Capítulo 8

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Ele desceu as escadarias e foi até a garagem onde se encontrava seu carro. Porém não era um mísero automóvel, era um dos mais luxuosos daquela pequena cidade. Sua lataria era acinzentada, com um brilho apenas comparado com o da lua cheia no seu límpido; entrou no mesmo, ligou o rádio na mesma estação de costume, adorava Beatles, e saiu em direção ao centro da pequena cidade.

Após alguns minutos, Santiago chegou até uma agência bancária, depois de alguns minutos, saiu, entrou no carro e pegou o celular, ligando para um número de sua agenda:

— Alô, verifique sua conta.

— Ok! – E a pessoa do outro lado desligou.

Assim que Santiago estava guardando seu celular, ele toca:

— Santi, triste né!

— Muito triste, porém tem que ser assim. – disse Santiago com um tom de voz triste.

— Depois conversamos.

Guardando o celular no bolso, ligou o carro e voltou para o hospital.

Já era fim de tarde, o frio voltava a reinar na pacata cidade. O céu estava avermelhado, e no horizonte o sol estava se pondo, os pássaros já buscavam abrigo nos ninhos e as almas que vagavam sem rumo e sem paz já estavam prontas para atormentar quem ousasse em entrar em seus caminhos.

Em sua sala Mary se encontrava impaciente, nunca presenciara tal cena em sua vida... Todas as vezes que fechava os olhos podia ver o homem enforcado. Porém não era apenas um homem, era um paciente que sabia coisas, sentia coisas que Mary nunca pudera imaginar... Aquele paciente era mais misterioso que tudo que já acorrera naquele hospital. Em sua mente o paciente 415 permanecia vivo, a cada fechar de olhos a psicóloga sentia a respiração ofegante daquele homem, sentia a agonia de sua morte, sabia que mesmo morto ele permanecia ali vagando atormentado. Era possível sentir o cheiro da podridão de seu corpo. "Gritos" poderiam ser ouvidos, a jovem via a carne roxa saltar do fundo dos olhos daquele morto, o muco escorrendo pelas suas narinas e saindo pela boca como a baba sai da boca de um bebê. Seu corpo inchado prestes a estourar. Em cada orifício do seu corpo escorria um sangue escuro, quase podre. Era a visão mais macabra que Mary presenciou em toda sua jovem vida...

Enquanto isso, Santiago acabava de chegar ao hospital, se dirigia a seu quarto a passos rápidos, pois se sentia atrasado para seu encontro com Mary. Entrou e bateu a porta, jogou um molho de chaves sobre a mesa perto de seu jogo de xadrez e foi tomar banho. Ao se despir completamente, ligou o chuveiro e começou a molhar-se sem pressa; sua imaginação estava na psicóloga por quem nutria um desejo descomunal. Parecia uma criança doente em uma loja de brinquedo implorando para tê-lo.

— Mary, Mary, Mary! Meu brinquedo! - Dizia ele apertando contra o corpo uma esponja.

Ao terminar o banho, se enrolou em uma toalha e foi se vestir. Colocou uma camisa branca de seda colada ao corpo como de costume, que definia de forma cativante os músculos de seu corpo, uma calça apertada e uma gravata discreta. Nos pés, calçava um sapato preto brilhante. Pegou sua carteira e as chaves e foi em direção ao quarto de Mary.

— Mary, Mary!

— Santiago?

— Sim, saia logo daí ou terei que entrar e lhe jogar um balde cheio de sangue! –Disse o rapaz rindo.

A porta abriu-se lentamente, porém não era Mary que a abrirá, e sim vento que fez todo o trabalho duro de abrir aquela porta pesada, entretanto ela não ficou totalmente aberta, havia ali apenas um pequeno espaço entre a porta e a parede.  Aquela fresta proporcionava a Santiago uma visão que nunca virá, porém, imaginara muitas vezes quando sozinho. Lá no canto do cômodo estava Mary se arrumando. Um longo vestido vermelho cobria praticamente todo seu corpo, seus cabelos soltos eram longos e mais negros do que o habitual; aos pés calçava um lindo sapato vermelho de salto altíssimo, e na mão direito ostentava uma pequena bolsa preta. Ela sabia que aquela cor preta quebrava toda a harmonia do vestuário, porém era presente de sua mãe.

A Outra Face do MedoWhere stories live. Discover now