Capítulo 8

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8

Haute Couture

***

Kerri, mesmo sem sorrir, deu uma risadinha bastante convincente.

"Você tem razão," disse. "Quem pergunta o que quer, ouve o que não quer."

Como se saído de um transe, o ambiente foi preenchido pelo som de gargalhadas. Com o olhar fixo nas câmeras, ela continuou:

"Lydia, foi um prazer conversar com você hoje. Depois do intervalo temos Taylor Swift com música nova, fiquem ligados!"

O estúdio foi logo tomado por uma salva de palmas, e em questão de segundos o diretor gritou "corta". Percebi um grupo de pessoas da produção se aproximando, mas me levantei para sair dali logo. Eu não queria esperar para ver o que iria acontecer.

Sentindo uma adrenalina percorrer todo o meu corpo, virei-me em direção à saída, mas fui impedida pelo técnico que me havia microfonado antes da entrevista começar. Sem aviso, ele me girou pelos ombros e abriu o zíper do vestido em minhas costas. Tentei lutar inutilmente — eu sabia que não iria sair dali antes que ele fizesse o trabalho dele.

Tudo aconteceu muito rápido. Enquanto eu dificultava a vida do rapaz, o diretor e mais duas pessoas falavam com Kerri, tentando convencê-la de regravar o final da entrevista. Em nenhum momento a palavra foi dirigida a mim, mas eu fiz questão de deixar minha opinião bem clara.

"Isso acabou aqui, não vou ficar mais um segundo nesse lugar!" Eu soava mais revoltada do que realmente me sentia.

No fundo, causar um pouco de polêmica até que estava me divertindo.

Com dificuldade, o técnico retirou a lapela, os fios e a caixa do microfone presa à uma cinta por baixo do vestido, e fechou o zíper novamente. Assim que senti que mais nenhuma mão tentava me segurando, bati os pés em direção aos bastidores, Sarah colada aos meus calcanhares até chegarmos ao camarim.

Recostei-me sobre a porta fechada. Os únicos sons audíveis eram dos burburinhos do lado de fora e meu coração acelerado. Sarah se apoiou na penteadeira, uma de suas mãos sobre o rosto, apertando as têmporas entre o indicador e o polegar, a outra agarrando a bancada com tanta força que as pontas dos seus dedos ficaram brancos. Ela iria comer meu fígado com feijão preto e um bom Chianti, eu tinha certeza.

Mesmo assim, não consegui evitar um sorriso malicioso de surgir nos meus lábios, e quando percebi, eu já estava gargalhando. Eu não podia me controlar. Ao mesmo tempo em que estava satisfeita por ter me defendido, era a sensação de ter cutucado a ferida de Kerri em rede nacional que me deixava mais radiante.

Se ela não quisesse que aquilo fosse ao ar, teriam que cortar toda a entrevista do programa. E algo me dizia que a produção não queria muito isso.

Fitei Sarah por um segundo, tentando me recompor. Eu sabia que iria ouvir mais cedo ou mais tarde — que fosse mais cedo.

"Eu estraguei tudo, né?" sussurrei.

Ela me encarou por um momento, uma expressão indecifrável no seu rosto. Seu olhar percorreu o camarim. Quando falou, não se dirigiu diretamente a mim. Parecia mais falar com si mesma, como se tentasse colocar seus pensamentos em ordem.

"Ela quebrou o acordo, portanto não tem por que pedir a devolução, mesmo que não vá ao ar. Se não for, ela quebra a promessa com os telespectadores e as redes sociais vão bombardear o programa dela. Se for, ela tem toda a história da família de volta aos tabloides, mas seu programa se mantém no ar." Sarah olhou para mim. "É uma faca de dois gumes."

A Outra Lydia KinsleyWhere stories live. Discover now