Capítulo 31

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  Não demorou muito para a algazarra estar completa. A única coisa que eu pensava era que ele tinha conseguido. A gangue fugiu, era tudo o que eu conseguia pensar. Depois que trouxeram a notícia de que Bonnie foi encontrada, Gregory fez algumas ligações e não vi mais ninguém falar sobre isso. Em poucos minutos, uma multidão de civis e repórteres tomou conta do lado de fora do museu. Parecia até que Jesus Cristo iria surgir das portas caminhando ou que outra coisa desse nível pudesse acontecer a qualquer momento. Pessoas berravam ou choravam enquanto equipes de no mínimo 30 jornais diferentes perambulavam de um lado para o outro, tentando gritar mais alto que o resto da multidão, filmando o museu ou entrevistando algum refém ou qualquer ser vivo que cruzasse seu caminho. O FBI também estava lá, conversando com pessoas feridas do último e pior tiroteio de todos e policiais entravam e saiam do museu freneticamente, tirando os corpos dos mortos e examinando qualquer gota de água que encontrassem dentro do museu. Alexandre fez mais ou menos umas 20 ligações diferentes no telefone, gritou com uns 15 policiais e acalmou umas 40 pessoas histéricas, mas quem estava mais histérico era ele. O cara suava e não conseguia parar de andar por um segundo. Não sei se esse estresse era por causa da confusão que estava acontecendo ou por causa de Lucy. Bem, provável que fosse tudo junto.

  Quando finalmente Alexandre conseguiu recuperar a consciência, caminhou até Zoe, que estava sentada ao lado de uma mulher que, pelo que ouvi, era tia dela. Enfim, ele se ajoelhou para ficar na altura da filha e falou alguma coisa enquanto seus olhos lacrimejavam. Assim que ele terminou a frase, Zoe deu um grito assutado e desabou a chorar no colo da tia. Ele havia contado que a mãe dela estava morta.

  Poucos minutos se passaram até que minha família entrou na tenda. Ou melhor, praticamente arrombando e rasgando o plástico que era usado como porta. Me levantei num salto e um sorriso tomou conta do meu rosto. Millie chegou até mim em literalmente um único passo, e me envolveu num abraço apertado enquanto chorava e sorria ao mesmo tempo. Devolvi o abraço e percebi que ela estava tremendo. Vê-la naquele estado de pânico me fez ter muita pena dela. Eu amava minha irmã e não queria que ela se sentisse assim. Não fiz questão de soltá-la antes que ela fizesse isso. Enquanto isso, levantei o olhar. Lá estava meu pai, atrás de Millie, com os olhos encharcados e um sorriso leve no rosto. Assim que Mills fez menção de me soltar e antes que eu pudesse soltá-la completamente e olhar no seu rosto, meu pai me envolveu em outro abraço apertado e desesperado. Ele chorava ainda mais que Mills, e eu deitei minha cabeça em seu ombro. Depois de alguns segundos, quando nos soltamos, veio minha mãe. Nem sei como não travei naquele momento. Não conseguia olhar no seu rosto sem lembrar daquela página com seu nome. Sem lembrar da aliança que ainda não sei como foi parar lá naquela sala.

  Lembro que quando descobri que ela estava envolvida, uma das minhas preocupações era que ela talvez tivesse me deixado lá no assalto de propósito, como se quisesse que eu passasse por aquilo, por que ela saiu bem na hora. Não sei se essa teoria está certa, mas depois de ver a expressão no rosto dela, tive quase certeza que sim.

  Meu pai e Millie tinham me abraçado com força e não pararam de chorar até agora. Millie soluçava e meu pai não sabia se se entregava às lágrimas ou se sorria de felicidade ao me ver viva e bem, mas minha mãe... Estava calma demais. Sei que existem pessoas que são mais calmas e tranquilas, mas ela tinha passado dias com a filha sendo refém de um assalto, e teoricamente eu fui morta. Todos pensavam que eu morri e agora descobriram que não. É motivo suficiente para se emocionar, não é?

