Capítulo Seis

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"É impossível armazenar sentimentos, eles sempre vazam"


Entrei no corredor pessoal do arquiduque com o coração batendo alterado. Existe alguma coisa nele que me causa um medo arrebatador, um instinto primitivo que parece gritar para que eu mantenha distância. E o comportamento inconstante de seus servos apenas serve para confirmar o quão atípico o arquiduque é.

Parei na metade do corredor quando o som de vozes preencheu todo o caminho estreito que levava para o escritório do Ambrose. O homem que falava tinha a voz esganiçada, que ficava mais aguda e rápida conforme ele se alterava. Me aproximei a passos curtos e silenciosos tentando dar sentido às palavras que eram jogadas como jatos de água de uma cachoeira.

—...você precisa reagir Diaval! — disse o homem desconhecido — Nós não podemos continuar vivendo desse jeito.

— Erick, o que espera que eu faça? — reconheci a voz do arquiduque, impassível como de costume.

Instintivamente caminhei até a porta e encostei meu ouvido na madeira, na tentativa de ouvir com mais clareza.

— Espero que tome uma atitude e logo — o homem chamado Erick falou —, o tempo está acabando e você me prometeu que... — sua voz foi substituída por passos rápidos em minha direção, antes que eu pudesse tomar alguma atitude, ele abriu a porta abruptamente me fazendo cair para dentro do escritório.

— O que é isso? — Erick falou me olhando estatelada no chão.

Isso, é a serva pessoal da Senhorita Cecília — respondeu o arquiduque enquanto Erick me ajudava a ficar em pé —, que parece ter uma tendência a não seguir conselhos. O que faz aqui, Mabel?

— Eu gostaria de ter uma audiência com vossa excelência, mas posso voltar em outro momento — disse olhando para Erick que tinha uma expressão estranha no rosto.

Ele era um homem alto, poucos centímetros mais baixo que o arquiduque com a cor da pele visivelmente bronzeada pelo sol e cabelos loiros como espigas de milho. Ele tinha marcas de riso no canto da boca, evidenciando ser uma pessoa de sorriso fácil mesmo que agora ele me olhasse com uma expressão séria e fechada.

— Pode ficar, senhorita — ele pronunciou mecanicamente —, já terminei minha audiência com Diaval.

— Diaval? — repeti confusa.

— Esse é o nome dele — Erick apontou para o arquiduque com o dedo.

Não pude deixar de me perguntar quem ele era para tratar o arquiduque de maneira tão informal.

— Compreendo — disse sem saber muito bem em como agir.

— Pois bem, irei deixá-los para que conversem — Erick deu um olhar cheio de significados para o arquiduque que devolveu o gesto. — Foi um prazer conhecê-la, senhorita Mabel — ele pegou minha mão gentilmente e depositou um beijo cálido no dorso, porém não me passou despercebido a frieza dos seus lábios e suas mãos trêmulas.

— O que deseja, Mabel? — Diaval perguntou assim que Erick deixou a sala.

Quando minha atenção voltou exclusivamente para ele pude notar a palidez da sua pele, sua boca geralmente rosada estava em um tom esbranquiçado e uma sombra arroxeada pairava abaixo dos seus olhos. Ele parecia exausto.

— Eu vim solicitar a ajuda de vossa excelência — falei e suas sobrancelhas automaticamente se ergueram.

— Com o que? — perguntou sem parecer surpreso.

Persona - A Maldição de AmbroseWhere stories live. Discover now