Lembre-se todos, as rebeliões sempre
começam internamente.
Recordo-me com clareza do dia em que meu pai foi embora. Para mim não houve despedidas, e nem ao menos sei se ele chegou a dizer algo para mamãe. Sua partida foi simples, fui me deitar com a consciência de que meus pais estavam deitados no quarto ao lado e acordei encontrando apenas minha mãe na casa. Havíamos sido abandonadas.
Sempre me perguntei como era possível uma pessoa deixar tudo para trás. Esquecer das pessoas com quem compartilhou seus dias. Abdicar-se do seu lar. Foi uma decisão repentina ou uma ideia que se perdurou por anos até ser irresistível? O que era tão insuportável em nossa família que não valeu uma palavra de adeus?
De alguma forma, hoje eu encontrei as respostas que precisava.
— Devo dizer que não imaginava uma resolução como essa — Diaval falou ao meu lado.
Ele me deu a carta-branca para realizar um dos meus maiores desejos. Talvez fosse uma fantasia tola, uma travessura de criança, mas vê-los na mesma posição que eu estive durante anos encheu meu peito com algo mais intenso do que satisfação.
O sabor da vingança era inominável.
O que eles fizeram com minha família era impagável, as marcas das suas garras jamais abandonariam nossas peles. Anos foram perdidos e isso era irreversível. Porém, mesmo que por um instante, eu estava acima de todas essas pessoas. Intocável. Não exitaria em fazer meus pensamentos mais íntimos se tornarem reais. Eles saberiam o que era ser discriminados, sentiriam na pele e jamais seriam esquecidos por seus pecados.
Eles caminhavam com a cabeça baixa, as roupas outrora elegantes e de qualidade, agora não passavam do tecido fino das suas roupas de baixo. Uma multidão os seguiam os rodeando de cochichos curiosos. Soldados do arquiduque seguravam as corretes das suas algemas, os braços estavam presos atrás do corpo e os pês descalços estavam sujos de lama, evidenciando por quais lugares do povoado eles haviam passado, no momento, estavam em seu destino final.
Quando pararam em frente ao palco improvisado, foram lançados ao chão, prostrados diante do arquiduque e eu. Os borborinhos aumentaram significantemente quando minha identidade foi reconhecida, apesar de que para todos o homem ao meu lado era um mistério. Apenas os acusados tinham consciência do poder que ele havia deixado em minhas mãos.
Permaneci em silêncio quando um dos soldados do arquiduque subiu no palco e abriu um extenso pergaminho diante de todos. A praça estava lotada, pessoas de toda a parte do povoado seguiram a perambulação que se estendeu por todo o território, desde a área mais pobre até a mais nobre. Todos estavam aqui para testemunhar minha justiça, mesmo que ainda não estivesse ciente disso.
— Abaixo o mando do nosso senhor o Arquiduque Ambrose, abriremos a sentença sem direito a julgamento para punir os infratores Alva e Madson, que a partir desse comunicado estão afastados permanentemente dos seus postos de preceptora e reverendo pelos crimes de abuso de poder, envolvimento com o mercado ilegal de escravos, desvio de verba destinados a serviços ao povoado, roubo, calunia...— A multidão arfou diante do anúncio que se prolongou por alguns minutos enquanto todas as infrações eram listadas, suas vozes tomaram tanta intensidade que foi necessário que os guardas da praça os controlassem. Eu mantive a postura altiva, encarando as cabeças voltadas ao chão dos criminosos. — Como consequência dos crimes cometidos pelos réus citados, a punição total e irrevogável será atribuída conforme os termos já determinados pela senhorita Mabel, que foi a maior prejudicada pelos crimes já mencionados, sendo de direito dela e de sua família e demais afetados pelas ações desses indivíduos receber as posses e propriedades como indenização pelos danos causados.
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Persona - A Maldição de Ambrose
FantasyTodos do Império de Grifo conhecem o arquiducado de Ambrose, o lar do Arquiduque amaldiçoado. Alvo das histórias mais terríveis, ele é conhecido por ser o príncipe assassino que recebeu como castigo uma maldição que nenhuma das suas quatro noivas...