DEZESSEIS [ANOS]

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— Coice de cavalo é a madrinha que você não tem! — ela retrucou, desviando o olhar pra qualquer canto dali, menos para o garoto apoiado no balcão ao seu lado.

Me aproximo, ficando na frente dos dois, sem ânimo ou paciência pra a atração física e emocional reprimida entre os dois nos últimos dezesseis anos, que é algo notável ali.

— Não comecem, tá legal? — solto, impaciente — Apenas se resolvam, já está mais que na hora pra isso. Façam esse favor a todo mundo.

— É o que vim fazer. — Mona pulou do balcão, se pondo de pé, o queixo empinado, os olhos penetrando os dele — Mas não significa que acabaremos juntos.

James deu um passo firme a sua frente, diminuindo um pouco a distância entre os dois. Seu sorriso se amenizou em seu rosto e ele, em um momento surrealmente raro, ficou sério.

— Você continua linda.

Mona empalideceu e o sorriso atrevido de James voltou quase como se nunca tivesse saído dali, daqueles lábios razoavelmente finos e avermelhados.

— Seu idiota. — retrucou, desviando o olhar — Burrice a minha ter acreditado que você havia mudado, que havia amadurecido. Você continua o mesmo adolescente inconsequente do colegial.

James revirou os olhos.

— Não fui eu que simplesmente brotou em Nova York do nada a me procurar e me deixou sozinho naquele quarto de hotel. — jogou, com mágoa na voz enraivecida — Sem contar que todos esses anos, você andou fugindo de mim como se eu fosse uma aberração. O inconsequente sou eu?

— Eu fiz uma promessa a mim mesma naquela época que nunca mais veria você! — rebateu, as narinas um pouco dilatadas e certa dor na voz. Ela estava prestes a chorar.

— Tá. — cruzou os braços — Quem fez essa promessa? A Mona de dezesseis anos? Você diz que eu continuo o mesmo inconsequente do colegial, mas é você que ainda cumpre a promessa da uma versão sua adolescente de colegial. Acha que amadureceu mais do eu?

Ela abriu a boca, mas nada saiu.

Ele está certo. Não podem seguir em frente sem esquecer as merdas do seu passado, e pode até ter sido difícil ter que apagar tudo de mal que fizeram um ao outro naquela época de uma hora pra outra, mas já se passou tanto tempo. Aposto que conseguem deixar de lado aquela fase ruim depois de dezesseis anos.

— Tem razão. — me surpreendi quando ela diz isso. James também se  surpreendeu, e acho que até ela mesma também o fez — Éramos tão jovens...

Sua voz mudou, em um tom rouco e sério. Os azuis brilhantes e penetrantes de Monalisa voltaram a encarar os castanhos de James, e ele não estava preparado para ver aquelas safiras familiares tão de perto.

Vejo seu olhar falhar ao observá-la.

— Me desculpe por ter jogado todas aquelas merdas na sua cara. — começou, se endireitando a sua frente — E por ter que me embriagar para tomar coragem pra terminar com você naquela festa.

Os nódulos dos dedos de Mona estão brancos do tanto que ela os tensiona em seu punho. Posso sentir suas unhas cravando a pele da suas próprias palmas.

— Acho que deveria ter dito isso há muitos anos atrás, e tive a chance antes de você ir pra faculdade e outra quando te procurei em Nova York, mas éramos dois inconsequentes fugindo das responsabilidades e fingindo estar tudo bem quando não está.

Ela ia dizer mais coisas, mas o abraço que James a envolveu no segundo seguinte a fez se calar.

— Sinto muito por tudo que de ruim que causamos um ao outro, Lovelizzie.

Levanto as sobrancelhas de uma vez com sua última palavra. Há quanto tempo eu não ouvia James chamar minha irmã por esse nome? Afinal, a jogadora misteriosa do Flipper tem esse mesmo nome por conta deles dois.

Lembro-me da primeira vez que James me chamou assim. Ele tinha acabado de descer as escadas da minha casa após entrar no quarto de Mona. Me assustei quando ela jogou algo pela janela.

A Mona adolescente tinha esse surtos de raiva e jogava a primeira coisa que vai pela janela ou na parede, isso sempre acontecia quando se tratava do James. Eles eram como cão e gato naquela época.

— Já terminaram? — atrapalhei o momento, mal humorada — Quero ir pra casa.

Agora, não. — disseram ao mesmo tempo, em um perfeito uníssono ainda envolvidos no seu abraço apertado.

Mona tinha a testa colada na altura da clavícula de James abraçando seu torso enquanto ele fazia o mesmo em seus ombros apoiando o queixo no topo da cabeça dela, de vez quando abaixando seu nariz até os fios platinados, os afegando com carinho.

James e Mona finalmente deixaram as merdas do passado pra trás e seguiram em frente. Significa que eles vão ficar juntos? Não sei. Que vai ter um final feliz? Não sei, também.

A história não é deles, é minha.

Um hora o momento teve que acabar e eles se afastaram sem jeito, sorrindo envergonhados feito dois bobos. De um jeito espontâneo e nada constrangedor, conversamos sobre a Lovelizize e em tudo que fiz de errado nas últimas semanas.

James não poupou sermões ao descobrir que me aproveitei do nosso plano divertido e saudável pra manipular e enganar as pessoas. Joguei um pouco a culpa nele por ter me incentivado a concordar com isso, mas fomos calados por Mona que culpou nós dois por termos chegado até aqui.
Não tinha jeito, ela estava certa.

Concordamos que nada seria feito até o campeonato. Bomb e Lovelizzie continuariam empatados, não haveria mais façanhas com os jogos dos outros jogadores e James não teria que se preocupar em pegar as chaves no escritório de Miles as escondidas. Lovelizzie sumiria pelas próximas semanas.

Nos despedimos rapidamente. Mona teria que me levar até em casa e depois pegaria estrada até Riverside, onde mora e James passaria na casa da tia Maggie que o ameaçou com uma espingarda caso ele não maratonasse Chicago P.D. pela milésima vez, com ela.

James acenou pra nós duas antes de entrar em Lana. Esperei Mona no banco passageiro a vendo ainda estática, observando o del rey se distanciar no estacionamento.

O caminho até minha casa foi em silêncio constante até pararmos em frente o gramado dos Greco.

— Como está se sentindo? — Ela perguntou, segurando o volante com certa força.

— Quase enlouquecendo. — suspiro, sentindo a dor latejante em minha cabeça.

— Eu também. — retrucou, os dedos inquietos, batucando — Tem certeza que quer continuar com isso? Sem contar a verdade antes pros seus amigos?

Refleti pela milésima vez sobre aquilo. A resposta ainda é a mesma. Eu já os enganei, de qualquer forma. Contando agora ou depois, eles não vão mais confiar em mim, nem olhar na minha cara.

— Tenho. Seria uma covarde se não continuar. — respondo, analisando as planetas na varanda da casa — E não vou mais me calar pra aqueles babacas. Pra nenhum deles.

Ⓝ︎

Um capítulo pequeno porque próximo ainda preciso resolver alguns detalhes.

Gostaram desse reencontro?

Falta pouco pro campeonato.
Como acham que os outros reagirão com a revelação de Lovelizzie?

Até amanhã!
F.P.

Galatis Planet (Spin-off As Estrelas E Outras Drogas)Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu