Capítulo 14

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  Ficamos ali, sentados no estacionamento por mais um tempo, alguns poucos minutos. Não demorou muito para que nos levassem de volta ao saguão. Mas agora, a confusão era total: com o saguão praticamente caindo aos pedaços, a gangue tinha que dar um jeito de impedir que a polícia entrasse. Pelo menos era isso eu pensava que eles teriam que fazer. Mas na verdade, apesar de algumas pessoas estarem em crises de pânico e crianças berrarem, os criminosos estavam calmos. Me surpreendi com isso. Uma parte da parede onde ficava uma janela tinha sido quebrada. O estrago era um buraco pequeno, mas uma pessoa encolhida passava ali. Esperei que logo a polícia entrasse, mas nada aconteceu. Os criminosos corriam de um lado para o outro reorganizando o lugar, e dois deles colocaram metralhadoras apontadas para o buraco na parede, caso a polícia entrasse. Os reféns se amontoaram, todos encostados na mesma parede ao lado da escadaria. Lucy me olhou, angustiada:

-O que será que está impedindo a polícia de entrar?- ela sussurrou.
-Não faço a mínima ideia.- respondi.
  Então me lembrei da conversa que tinha tido com Finn. Ele tinha dito que não foram os policiais que jogaram as bombas. Será que tudo isso fazia parte do plano? Será que a gangue realmente tem mais estratégias e mais controle sob a situação do que parece?

  Os assaltantes começaram a gritar ordens entre si. Dois criminosos desceram as escadas e entraram no saguão. Ouvi um deles dizer que já tinham revisado todo o museu e não tinha mais nenhum refém fora do saguão, e o outro gritou de volta dizendo que nenhum havia saído do prédio também. Depois de os dois confirmarem nas suas mentes que realmente todos os reféns estavam no saguão, voltaram para um escritório, provavelmente para verem o que deveriam fazer agora. Quatro membros da gangue estavam ao redor dos civis, com suas máscaras e fuzis, apenas se certificando de que não íamos sair dali. Ouvi uma voz, parecia de um homem, sussurrar no meio da multidão:
-Que bom que todos os reféns estão bem.

  Outra voz que eu não consegui entender de quem poderia ser concordou e falou mais alguma coisa, e foi nesse momento que me lembrei: Sophie. Me levantei do chão e olhei para todas as pessoas, procurando-a. Algumas crianças me encararam, como se quisessem adivinhar que tipo de besteira eu estava fazendo. Quando percebi que ela realmente não estava aqui, me aproximei de um dos criminosos e ele disse, antes de eu poder abrir a boca:
-Vá para o seu lugar. Não me obrigue a usar a violência.
   Uau. Que gentil.

-Não quero confusão, já vou voltar para meu lugar. Mas uma idosa refém, o nome dela é Sophie, não voltou.
-Já revisaram todo o prédio. Chega de blá blá blá.
-Então não revisaram direito, ou ela saiu.
-Me dê um motivo para você querer tanto saber que merda aconteceu com ela.- ele estava irritado. Quis me afastar, já com medo, mas minha preocupação com ela era maior. É, parece que nem todos dessa gangue são calmos e amigáveis quanto Finn.
-Ela... Ela é... Minha avó.- menti.
-Você tem pais?
-Ah, tenho.- olhei para ele confusa.
-Parabéns, então não vai ficar órfã. Dane-se sua avó garota. Não tenho porque me preocupar com ela. Pro seu lugar, agora.- ele disse com a voz firme.

  Voltei para meu lugar. Eu que não ia discutir com ele. Esse assaltante parecia ao ponto de explodir minha cabeça de raiva. Lucy me olhou por um instante, mas eu não consegui entender o que ela tentava me dizer. Eu precisava descobrir o que aconteceu com Sophie. Olhei para os lados, tinha uma porta que dava para os corredores a uns 10 metros de mim. Provavelmente ela não subiu as escadas, ela mesma disse uma vez que tinha dificuldade para correr. Subir escadas só dificultaria para ela. Aquela porta dava para mais algumas salas, uma biblioteca pequena e um banheiro. Se eu corresse em silêncio, talvez nenhum assaltante me visse, e eu poderia correr pelo corredor e procurá-la.

  Foi o que eu fiz. Talvez eu tenha feito sem pensar na quantidade de consequências que isso poderia trazer para mim, mas fiz. Me levantei em silêncio olhando para o chão, fingi amarrar um cadarço para disfarçar, olhei rapidamente para os criminosos para me certificar que eles não estavam me vendo e corri até a porta. Assim que a cruzei, corri pelo corredor, que por sorte não tinha nenhum assaltante, entrando em todas as portas e procurando qualquer pista de que alguma pessoa estivesse dentro da sala. Tudo fazendo o mínimo de barulho possível, e tentando ser rápida. Depois de olhar três salas sem ninguém dentro e correr em direção a biblioteca, ouvi um grito vindo de trás de mim:
-Ei! Você! Parada! Agora!

