Capítulo 3

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Proposta

***

Eu já havia perdido as contas de quantas vezes me revirei na cama quando ouvi uma leve batida na porta. Antes que eu pudesse responder, a porta se abriu e Lydia entrou tímida, sua voz leve quando ela falou.

"Posso entrar?"

"Já entrou," resmunguei.

Ela havia demorado tanto no banheiro que pensei que tivesse se afogado na pequena banheira. Seus cabelos loiros ainda estavam úmidos e seus olhos inchados, dando a ela um ar de cachorro sem dono. Talvez fosse essa a intenção. Talvez fosse a melhor técnica de manipulação que ela conhecia. Ela tateou o caminho até o colchão que minha mãe havia ajeitado ao lado da minha cama e acendeu o abajur.

Fiz questão de demonstrar o quanto eu estava incomodada.

Enquanto ela se ajeitava debaixo da coberta, memórias distantes ressurgiram — memórias que eu preferia ter esquecido. A última coisa que eu queria naquele momento era pensar nas nossas crises de riso de madrugada, nas nossas longas conversas sobre garotos, nas nossas sessões de cinema numa cabana de cobertores. Até nossas brigas se tornaram memórias engraçadas.

Foi quando não haviam mais brigas que as coisas pioraram. Quando não havia mais risos, ou segredos, simplesmente porque paramos de nos falar. Quando mesmo dividindo o mesmo quarto, ignorávamos a existência uma da outra, a não ser que fosse extremamente necessário.

Impaciente, apaguei a luz. Quando ela não reclamou, fechei meus olhos na esperança de que eu fosse finalmente dormir, mas não foi o caso.

"Margot?"

Ignorei.

"Marg..."

"Que foi, Lydia?" Interrompi.

Ela não disse nada por um momento, apenas sentou-se no colchão e acendeu a luz do abajur novamente. Eu estaria feliz se ela quisesse apenas reclamar de como eu era azucrinante, mas sua cara amarrada mostrava que ela tinha outras coisas em mente.

"Não me chame assim."

"Pensei que fosse seu nome."

"É sério, Margot, eu não preciso disso agora."

Eu me apoiei no cotovelo para olhar diretamente em seus olhos.

"E do que você precisa, vossa majestade?"

Ela hesitou por um momento, e percebi que seus olhos estavam se enchendo de lágrimas novamente. Ela devia estar bem hidratada para conseguir chorar tanto assim.

"Acho que te devo um pedido de desculpas."

Abri a boca para responder, mas ela me interrompeu.

"Não começa. É minha vez de falar, e eu não quero você falando por cima até eu terminar." Ela respirou fundo antes de continuar, mantendo seu olhar bem longe do meu. "Eu sei que já passou bastante tempo, mas eu nunca tomei coragem de falar isso diretamente. Eu era uma adolescente burra, não tinha noção das coisas que eu fazia naquela época, e eu sei que você faria a mesma coisa no meu lugar. Não posso dizer que me arrependo, mas eu não devia ter te tratado daquele jeito. E eu não conseguia nem te ligar para perguntar como você estava, quem dirá para pedir desculpas por ser a pior pessoa do mundo." Ela pausou, deitando-se novamente e encarando o teto. "Eu quero que você me dê uma chance para eu me redimir."

Esperei alguns segundos para garantir que ela havia terminado o discurso. Para ser honesta, eu esperava algo mais humilde do que uma droga de "não me arrependo."

A Outra Lydia KinsleyWhere stories live. Discover now