Capítulo 11

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  Dormi só por umas 4 horas, não conseguia pegar no sono. Estava preocupada demais e meus pensamentos giravam eu torno de um milhão de perguntas para conseguir pensar em dormir. Qual seria de fato o plano dessa gangue? O que eles vão fazer com os reféns? Alguns de nós vão morrer mesmo? Por que Finn ainda não tinha me matado? O que ele planejava? O que a polícia estaria fazendo? O que minha família estaria fazendo agora? Será que eles pensam que eu estou morta?
  Devo ter ficado umas 3 horas olhando para o teto do saguão tentando juntar as peças desse gigante quebra-cabeça, mas não consegui juntar nada. Nada faz sentido. Cheguei a conclusão de que tentar entender o que passava na cabeça da polícia e dos criminosos seria perda de tempo.

  Fui acordada pelo barulho das pessoas. Algumas já tinham acordado e estavam conversando. Sophie já estava sentada no seu saco de dormir e olhava para os lados, parecia preocupada.
-Bom dia- falei entre bocejos.
-Bom dia.
-Está tudo bem?
-Sim sim, só estou um pouco preocupada com a situação.
-Vai acabar logo, eu juro.

  Antes dela responder, fomos interrompidas pelos gritos de um dos assaltantes que começava a dar ordens. Depois que levantamos e depois que todos já tinham comido alguma coisa (de novo, da lanchonete), voltamos a ficar parados no saguão igual ao dia anterior. Mas dessa vez, era diferente. Ontem estávamos parados ali vendo 20 homens parados sem mexer um músculo e sem ouvir uma palavra. Hoje de manhã, poucos criminosos estavam responsáveis por cuidar dos reféns, outros carregavam armas e mochilas para todo o canto. Metralhadoras foram colocadas de frente para os portões, caso a polícia atirasse de novo. Alguns assaltantes estavam espalhados pelo museu, como se fizessem rondas para se certificar que a polícia não estava entrando por outro lado do prédio. Por mais que agora tudo estivesse mais movimentado, não parecia nada com uma confusão. Eles pareciam estar se organizando para alguma coisa que ninguém sabe o que é.

  Nove ainda ficava do nosso lado me monitorando. Ele não falava absolutamente nada, sua função era só se certificar de que eu não iria contar para alguém sobre Finn e Luke.

  De repente, Luke desceu as escadas e entrou no saguão praticamente marchando. Ele mancava com pouco por causa do tiro de ontem, mas parecia nem se importar. Sabia que era ele por que aprendi a reconhecer cada um pelas roupas que usavam. A diferença é que o Finn e o Luke eram os únicos que eu sabia os nomes. Ele parou no meio dos reféns e começou a olhar para todos, como se estivesse procurando alguém. Quando me viu, parou e me encarou por alguns segundos, como se estivesse surpreso por eu estar ali, e depois voltou a procurar quem quer que seja. Assim que encarou a garota que ontem havia sido baleada no braço, disse:
-Você, criança, qual seu nome?
-Ah... Hm... É, Zoe.- Ela tremia de pavor ao ver o criminoso armado chamá-la.
-Venha comigo.
-Não! O que vão fazer com ela?- a mãe de Zoe exclamou.
-Libertá-la. Vamos, garota!

  Zoe se levantou e correu até ele assustada. A mãe dela gritou mais alguns pedidos de piedade e depois que Luke puxou Zoe pelo braço (sorte que não era o machucado) para fora do saguão e saiu do nosso campo de vista, ela se enconlheu num canto e desatou a chorar. Sophie se levantou e foi até ela para tentar conversar e ajudá-la. Eu pensei em ir também, mas preferi ficar no meu lugar. Fiquei seriamente preocupada com o que fariam com Zoe. Libertá-la? Uma parte de mim não acreditava que isso era verdade.
  Todos os civis passaram alguns instantes surpresos com o que tinha acabado de acontecer. Ficamos ali por mais uma hora que parecia interminável. Ficaríamos assim, presos sem nada para fazer por provavelmente mais um dia. Que ódio.

  O silêncio angustiante do saguão foi substituído com um criminoso que vinha de outra sala, que eu acho que era um escritório ou coisa assim, e sussurrou alguma coisa para Nove. Depois, Nove se virou para mim.
-Ah não, o chefe quer falar comigo de novo?- perguntei. Cruzei os dedos torcendo para a resposta ser não.
-Mais ou menos. Ele também. Mas agora Dois quer resolver algumas coisas com você.
-Quem?
-Dois. Venha comigo.
   Quem é o Dois? E o que ele quer resolver comigo?

   Me levantei e Nove me levou para um escritório pequeno, mas que as mesas estavam cheias de armas em cima. Senti um nó no estômago de ver tantas armas assim. Eles iam fazer um massacre, só podia. Ele fechou a porta e dentro da sala tinha duas pessoas.
-Ah, vocês de novo.
-Calada- Luke disse enquanto ele e Finn tiravam as máscaras.

-Por que mandou chamá-la? Você sabe que estamos cheios de coisas para resolver e planos para seguir, então seja lá o que você quer falar com ela, seja rápido.- Finn disse com calma.
-Então você é o tal "Dois"?- falei apontando para Luke.
-Eu mandei você ficar calada.- essa resposta foi tudo que precisei para entender que eu ainda era uma refém detestável e ficar quieta. Luke estava tão estressado que fiquei com medo dele atirar em mim a qualquer segundo.

-Por que ela ainda está viva?- ele perguntou se voltando para Finn.
-Por que eu ainda não mandei matá-la. Simples.
-Ela pode nos identificar para a polícia! Você mesmo disse que era só esperar a polícia entrar e a mataríamos. Achei que você já tinha feito isso, como sempre!
  Como sempre? Quantas pessoas Finn já teria tirado a vida? Essa revelação me fez me sentir paralisada de novo e meu coração congelou.

-Eu quase MORRI ontem e você ainda não matou ela?- ele continuou.
-Luke, querido irmão, talvez ontem você não tenha prestado atenção no que aconteceu a sua volta por causa da confusão, mas ela salvou sua vida. Como eu já disse a ela, mas ela não acredita em mim, nós íamos perceber a gravidade da sua situação por que estamos preparados. Ela percebeu antes de nós.
-E daí? Isso não muda o fato dela ser um risco para nós!
-Eu sei, eu sei. Mas acho que vai ser interessante tê-la viva aqui por mais um tempinho. Quando formos fugir, aí nos livramos dela. Mas olhe só, vê-la assustada e confusa com tudo isso por nos conhecer é engraçado.

-O que? Você está falando isso mesmo? Está achando engraçado meu desespero? Se quer se livrar de mim se livre agora e me poupe de horas de pânico. Como você pode gozar da minha situação? Você é um piscicopata!- falei. Tive que falar. Meu medo só aumentou ao ouvir Finn falar aquilo, então precisei intrometer a discussão deles.
-Não falei?- Finn riu e olhou para Luke.
-Não acredito- revirei os olhos ao ver que meus protestos só fizeram a situação ficar mais cômica para ele.

-Então não vamos matá-la?- Luke perguntou surpreso com a situação.
-Ainda não. Aliás, deixe de ser mal educado e agradeça a ela. Você poderia estar bem pior da perna agora se não fosse por ela.
-Ele estaria morto. Pare de fingir que sua equipe perfeita ia perceber tudo quando nós dois sabemos que não.
-Está bem, espertinha. Parabéns, você ganhou a discussão. Agora, Luke volte ao que estava fazendo e você, volte ao saguão. Tenho coisas para resolver.

-Zoe está bem?- falei antes que Luke me empurrasse para fora da sala.
-Quem? Ah, a criança. Sim, ela está. Entregamos ela para a polícia para provar que eles machuram uma refém ontem quando atiraram. Agora que eles viram que realmente machucaram reféns, talvez nos deixem em paz.
-Era essa garota aqui que devíamos ter entregue a polícia, e morta.- Luke rebateu com os olhos fervendo de ódio e apontando para mim.
-E é você que eu vou entregar para a polícia se não calar a boca, voltar ao trabalho e deixá-la em paz. Vão.- Finn respondeu no ato. Eu e ele nos olhamos rapidamente, eu claramente espantada com tudo que tinha acabado de acontecer naquela sala.

  Luke olhou para mim depois que saímos e disse:
-Você, em silêncio. Lembre-se disso.
-Sim, eu sei.- respondi olhando para o chão e seguindo de volta para o saguão.
  Me sentei no meu canto e fiquei ali repassando tudo que tinha acontecido. Então Finn era um assassino de verdade? Eu estava tão confusa com o fato de Luke estar doido para me matar e Finn estar achando meu desespero engraçado. Finn parecia tão relaxado diante de tudo isso.

  O que eu não sabia era que faltava poucos minutos para toda a paz do saguão ir por água abaixo.

A refém (Finn Wolfhard)حيث تعيش القصص. اكتشف الآن