Albatroz (PAUSADA)

Eu perdi tudo...

Can

Desnorteado...e em choque eu me senti ao ver com os meus próprios olhos que ela estava mesmo grávida. Eu sabia... mas me negava a acreditar, pois me matava saber que eu não estava aqui com ela.
Eu não sabia que era o casamento do meu abi, a primeira coisa que fiz ao chegar foi procura-la... fui em seu apartamento e me disseram que ela não morava mais lá, que havia se mudado para uma propriedade afastada um pouco da cidade, e eu logo soube para onde vir... para a casa da minha annem, oh quanta saudade eu estava da minha annem... de estar aconchegado em seus braços maternos que me davam amor e conforto...
Cheguei na propriedade e logo percebi que havia alguma comemoração e assim que avistei Leyla e Emre vestidos de noivos soube então que estavam comemorando o casamento deles. Procurei Sanem com meus olhos e a vi sentada de costas comendo, fui ao seu encontro sem nem me importar com a surpresa e olhares de todas as pessoas que eu amava, nem da minha annem a qual eu queria tanto abraçar, desabafar e chorar enquanto ela me consolava escutando minhas dores.
Assim que cheguei por tras dela, ela reclamou de algo e logo percebi do que se tratava... ela estava falando com nosso filho em sua barriga, e eu ali mesmo fiquei em choque por confirmar o que eu já sabia e tanto temia ser verdade. Ouvir ela falar com nosso filho me trouxe lagrimas aos olhos que eu segurei para não derramar... mas que foi inútil quando ela se virou perguntando o porque de Ceycey ter desligado a música, coisa que nem eu tinha me dado conta de que ele tinha feito, mas suas palavras foram deixadas no ar assim que seus olhos me viram...
- Você? - Ela pergunta atônita e eu só queria abraça-la e dizer o quanto a amo, mas não consegui dizer nada.
- O que você está fazendo aqui Can? - Continua com outra pergunta, e vejo a raiva e mágoa estampadas em seus olhos, mas mais uma vez não consigo falar nada a não ser sussurrar seu nome olhando para ela e sua barriga.
- Deus o quanto perdi... - Penso comigo mesmo e logo meus olhos estão cheios denovo e dessa vez eu não suporto e deixo uma lágrima cair, ela vê, se vira e vai embora e eu fico olhando ela desaparecer da minha vista.
- Can.... - Chama baba, mas eu não consigo, não consigo responde-los... eu só me viro e encaro a todos... e nesse momento não consigo decifrar o que estão sentindo, mas posso imaginar que não estão felizes por eu ter voltado. Olho para minha annem e a vejo chorando silenciosamente... mas consigo ver que ela está magoada comigo. Eu não consigo ver o olhar de magoa e decepção dela e deixo mais lágrimas rolarem, queria que ela entendesse apenas com meu olhar o quanto eu sofri...
Não falo com ninguém, somente viram minhas lágrimas e vulnerabilidade, eu saio dali e ninguém e absolutamente ninguém me impede ou chama por mim... nem mesmo minha annem.
Vou para o píer, o lugar onde pedi Sanem em casamento, onde decidimos unir nossas vidas e viver nosso amor... como eu queria voltar no tempo e ama-la mais... beija-la e abraça-la mais.
Me sento e começo a pensar em tudo, o mar me acalma e o céu estrelado me traz paz também. Mas só posso pensar em uma coisa... eu perdi ela... e eu perdi tudo sobre meu filho, e isso está me matando como a meses atrás, mas a dor hoje é mais sufocante do que toda a dor que eu senti nesses últimos meses.
- Can? - Diz uma voz que eu não queria escutar agora... não nesse momento, não depois do que ele fez.
- Ela... ela está grávida, e eu não estive aqui com ela. - Digo com a voz trêmula ainda atônito e chocado.