  Ouvi mais passos. Pronto, já estavam correndo atrás de mim. Voei pelo corredor e entrei na biblioteca, quase arrombando a porta, e assim que entrei tranquei a porta. Três segundos depois já tinha um garoto socando a porta me mandando abrir, e depois começou a chamar mais gente. Eu tinha que ser mais rápida.
  Corri pela biblioteca e ouvi algo que parecia ser alguém chorando, vindo do último corredor. Fui até lá, e Sophie estava encolhida contra a parede choramingando.
-Ah! Você está bem!- eu disse, antes de correr até ela.
-S/N? O que faz aqui? Eu estava com medo de sair.
-Está tudo bem, eu...

  Não consegui terminar a frase. A porta da biblioteca foi arrombada a tiros, e uns três assaltantes entraram. Um me agarrou pelas costas e outro puxou meus pulsos para trás do meu corpo, e os dois praticamente me arrastaram para fora. Tentei me debater, mas tudo em vão. Eu não tinha força suficiente. O último garoto começou a falar um monte de ordens para Sophie. Alguns reféns falavam alguma coisa, e quando me dei conta do que estava acontecendo, fui arremessada para dentro de uma sala e trancaram a porta. Era o mesmo escritório de todas as vezes que tinha conversado com Finn e Luke. Acho que esse já era o escritório de Finn, pelo jeito. Enquanto eu me levantava do chão depois do tombo, ouvi alguém bater a mão contra a mesa atrás de mim.
-O que você pensava que estava fazendo?- Finn estava com os olhos transbordando de raiva e com sua máscara nas mãos.

-Procurando Sophie. Não tinham encontrado ela, esqueceram de olhar naquele corredor. Ela é gentil, me fez companhia.
  Finn abaixou a cabeça e passou a mão no cabelo, aparentemente estressado.
-Pelo amor de Deus, é pedir muito para você não se meter no assalto?
-Ah, desculpe "chefe",- falei, dessa vez já em pé e com sarcasmo- perdão por salvar a vida do seu irmão e depois ajudar você!
-Garota, quando você vai entender que não é para se meter no crime? Agora, além de Luke, depois desse seu escândalo, todos vão querer matar você. Vou ficar sem desculpas para não fazer isso.
-E o que você esperava? Que eu ficasse de braços cruzados e cabeça baixa durante todo o assalto? Como se eu não estivesse estressada o suficiente para não conseguir me acalmar!
-Com um fuzil apontando para sua cabeça, eu esperava que sim. Todos os outros reféns fizeram isso. E pare de drama, o seu maior estresse agora é medo de morrer.

-Eu já entrei nesse museu estressada ontem.
-Ah é, e por quê?- dava para perceber o deboche no seu tom de voz.
-Olha aqui, eu não sei se você se lembra, mas nos últimos dias você ainda era nosso amigo. Minha vida já estava uma catástrofe antes, com minhas notas péssimas e Bonnie desaparecida! Agora eu estou no meio dessa confusão! Meu Deus, Bonnie já deve estar até morta.
-Ela está bem. A polícia não vai encontrá-la, mas ela está bem.- ele disse com calma.
Paralisei.
-Finn... Como você sabe?
-Estou envolvido em bem mais coisa do que você imagina. Mas não se preocupe, você já sabe que não sou um assassino.

-Como se sua palavra fosse de confiança.- rebati.
-Queria que você tivesse um pouco mais de confiança em mim.
-E por quê?
-Porque sua vida depende da ordem que eu der.- ele sorriu ao dizer isso.
-Ah, sim, a cereja do bolo para o caos total.
-Ei, eu não sou o imbecil que você acha que eu sou.
-Uau.

-Tenho um plano.- ele disse, olhando para o teto.
-Para que?
-Para salvar a sua vida.. E também para você confiar em mim tanto quanto eu queria que confiasse.
-Não sei se quero isso.
-Logo vai querer. Eu posso ser legal quando quero.
-Você fez isso semana passada inteira, e no final descobri que era só manipulação para não descobrirmos que vocês eram criminosos.
-Nossa, você está com raiva mesmo. Não se preocupe, eu sou uma pessoa bem melhor do que parece, e não é manipulação. Talvez você goste de conhecer esse outro lado meu.

  Bufei. Era só o que me faltava, ser amiguinha do líder da gangue. Porém, analisando a situação, eu não tinha outra opção.

A refém (Finn Wolfhard)Onde histórias criam vida. Descubra agora