XVIII. Desespero

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Uma hora se passou. Um dia. Dois. Tudo se tornou uma maldita eternidade em volta de paredes pálidas sem graça e médicos com caretas de sono. Mas, tudo seria um pouco melhor se Bae Joohyun pelo menos tivesse ciência da onde estava.

Seu corpo mal respondia a qualquer esforço colocado em um movimento.

A notícia e confirmação que a ômega, na verdade, era lúpus, chegara no dia anterior. Os pais, esperançosos, a encararam com olhares um pouco diferentes. Ser lúpus significava ser mais forte. Porém, ver o corpo magro encolhido na cama não ajudava muito. O corpo de Joohyun se recusava a aceitar qualquer comida que descia pela garganta, como um protesto doloroso. Ah, seu estômago doía tanto que isso começou a fazer parte de si. Os enfermeiros foram obrigados a injetar os nutrientes pela veia.

Mas, apesar de toda a correria para fazer tal cirurgia, autorizadas por ambos os pais — com mais apreensão pela parte dos Kang —, e todo o cansaço e fraqueza, vinha uma curiosidade, no mínimo, impressionante. No quarto de Bae Joohyun havia uma pequena janela, não virada para a cidade a esperar lá fora, mas para o corredor do hospital. Parecia ser feita de plástico e tinha uma cortina bege a acompanhando.

A menina não pregava os olhos, encarando o corredor com nervosismo.

Não recebia notícias de Kang Seulgi há dois dias.

Não a via tinha dois dias, havia um que seu lobo parecia gritar dentro de si, sedento por respostas, sedento por Seulgi. E havia mais outro, aonde ele se calou. Perdido em suas próprias cordas, o seu lobo caiu em um completo silêncio. O vazio. Ficou em companhia de si própria, querendo encolher cada vez mais.

Mal percebia as bandejas de comidas mal temperadas sendo depositadas na mesa a sua frente, nem sua mãe conseguia puxa-la de volta para comer. Bem, ela também não fazia questão nenhuma.

Seus olhos, cansados e rodeados por um cinza morto, mal piscavam. Em um certo ponto, em meio em trocas de soro e os últimos exames da preparação da cirurgia, Bae Joohyun começou a alucinar.

Desde que fora resolvido que a fariam a cirurgia de remoção das marcas, aquele foi o primeiro sorriso singelo da ômega. Sorriu para o vazio, um sorriso reluzente banhado a lágrimas que vieram como companhia. Em sua cabeça, viu Kang Seulgi, sentada ao pé da cama, os olhos sorrindo tais como a boca.

A alfa se dirigiu para a ômega, o ar divertido e jovial a rondando quando fez um bico, franzindo os lábios.

Me espere, Ren. Estou chegando. Prometo que estou. Só não enlouqueça sem mim, docinho.

Joohyun riu para o nada, um riso rasgado por um soluço. A pequena ômega se encolheu cada vez mais, vendo que aquilo não era real. O vazio a preencheu mais uma vez, e a Bae resolveu deixar suas lágrimas secarem sobre as bochechas.

Até que a viu de verdade.

Não do jeito que imaginava.

A ômega piscou algumas vezes, levou as mãozinhas para esfregar os olhos, para ter certeza que, dessa vez, era real. Parecia real. Parecia desesperadamente real.

— Seulgi?

Ela levantou a cabeça, seu olhar ultrapassando aquela bendita janela. Foi algo muito rápido; um cadeira de rodas, três enfermeiros acompanhando.

Kang Seulgi estava praticamente jogada na tal cadeira, desacordada o suficiente para não ouvir os gritos de Bae Joohyun. Essa que, mesmo com dor, a usava para forçar a garganta. Ela estava assustada, assustada o suficiente para esquecer de tudo e todos quando viu a sua alfa sedada em uma cadeira de rodas e sendo levada para algum lugar. Não tinha aonde apoiar suas forças, então forçou a si mesma. Seu lobo parecia saber e sentir mais coisas do que si própria, e em tal situação, o desespero arranhava a garganta para que a sensação de ameaça se passasse.

L-LOLLI... POPS! ⌇ seulreneWhere stories live. Discover now