Capítulo 24

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      Santiago ainda permanecia sem alguma reação útil, olhava para todos os cantos, porém, evitava fitar Mary olhando diretamente em seus olhos, fugindo do olhar angustiante e cheio de medo da psicóloga.

       As nuvens carregadas começavam a se aproximar do hospital. O vento antes fraco, passou a socar as vidraças com violência, no entanto, de modo intercalado.

      Os lustres balançavam inquietamente de um lado para o outro. A chuva chegava nas dependências do Hellingly. O vento começava a ficar mais forte, balançando a copa das árvores e enquanto emitia um som apavorante.

      Os pingos de chuva eram grossos, caiam forte sobre os telhados como se fossem pedras.

      — A tempos não vejo uma chuva desse jeito aqui na Inglaterra. — Disse Santiago levantando e indo em direção à porta. — Vou me recolher e esperar esse temporal passar, no meu quarto.

      — Não quer ficar aqui e esperar? — Indagou Mary se aproximando do rapaz.

      — Doutora, doutora. Por favor! Mantenha a compostura, por favor! Não é interessante eu esperar aqui. Alias, interessante é, mas podemos dizer que a circunstância é muito convidativa para outras coisas e não para esperar.

      — Será que só pensa nisso Santiago, em seduzir ou olhar as coisas com segundas intenções?

      — Não doutora, pelo contrario, sou uma das pessoas mais inteligentes que a senhora vai poder encontrar aqui, és você que está dando um tom diferente para as minhas palavras. — Santiago soltou uma risada e abriu a porta. — Até amanhã doutora! Alegre-se, amanhã verás seu grandioso e amado irmão, o senhor Dooham, não é mesmo?

      A psicóloga ficou pasma, não porque Santiago lembrou do encontro com seu irmão, mas sim, pois, o rapaz a deixou sozinha, em meio a uma tempestade... O único som que poderia se ouvir era dos trovões... A luz apagou subitamente e os raios que cortavam o céu eram a única fonte de luz e esperança para todos naquele hospital.

      A cama certamente era o local para onde todos deveriam ir, seja funcionários, loucos ou qualquer outra pessoa, a cama deveria ser a busca...

       A mulher preparava-se para buscar seu leito, com a escuridão, dava passos curtos e lentos, caminhando sempre que um raio cortava o céu e assim, utilizando de seu clarão para enxergar o que estava em sua volta.

      Assim que enfim alcançou seu devido lugar, Mary deitou e cobriu todo seu corpo com um edredom, apesar do calor, era melhor do que se assustar com os barulhos dos trovões, no entanto, nem sempre tudo ocorre como desejamos...

      Poucos minutos após se acomodar, o telefone de seu quarto começou a tocar insistentemente. Mary não queria atender, poderia ser Santiago querendo apenas perturbar, mas também, poderia ser uma emergência, algum paciente precisando de ajuda ou até mesmo o doutor David precisando de seu auxilio. Apesar de permanecer alguns segundos brigando contra sua consciência, ela resolveu enfim atender o telefone.

      — Pronto!

      — Mary! Mary! Mary! — Gritava a voz do outro lado.

      — Quem é você! O que vocês quer!

      — Mary! Mary! Mary! — A voz continuava gritando, porém, o grito era menos forte, parecendo mais uma suplica por ajuda do que um grito qualquer.

      — Meu Deus! Diga o que quer comigo!

      E a voz parou de falar e em seguida, o telefone ficou mudo...

A Outra Face do MedoWhere stories live. Discover now