Capítulo 4

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Decisão

***

Virei as costas e saí do quarto em direção à escada, Rose praticamente colada nos meus calcanhares.

"Está falando sério?"

"O que foi?" perguntei, parando abruptamente e virando para encará-la. "Achei que já estivesse acostumada a ter as coisas do seu jeito."

Ela me fitou atenta por um momento, como se não tivesse entendido uma palavra do que eu disse. Segurei seu olhar, aguardando por uma resposta, parte de mim esperando que ela fosse se defender — mas não. Ela mudou de assunto:

"Não esperava que você fosse me perdoar tão fácil."

"Eu não disse que te perdoei," as palavras saíram antes que eu pudesse me impedir.

Seu rosto não moveu um milímetro, mas percebi seu olhar vacilando por um milésimo de segundo. Ignorei a pontada na consciência pela possibilidade de tê-la ofendido. Ela teria que se esforçar mais se realmente quisesse que eu a perdoasse.

"Estamos fazendo uma troca. Você vai pra um retiro afastado em Machu Picchu, ou sei lá o quê, e eu saio dessa cidade de uma vez por todas. É isso."

Continuei meu caminho em direção à cozinha, Rose ainda me seguindo.

"Já é alguma coisa, vindo de você" murmurou.

Decidi não pensar no que ela quis dizer com isso. Pela primeira vez em anos as coisas podiam dar certo para mim, eu não iria me estressar por qualquer coisinha.

A vista com a qual me deparei na cozinha era ao mesmo tempo familiar e incomum: minha mãe cantarolava enquanto preparava panquecas ao fogão, meu pai espremia laranjas numa jarra.

Senti meu peito se contorcer ao suspeitar que o motivo daquela cena pacífica era Rose em casa, mas suprimi aquele pensamento e fingi que era só mais um momento comum em família.

Pigarreei ao me sentar na bancada, atraindo a atenção dos dois.

"Bom dia, meu bem," disse minha mãe, seus olhos fixos acima do meu ombro.

"Bom dia," Rose respondeu, sentando-se ao meu lado, o olhar inquieto dançando pela cozinha, os dedos entrelaçados como se ela estivesse prestes a levar um sermão.

"Você tá bem?" perguntei, secretamente me divertindo com a reação dela.

Rose estava muito mal acostumada a ser a boa moça da família.

Ela assentiu e eu ajeitei a postura, preparada para convencer nossos pais de que não havíamos acabado de tomar a decisão mais impulsiva de nossas vidas.

"Então," comecei, meu coração batendo desesperadamente no meu peito. "Rose vai passar o próximo mês em um centro de reabilitação."

Meu pai girou nos calcanhares, seus olhos verdes incrédulos. Minha mãe, que estava colocando duas torres de panquecas para nós na mesa, apenas congelou. Pela cara deles, haviam sentido o cheiro do problema, e eu repensei tudo que estava planejando falar. Infelizmente não havia outra maneira.

"Eu não sabia que decisões já haviam sido tomadas," minha mãe falou exasperadamente.

"Bem, mais ou menos," Rose interrompeu com sua indecisão. Típico.

"Decidimos," eu a cortei, "que vamos ajudar uma a outra. Rose vai levar o tempo que precisar para se cuidar, até se sentir melhor. Enquanto isso, eu vou fazer o trabalho dela. Em segredo, é claro. Já conversamos, não é nada demais."

A Outra Lydia KinsleyWhere stories live. Discover now