Prólogo

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Março de 2017


- Não vejo a hora de conhecer a carinha do nosso anjo. - Teresa sorriu alisando a barriga inchada.

- A qualquer momento ela estará aqui, passou muito rápido. - Rafael sorriu para ela.

- Passou rápido pra você que não teve que ficar nove meses com uma criança apertando sua bexiga o dia todo, com dor nas costas, sem conseguir dormir.

     Rafael sorriu para Teresa que estava ao seu lado no banco do passageiro do carro. Eles estavam indo para casa depois de um jantar a dois. O último deles antes de se dedicarem exclusivamente ao ser que fizeram juntos numa noite louca de comemoração do último dia de residência de ambos.

- Impressionante como uma única noite muda tudo, não é?

     Teresa se virou para ver o seu namorado. Não que ela não gostasse dele, eles fizeram uma filha juntos, mas sabia que em outras circunstâncias, não estaria aqui com ele e muito menos grávida dele. Um bebê era o último que Teresa estava pensando quando se formou em medicina. E namorar Rafael era algo que não estava nos seus planos. Eles eram mais aqueles "amigos coloridos" que saiam e dormiam juntos quando queriam. Mas agora ela estava aqui com ele. Poderia dizer que eram amigos que dividiam uma criança do que namorados.

- Sim... - Ela suspirou. Só ela sabia o que tinha sentido ao ter que colocar seu sonho de ser médica em pausa por causa de uma noite. Uma noite que ela mal lembrava. - Mas tudo tem um motivo e se estamos aqui com um bebê é porque era pra ser.

     Rafael ficou em silêncio e Teresa também não puxou mais assunto. Eles já tinham discutido muito sobre esse tema. Era algo que eles sempre se estranhavam. Enquanto Teresa teve que pausar o início de sua experiência em hospital, Rafael continuou e já estava iniciando a profissão.

     A cada minuto que passava ela sentia um desconforto no estômago, mas não sabia o porquê. Pensava que era o bebê incomodado com a posição dela no carro. Teresa queria chegar em casa desesperadamente e apenas tentar dormir sabendo que não teria tanto sucesso assim. Os últimos dias de gravidez a estavam deixando ainda mais irritadiça por causa da falta de sono. E isso era só o começo.

- Você acha que... CUIDADO!

      Teresa mal teve tempo de se segurar na porta e tentar proteger a barriga. Ela viu faróis se aproximando tão rápido do carro deles num cruzamento, que Rafael não teve chance de frear e o desastre aconteceu. Um carro tinha avançado num sinal vermelho e atingiu em cheio a parte lateral do carro, do lado do motorista e eles saíram girando pelo acostamento até o outro lado da pista, batendo em um poste. A pancada foi tão forte que Teresa bateu com a cabeça no vidro do carro sentindo uma dor aguda no pé da barriga e o cheiro insuportável de sangue.

     Antes de entrar na inconsciência, Teresa conseguiu enxergar, graças a luz do poste que brilhou contra o carro causador do acidente, um símbolo redondo e amarelo com uma insígnia começando com R e outra coisa que ela não conseguiu decifrar na porta do motorista, que fugiu sem prestar nenhum socorro. A dor era tanta que foi puxando Teresa aos poucos para a escuridão e a única coisa que ela conseguia pensar era no bebê que carregava no ventre e ela sabia, dentro de si mesma, que ele não poderia resistir.

     Parecia que tinha uma escola de samba dançando dentro da sua cabeça e cada vez que ela respirava sentia como se mil agulhas afundassem em cada parte de seu corpo. Teresa sentia tudo doer, ela nunca imaginou sentir uma dor tão grande como aquela e quando voltou a consciência, a imagem do acidente brilhou em sua mente trazendo em seu coração um vazio que ela não sabia de onde vinha.

- Rafael... - Teresa sussurrou passando a mão por sua barriga agora plana. - Meu... meu bebê...

- Senhora? A senhora pode me ouvir?

     Uma voz surgiu do lado de Teresa e ela virou a cabeça com dificuldade para acompanhá-la.

- Senhora?

     Quem era? Ela nunca tinha ouvido essa voz. Onde estava Rafael? E o seu bebê? O que tinha acontecido com sua filha?

- Minha bebê, cadê ela? E Rafael? - Teresa tossiu sentindo a garganta arranhada e o som de sua voz era estranho aos seus ouvidos.

- Qual é o seu nome? Você se lembra do que aconteceu? - O médico desviou das perguntas de Teresa.

- Teresa. Meu nome é Teresa. Estávamos indo pra casa e um carro atravessou o sinal vermelho e... Doutor, cadê meu bebê? - Teresa temia pelo pior. Por quê o médico não respondia as suas perguntas? Ela sabia que quando isso acontecia, era porque tinha acontecido alguma coisa muito grave.

- Sua filha nasceu a tempo de salvá-la, Teresa. Tivemos que fazer uma cesárea em você porque ela estava ficando sem oxigênio, mas o pior já passou. Ela está na maternidade e assim que você estiver bem, traremos ela pra você.

- Eu quero vê-la agora. Já estou bem, mas e o Rafael? Ele estava comigo no carro, na hora do acidente. Como ele está?

     A forma como o médico olhou para Teresa fez com que seu coração disparasse um pouco mais rápido. O médico olhou para a tela onde informava os batimentos cardíacos de Teresa e voltou a encará-la.

- Teresa, você precisa se acalmar.

- Não! Eu quero saber do Rafael. - A voz de Teresa saiu mais forte e essa força a fez arfar da dor que se espalhou por seu corpo.

- Ele não resistiu... Eu sinto muito, Teresa. Rafael faleceu.

Amor para Recomeçar [PAUSADA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora