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Abri os olhos devagar, incomodada com o excesso de claridade. Quando consegui acostumar a minha visão, me vi dentro de um quarto com cores neutras e pouca decoração. Geralmente, quando eu acordo e não sei onde estou, consigo entender facilmente que é em um hotel, mas esse lugar está longe de ser um hotel.

Puxei o braço para esfregar os meus olhos e espantar o sono, mas antes que eu conseguisse, senti uma dor forte, como se algo me espetasse e, ao olhar naquela direção, encontrei uma agulha presa com um esparadrapo.

Meus olhos se arregalaram rapidamente e eu olhei para trás, me encontrando ligada a algumas máquinas, o que logo pareceu fazer sentido para o resto do quarto tão neutro. 

— Um hospital — murmurei. Eu penso melhor quando o faço em voz alta. — Que droga, como eu vim parar aqui?

Tentei buscar na memória alguma lembrança do motivo para eu estar nesse lugar, mas haviam imagens na minha cabeça que me deixavam confusa, então um ponto logo atrás da minha testa começou a doer pelo esforço.

— Ah, olha só, você acordou! — uma mulher com uniforme de enfermeira sorriu ao entrar no quarto.

— O quê? O que aconteceu? — ela se aproximou, deixando alguns itens que estavam em suas mãos em uma mesa. Conferiu rapidamente as máquinas, fazendo anotações, e me olhou.

— Como você está se sentindo, Alicia? Alguma dor?

— Um pouco de dor na minha cabeça — fiz uma careta quando senti uma fisgada.

— É, você ainda deve sentir essa dor por mais alguns dias. Consegue me dizer que dia é hoje?

— Ai, droga — reclamei quando senti outra fisgada. — Eu nem sei que dia era ontem.

— Pode me dizer, pelo menos, o nome de alguém da sua família? Seu irmão, talvez.

— É Vince. Vincent Wegner.

— E o nome do seu namorado?

— Ah, caramba! — levei uma das mãos até a minha cabeça, percebendo uma atadura. — Agora eu tenho um namorado? Qual foi o capítulo da minha vida que eu pulei?

— Seu irmão me pediu para deixar algumas coisas suas aqui, Alicia — ela me entregou um caderno e o meu celular, deixando a minha bolsa no mesmo lugar. — Ele saiu um pouco, mas disse que logo vai voltar.

— Ei, espera! — ela parou perto da porta e me olhou. — A quanto tempo estou aqui?

— Você chegou ontem à noite, sua cirurgia foi hoje de manhã.

— E que dia é hoje, afinal?

— Acho melhor você dar uma olhada no seu caderno, Alicia — ela apontou com o nariz. — Vou te deixar a sós — e saiu, fechando a porta.

Logo que eu o abri, passando o olho por várias folhas até chegar na primeira página, percebi que era a minha letra. Na primeira folha tinha um desenho muito mal feito - com certeza eu que fiz - e atrás tinha uma espécie de cronograma sobre o que fazer durante o dia, com data e atividade. A primeira coisa, logo depois de acordar, era ver um vídeo que Vince me enviou no celular, então foi o que decidi fazer.

Encontrei facilmente o vídeo no chat de mensagens com o meu irmão e, mesmo odiando assistir vídeos muito longos, eu coloquei para começar. Enquanto ele falava, eu dava uma olhada no caderno, percebendo que cada uma de suas palavras fazia sentido com o que estava escrito.

Eu nunca fui de escrever o que pensava, mas parecia interessante lembrar cada uma situação que eu vivi. Aos poucos, consegui me ver em cada história contada naquele caderno e acabei deixando o vídeo de lado, que terminou sem que eu percebesse. Quando olhei para a tela, estava com a imagem congelada do último segundo do vídeo, era o cara com Vince e ele sorria grandemente para a câmera. 

first time | daniel ricciardoOnde histórias criam vida. Descubra agora