Capítulo 16

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  Eu não tinha como saber que horas eram, mas pensando em tudo que já havia acontecido em um único dia, com certeza já passava do meio dia. Depois que Finn deixou aquelas coisas para mim, consegui dormir um pouco. Não muito, mas o suficiente para recuperar um pouco de energia. Eu estava exausta depois de tudo isso. Quando acordei, bebi um pouco da água que tinha e me encostei na parede de novo. Eu estava com fome e preocupada com tudo. Até então, não tinha me dado conta da gravidade da minha situação. Já sabia que a gangue queria me matar e Finn estava tentando evitar, mas então uma porção de dúvidas e medos chegaram até mim de repente: e se algum assaltante me encontrasse aqui? Eu morreria? Será que tem muitas chances de eu realmente ser encontrada? E se alguém lá embaixo já desconfia que eu estou viva? E se eu fizesse algum barulho ou alguma besteira qualquer sem querer que acabasse me entregando? Se descobrissem que eu estou viva, além de mim, Finn também teria graves problemas? E se matassem nós dois?

  Então, uma outra preocupação apareceu, dessa vez sendo bem mais importante que as demais: quem exatamente sabia que eu estava morta? Finn só disse que Lucy e Sophie choraram ao saber, mas será que a gangue contou a polícia? Provavelmente, se tiverem contado, minha família estaria em pânico. Não queria que eles pensassem que eu havia morrido, e me deixava extremamente triste apenas imaginar Millie, minha mãe e meu pai, todos pensando que eu tinha morrido. Não queria que eles sofressem e passassem por isso, mas infelizmente eu não podia fazer nada a respeito. Saber que realmente não posso fazer nada para ajudar as pessoas e fazê-las se acalmarem me deixou numa mistura de raiva e tristeza, mas não posso me sentir assim. Eu ainda estou viva, e agora me sinto literalmente dentro de um enorme e complicado jogo para sobreviver.

  Devo ter dormido por mais ou menos uma hora, e fiquei alguns minutos entediada naquela sala. Uns 40 minutos depois de eu ter acordado e estar sentada contra a parede, ouvi baterem na porta. Meu coração pulou para a garganta com o medo de ser outro assaltante e eu ser descoberta. Dessa vez, a batida foi mais calma, a pessoa não parecia estar com pressa como Finn estava na última vez que entrou.
-Ei, sou eu.- ele disse.
  Abri e ele entrou carregando uma sacola.

-Dessa vez não estou com tanta pressa. Esse é praticamente o meu horário para "descanso", então todos acham que fui dormir. Você gosta de pão de queijo?
  Fiz que sim com a cabeça e ele me entregou a sacola. Dentro havia um pacote com minis pães de queijo, e eu larguei a sacola na mesa e me agarrei ao pacote menor.
-Você está bem? Parece estressada.
-Nervosa, sim- eu falava enquanto mastigava- fiquei com receio de alguém me achar aqui.
-Se alguém bater na porta, é só não fazer barulho. Tente fingir que não tem ninguém aqui dentro, e provavelmente vão embora. Se desconfiarem de qualquer coisa eles vão me falar primeiro mesmo, então só mantenha a porta trancada.

-Está bem. Quer um?- estendi o pacote na direção dele.
-Não, obrigado. Eu já comi, e você parece realmente com fome.- ele disse rindo da situação.
-É, talvez.- ri também.- posso perguntar uma coisa?
-Se for sobre um assunto que eu puder responder.
-Minha família também acha que eu estou morta?
-Sua família?- ele me olhou surpreso, como se esperasse que eu perguntasse qualquer outra coisa- eu não sei. Quer dizer, fizemos contato com o tal delegado de novo, ele fez um turbilhão de perguntas e enfim eu disse que havíamos matado você. Eu precisei. Nós precisávamos. Era o único jeito de controlar a polícia. Provavelmente sua família ficou sabendo um pouco depois.

-Ah.
-Vai ficar tudo bem, logo você estará em casa.
-Que bom.- falei com uma expressão sem graça.
-Você parece querer perguntar mais coisas.- ele disse sorrindo.
-Sim, mas coisas que você não pode me dizer.
-Tipo o que?- ele falou com um ar de curiosidade.
-Tipo como você estava envolvido no sequestro de Bonnie.- lancei.
  Ele soltou um sorrisinho leve e me olhou como se estivesse admirado, depois começou a procurar as palavras certas para falar:
-Se eu contar tudo para você, vai acabar sabendo demais. Resumindo, ela está bem e não está sendo maltratada, e quando tudo isso acabar vamos soltá-la.

A refém (Finn Wolfhard)Where stories live. Discover now