural e as dos humanos, sim.

    O rato estava tentando parecer menos inferior a um gato. O sobrenatural passou a serem conhecidos como ruim e histórias foram criadas… tudo era uma espécie ou tipo de demônio que o tiraria do caminho de Deus e, por tanto, você poderia ser condenado no "julgamento final".

    Eu não concordo. Isso foi o humano recusando-se a conhecer seu lugar no esgoto da cadeia alimentar. Essa é a bolha de corrupção, orgulho e egoísmo.

    Então quem realmente é o sobrenatural?

    Eles são tão naturais quanto a árvore, as folhas, a grama, a cor e tão surreal quanto a existência do universo. As leis da física foram criadas com base na interpretação humana e, nem por isso, eles são obrigados a segui-las. Como explicar a mudança de forma? A velocidade, a força e todos os sentidos aguçados num nível muito além da compreensão?

    "Eles não são naturais! São sobrenaturais" provavelmente diria os homens de qualquer século, principalmente no IX. Ou… os humanos são patéticos demais em comparação a criaturas que existem nesse mundo muito antes do primeiro macaco virar humano.

     O povo de Arya é uma dessas criaturas. Com milhares de anos vivos, evoluindo, aprendendo e criando suas próprias leis, costumes e hierarquia. Tudo nela era a imagem viva do que ela era.

    Aquela beleza predatória, o próprio formato perfeito e delicado do seu rosto pálido tinha total contraste com os cabelos negros como o carvão. Seu lábios não eram tão grandes quanto os de Ella e nem medianamente finos como os de Dulce. Eles eram perfeitos no tamanho certo e na forma apropriada. O que eram grandes e motivos de admiração eram aqueles olhos, no momento, fechados. Os cílios pretos realçavam o contorno natural e destacavam a íris intensa toda vez que a mulher acordava.

    Porém, Arya estava fraca. Abaixo de seu umbigo havia um profundo ferimento feito por um corte que quase arrancou o útero. E a mulher não deixava ninguém sequer limpar. Rosnava e lembrava a fera que escondia por trás da farsa de beleza.

    Seu povo estava nas histórias vikings? O que será que eles pensavam sobre? Como agir?

    A mulher estava fraca, tão debilitada pelas correntes o ferimento e a fadiga que mal se mantinha acordada. No entanto, seus instintos estavam sempre em alerta máximo pregando pela sua sobrevivência. Desde de que nada mudasse em sua ambiente, Arya adormecia com a visão dos olhos avermelhados.

     Olhos tão similares em sua intensidade como os que Dulce via ao ser, a cada nova noite, estuprada. Um olhar de paz, de poder e grandeza muito mais significativo do que imaginava.

    Quando a escuridão olhava de volta, alguém mais as observava.

    Não se sabe ao certo porque aquele grupo viking escolheu aquela área como acampamento. Talvez pela eficácia na camuflagem, porém quanto mais tempo se passava, mais o perigo se aproximava.

    Eles não faziam ideia do que estavam prendendo e de quem estavam estuprando. Violentando? A cultura nórdica não diz que os vikings são mais fiéis às suas mulheres?

Anjo SombrioWhere stories live. Discover now