Capítulo 09

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A Condessa Luo chegou ao palácio naquela fria noite de inverno, preocupada com seu amado, ela trazia consigo uma cesta cheia de produtos medicinais e algumas guloseimas que eram especialidades de sua região. Sua carruagem parou, como sempre, na entrada da propriedade e ela foi acompanhada de dois guardas até a casa do Príncipe, a noite prometia ser de nevasca, todavia, como nenhum sinal dela foi dado até então, a moça decidiu fazer uma visita, sabia que essa era a pior época do ano para o Príncipe, ao menor sinal do vento frio, ele já ficava de cama, ela, gozando de plena saúde, não sentia desconforto algum ao fazer esta pequena viagem, entretanto, se fosse o contrário, ele poderia morrer antes mesmo de chegar até a casa dela. Pensando no bem-estar alheio e fazendo seu papel de futura consorte, ela caminhou alegremente até a entrada da casa em questão.

Do lado de fora, dois guardas vestidos com casacos pesados e peles grossas, tentaram proibi-la de entrar, todas as vezes era assim, "O Príncipe está descansando", "O Príncipe mandou avisar para a senhorita não se incomodar com ele", "O Príncipe isso, o Príncipe aquilo"... Ela já sabia todas as desculpas de cor, por isso, sempre ignorava tudo que eles diziam e entrava mesmo assim, uma vez dentro da propriedade real, ela podia ir a praticamente qualquer lugar, e estava escoltada ainda por cima! Quem a proibiria?!

-Meu Príncipe, eu trouxe-

A cesta, que outrora estava em suas mãos, caíra no chão fazendo um barulho de vidro quebrado do que quer que estivesse lá dentro. QingYang demorou algum tempo para assimilar o que estava vendo, mas a cena era desesperadora para não dizer bizarra: um homem que ela nunca havia visto na vida estava deitado sob as cobertas com seu monarca, os dois estavam virados um para o outro e pareciam se aconchegar. Um grito de horror rasgou sua garganta, o primeiro a despertar foi o homem desconhecido, ele levantou de prontidão, atordoado, olhando para todos os lados. Quando os cobertores escorregaram de seu corpo, a moça pôde ver que nem ao menos roupas na parte superior ele estava usando! Aquilo era ultrajante e imoral o suficiente para fazê-la pegar a cesta do chão e bater nele com ela.

-Ei! Espera! Calma! Ai! - ele tomou a cesta das mãos dela com uma mão e com a outra prendeu os dois finos punhos da garota - Fica quieta, Condessa!

-Como você sabe quem sou eu?! Quem é você?! O que fez com o Príncipe?! Por que ele não acorda?!

-Se você continuar gritando desse jeito ele logo vai...

-Vocês são tão barulhentos... - reclamou Lan Zhan sentando-se na cama, ao menos ele estava vestido.

-Príncipe! - a moça se desvencilhou do Wei e correu até ele, começando a procurar por qualquer sinal de machucado que pudesse ter em sua pele - Este crápula estava deitado na sua cama! Sem roupas! Eu vou pedir a prisão dele!

-Luo QingYang... - foi a vez dele segurar o pulso dela - Está tudo bem. - ele pôs uma das mãos no rosto numa tentativa falha de conter a tontura.

-Você levantou muito rápido, deite-se. - disse Wei Ying fazendo-o se deitar de volta e cobrindo-o com esmero, a moça ficou ainda mais chocada.

-Lan Zhan! O que está acontecendo?! - sua voz indignada era esganiçada e doía os tímpanos. O ex-gato a olhou com um sorrisinho vitorioso sem que o Príncipe percebesse e lhe deu uma piscadela - Lan Zhan!

-Não grite, garota! - disse Wei Ying - Não vê que ele está se recuperando?

-O que você fez com ele? Por que estavam juntos?!

-Você não vai querer mesmo saber o que fizemos. - um tom malicioso atingiu sua voz e o rosto dela ficou tão vermelho quanto um tomate.

-Não brinque. - pediu Lan Zhan - Não fizemos nada, Condessa.

-Ainda. - corrigiu o outro e foi a vez das orelhas de Lan Zhan ficarem vermelhas.

-Vocês não vão me contar o que está havendo aqui?! - ela bateu o pé chateada e confusa.

-Eu vou te contar, Condessa. - disse o rapaz com um tom irônico - Por um acaso a senhorita se lembra de um certo gato preto que a senhorita vivia desdenhando e agredindo? Sim, sei que se lembra, pois bem. Aqui está ele. - a moça ficou embasbacada.

-Que tipo de brincadeira sem graça é essa? Príncipe, o senhor não acreditou nisso, não é?

-É verdade. - disse Lan Zhan simplesmente.

-Não... Não tem como. Era um gato! Você... É um homem!

-Condessa, não vou explicar essa história pela milésima vez, pode perguntar a qualquer pessoa neste palácio. Já sei! Pergunte ao imperador, vá lá. - disse empurrando-a para fora - Diga que ele está mentindo após ouvir.

-Você está enganando a todos! - disse ao chegar na porta.

-Oh, o imperador é um ingênuo agora?

-Príncipe! - Lan Zhan não disse nada, não havia o que dizer sobre, e ele não tinha energia o suficiente.

-Não precisava falar assim com ela...

-E o que você queria que eu fizesse? Ela já estava gritando.

-Ela ficou surpresa...

-Eu também fiquei, oras! Ela nos acordou do nada.

-Chame um dos guardas, por favor. - Wei Ying suspirou e abriu a porta, chamando um dos homens, a moça ainda estava lá, irritada.

-Sua Alteza. - reverenciou o guarda entrando.

-Por favor, providenciem uma casa de hóspedes para a Condessa Luo.

-Sim, Alteza. - ele fez outra reverência e se retirou para conversar com os criados e escoltar a Condessa.

-Você é tão prestativo, Lan Zhan.

-Está muito frio lá fora. Pode começar a nevar a qualquer momento. Ela e eu fomos criados juntos, somos como irmãos.

-Irmãos não fazem o que ela quer fazer com você.

-Ela está confusa. Não há motivos para estar apaixonada por mim.

-Como não?! Há um monte de motivos para uma pessoa se apaixonar, ainda mais por alguém como Sua Alteza. - o tom malicioso retornou à sua voz e o Príncipe virou o rosto, envergonhado.

-Venha, vamos dormir mais um pouco. - pediu erguendo o braço, criando um espaço entre as cobertas e a cama, mas sem encarar Wei Ying. O homem prontamente se enfiou debaixo do cobertor e passaram o resto da noite juntos.

A moça tentou por dois dias fazer o Príncipe mudar de ideia, mas ao ver o cuidado e o carinho com que os dois se tratavam, ela logo percebeu que jamais teria espaço entre ele, haviam se tornado tão grudados que pareciam um só, depois de dois dias no palácio, ela se deu por vencida e voltou para casa, tudo que restava era desejar felicidades aos dois.

Scarlet Eyes [concluída]Where stories live. Discover now