- Eu não estive desde o momento da descoberta, ou o momento de contar aos pais dela, ou o momento em que ela sentiu desejos, ou quando estava muito cansada e com muito sono, mesmo tendo dormido a noite toda ou não fazendo nada....eu não estive na primeira consulta... ou no primeiro ultrassom... - Digo deixando as lágrimas caírem por fim.
- Eu não estive no dia em que se escutaria o coraçãozinho do meu filho pela primeira vez.... - Falo chorando angustiamente.
- Eu nem sei o sexo do meu filho porque eu não estava aqui... eu... eu não tive a alegria de decorar o seu quartinho... ou de comprar seu primeiro sapatinho ou roupinha... eu nem estive aqui para falar com ele todos os dias e dizer o quanto eu o amava e estava ansioso para sua chegada... ele nem conhece minha voz...
Eu nem se quer estive, para escolher com Sanem o nome dele... eu não só perdi seis meses da minha vida com Sanem... eu perdi seis meses de vida do meu filho...
- Choro amargamente.
- O que você quer? Não bastou ter aceitado a chantagem daquele homem sem escrúpulos e asqueroso? Aquele maldito tirou tudo de mim! Ele me fez perder tudo sobre meu filho durante todos esses meses.... ele me fez perder Sanem... - Digo me levantando e bravo, mas logo depois me acalmo.
- Me perdoa Can... eu não devia ter aceitado a chantagem dele, mas ele ameaçou machucar o meu filho caso eu não fizesse o que ele pediu, por mais que tenha sido algo pequeno o que ele pediu...ele conseguiu o que queria, mas eu juro que não sabia. - Continua a dizer e eu balanço a cabeça conformado, pois eu já sabia de tudo... eu percebi algo nas suas palavras mas quando pensei em perguntar já era tarde demais.
- Can eu não tenho palavras suficientes para te pedir perdão. - Diz também deixando as lágrimas caírem.
- Eu não tenho o que te perdoar... você fez isso para proteger seu filho, eu entendo agora, mesmo que por causa disso eu tenha perdido tudo. - Digo focando os olhos no mar, e não nele.
- Eu soube... soube depois das suas palavras naquele dia que algo estava errado, foi tudo um plano, ele me contou tudo enquanto ria de mim por ter caído fácil, eu nunca imaginaria que ele estaria planejando aquilo, muito menos que te envolveria. Quem dera se eu não tivesse saído para pensar e me acalmar... aconteceu tudo que ele quis, você mentir, eu me descontrolar e te bater, eu sair sozinho... ele só não conseguiu uma coisa...
- Fazer Sanem acreditar no que eu havia dito... - Ele termina por mim, enquanto ainda está aqui em pé ao meu lado.
- Mas não adiantou... Sanem me odeia depois de ler aquela carta, por pensar que eu a abandonei, que fui embora porquê não conseguia abrir mão da minha liberdade...
Mas ela não sabe que eu fui obrigado a escrever aquela maldita carta... - Termino de dizer e olho para ele.
- Porque nunca disse a ninguém que tinha um filho? - Perguntei curioso.
- Porque eu tinha acabado de descobrir... eu estava me adaptando a ideia de ter um filho... eu ainda estou... mas eu já o amava e o amo tanto. - Responde suspirando ainda em pé com as mãos no bolso olhando para o mar.
- Eu me sinto tão culpado pelo o que aconteceu com você... as vezes achava que você estava morto, e isso me comia por dentro, mas aí eu eu ficava sabendo por Sanem ou outra pessoa próxima que você tinha ligado e eu ficava um pouco aliviado... mas eu sabia, sabia que você estava sofrendo e isso tirou minha paz... - Diz e vejo as lágrimas nos seus olhos descerem.
- Eu queria tanto contar a Sanem o que realmente aconteceu... mas ele também havia me ameaçado se eu contasse sobre isso para alguém... então eu fiquei com isso entalado sem poder contar, enquanto a culpa ia me comendo aos poucos, e ainda mais quando eu via o quanto Sanem estava sofrendo.
Eu tentei de alguma forma avisar você naquele dia... mas você não entendeu. - Termina de dizer e eu começo a relembrar exatamente daquelas palavras que eu somente vim entender depois.