  Mas ela apenas me abraçou. Seu abraço não era desesperado, era como se eu tivesse voltado de uma viagem normal. Ela estava chorando, mas não como alguém que acabou de descobrir que a filha estava viva.

  Lembrei que ela não sabia que eu sabia de tudo, então tinha que fingir estar normal.

-Graças a Deus! Graças a Deus! Ai meu Deus! Você está bem! Ai meu Deus, meu Deus! Eu não sabia como iria superar sua morte... O que eles fizeram com você? Te machucaram? Está com fome? Trouxe até um sanduíche que peguei correndo na cozinha antes de virmos! Meu Deus! Senti tanto a sua falta! É sério! Eu te amo sabia?! Pelo amor de Deus, fale alguma coisa!- Millie disse aos berros.
-Ei, calma! Respira um pouco, por favor! Eu estou bem, eles não fizeram nada comigo. Pelo o que entendi, só fingiram ter me matado para a polícia não entrar. Também te amo, sua doida!
-Ah, filha... Graças a Deus! Eu estou tão feliz de ver você aqui e bem!- meu pai falou assim que recuperou o fôlego.
-Também estou feliz em ver vocês, pai.
-Você está bem mesmo? Tem certeza? Contou tudo ao delegado? O que aconteceu antes de chegarmos?- minha mãe disse, quase que me interrogando.
-Quase não falei com ninguém ainda.


  Nesse instante, Claire e Steve entraram na tenda. Primeiro, vieram até mim e me abraçaram, quase que ao mesmo tempo.
-Ah, querida! Que bom que está bem!- Claire disse.
-Ficamos tão felizes de saber que você está viva e bem!- Steve completou.
-Ah, Gregory! Por favor, me diga que tem notícias da minha filha! Viemos o mais rápido que pudemos!

  Lembrei também que durante todo esse tempo Bonnie continuou desaparecida, e agora finalmente voltaria para casa.
-Sim, Claire. Ela foi encontrada, e uma viatura está trazendo ela para cá nesse exato momento.

  Ao ouvir isso, Claire e Steve se abraçaram e choraram. Parecia cena de filme. Todos emocionados e chorando por algum motivo diferente.
  Millie me puxou para um canto enquanto os adultos falavam feito loucos.

-Como você sobreviveu?
-Ah, eles nos davam água e comida e sacos de dormir. Foi angustiante, admito. Quando tinha algum tiroteio, era desesperador. Mas enfim, estou bem, não é?
-E eu estou tão feliz por isso! Bem, sei lá, vou tentar mudar o foco do assunto... Como você viu, acabaram de achar Bonnie.
-Que bom!
-Pois é! Ah! E Luke e Finn trocaram de escola.

  Foi aí que me dei conta de que ninguém fazia ideia de que eles eram criminosos. Tinha que fingir surpresa.
-Sério? Por quê?
-Não sei, mas no dia seguinte ao primeiro dia do assalto eles já não foram mais as aulas e a professora disse que foram transferidos. Tentei mandar mensagens, mas não responderam. Estranho, eu acho.
-Verdade, bem estranho...

  Meu pai surgiu do meu lado e fez mais e mais perguntas. Depois, tia Claire também veio conversar. Enfim, Gregory anunciou que Bonnie havia chegado. Todos estávamos indo até a rua para recebê-la, quando minha mãe me puxou pelo braço com força e disse, aos sussurros:

-Não se faça de besta. Sei que você sabe de tudo. Se falar algo para Brandon ou Millie, vai se arrepender. E, se acha que o moleque de cabelo preto salvou sua vida por livre e espontânea vontade, está errada. Ele só estava seguindo ordens. As minhas ordens.

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⏰ Last updated: Sep 13, 2021 ⏰

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A refém (Finn Wolfhard)Where stories live. Discover now