Capítulo 9

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De Melrose a Beverly Hills

***

[Los Angeles, CA; 28 de Julho]

Eu tive um dia de folga e os meus níveis de tédio já haviam extrapolado todos os limites.

Rose não tinha um carro, o que me impedia de dirigir pela cidade. Se eu quisesse sair, tinha que pedir um Uber, e quanto menos eu precisasse interagir com desconhecidos enquanto Lydia Kinsley, melhor.

Por falta de algo melhor para fazer, reli o fichário que Sarah havia me dado no primeiro dia, só para garantir que eu não esqueceria ninguém importante — como eu havia esquecido de Dylan dias atrás. Eu não podia arriscar. Fucei todo o celular de Lydia, mas ela havia claramente apagado algumas mensagens antes de entregá-lo à Sarah. Quando terminei, maratonei as duas primeiras temporadas de Faceless enquanto acompanhava as anotações de Rose no roteiro de cada episódio. Eu já entendia cada personagem, sabia o nome de cada ator, pesquisei idade, cidade natal, a história de cada um. Mais um pouco e eu estaria fazendo o mapa astral deles também.

Depois, experimentei todas, absolutamente todas as roupas no closet de Rose.

Me peguei olhando meu reflexo no espelho por mais tempo do que eu gostaria. Claro, a maioria das peças de Rose ficavam apertadas em mim, e algumas nem entravam, mas eu não via o porquê da obsessão de Sarah com o meu corpo. Eu tinha uns quilinhos a mais, mas também era alguns centímetros mais alta. Eu não estava gorda.

Estava?

Peguei no sono perto das duas da manhã e acordei cedo no dia seguinte para ter mais tempo para fazer nada.

Enquanto Sarah estava ocupada com seus outros clientes, me certifiquei de aperfeiçoar minha interpretação. Eu estava determinada a convencê-la de que podia fazer isso sozinha. Ela havia me dito há poucos dias que não era babá da minha irmã. Então por que fazia questão de me acompanhar para todos os meus compromissos?

Respirei fundo o ar da Califórnia. Mais cedo eu havia encontrado um colchão inflável de piscina e uma bomba de ar no porão, e decidi que nada naquele sábado ensolarado iria me tirar a paz. Vesti um maiô, me enchi de protetor solar e deitei naquele colchão como se eu não tivesse uma única preocupação na vida.

Por um momento, encarei a tela do celular, me perguntando se eu devia ligar para Rose. Ela havia me atualizado na noite anterior de como estava a rotina dela na clínica, mas ao mesmo tempo que eu queria que ela me contasse todos os detalhes simplesmente pela curiosidade, eu também não estava a fim de saber cada detalhe das sessões de terapia da minha irmã. E ela não deveria me contar, de qualquer forma. Ela precisava de tempo para se recuperar, não de alguém diariamente a lembrando de que ela tinha muito trabalho pela frente se quisesse voltar à sua vida normal.

Eu suspirei. Por que manter um relacionamento saudável com um único parente sequer era tão difícil?

Sem querer parecer não me importar, mandei uma mensagem. Um simples "bom dia" para que ela não pensasse que eu havia esquecido. Deixando isso de lado, liguei para Nina.

"Booom dia!" cantarolou ela do outro lado da linha.

"Bom dia, amiga," respondi com uma risadinha, tentando igualar seu entusiasmo — e falhando miseravelmente. "Vem cá, você tá a fim de sair hoje?"

"Sim," proclamou. "Estou indo te buscar."

"Ah, ok," falei, um pouco confusa. Não esperava uma resposta tão direta. "Espera, agora?"

A Outra Lydia KinsleyWhere stories live. Discover now