Capítulo 9 - Outras circunstâncias

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Gustavo

     Eu estava entorpecido. Quando foi que as coisas viraram de ponta cabeça? Eu fui comprar uma água pra Liz e a deixei um minuto, UM MINUTO com Verônica e no outro minuto, ela estava desacordada na rua depois de uma moto bater nela. O motoqueiro ficou em choque falando que não tinha conseguido frear e eu juro por Deus que senti minhas pernas fraquejarem com a visão da minha filha no chão. Foi a pior sensação da minha vida.

- A gente se encontra no hospital!

     Verônica quis vir com a gente mas eu estava tão fora de mim que fui grosso com ela. Tinha sido descoberto dela. Meu descoberto. Não deveria ter deixado minha filha com uma pessoa que ela ainda estava conhecendo.

     Quando estávamos na ambulância, liguei pra Estefânia pedindo pra que ela fosse pro hospital contando que a Liz tinha sofrido um acidente. Não tinha dito o que tinha acontecido porque falar por telefone seria a pior forma dela saber.

- Primo! O que aconteceu? - Estefânia apareceu atordoada assim que levaram Liz para a urgência. - Eu vim o mais rápido que pude! Cadê a Liz? - Ela me abraçou.

- Ela... Ela estava correndo e atravessou a rua, Estefânia. Uma moto passou e atropelou. - Senti uma angústia no peito me fazendo sentar na cadeira da sala de espera. - Levaram ela pra examinar e agora...

-O que? Mas como isso, gente? Liz sabe que não pode atravessar a rua sozinha...

- Sim, mas... Ela estava... Ela estava fugindo da Verônica.

- Fugindo? Porque? O que a Verônica fez?

- Eu não sei. Eu fui comprar uma água e a deixei com a Verônica. Pensei que elas sozinhas pudessem conversar melhor, se entendessem.

- Eu falei pra me deixar ir com vocês, Gustavo. A Liz não estava preparada!

- Eu sei. Eu tinha falado com ela antes. Falei que se ela quisesse ir pra casa, a gente ia, mas...

- E onde está a Verônica?

- Falei pra ela ir pra casa. Ela quis vir mas eu não estava com cabeça pra lidar com ela.

- Foi uma irresponsabilidade da sua parte! - Ela acusou.

- Eu sei, Estefânia. E se alguma coisa acontecer com a Liz... - Não consegui terminar de falar. Só de imaginar que minha menina estava em uma cama de hospital, eu me deixava louca.

- Alguém já veio falar com você?

- Não, só pediram os dados dela, mas não veio mais ninguém. - Minha perna balançava nervosa.

     Ficamos em silêncio por não sei quanto tempo. Me levantei e comecei a andar de um lado para o outro nervoso, querendo saber da minha filha.

- Gustavo, você está me deixando nervoso. Senta, por favor! - Estefânia pediu e eu voltei a me sentar. Passei a mão no cabelo que já estava bagunçado de tanto que tinha mexido.

- Familiares de Liz Lários?

     Ouvir a voz de uma mulher chamando o nome da Liz e automaticamente Estefânia e eu nos levantamos. Me virei para ver quem estava chamando e levei um susto ao ver que quem chamava era a mulher misteriosa que tinha encontrado na cafeteria e no elevador do prédio. Quando nos encaramos, ela ampliou os olhos ao me ver. Surpresa era o que estampava seu rosto.

- Você? - Perguntei surpreso. - Você é um médico que está cuidando da minha filha?

- Senhor Lários, eu sou a doutora Teresa Rezende, responsável por cuidar de sua filha.

- Vocês já se conheceram? - Estefânia perguntou estranhando.

- Nos encontramos algumas vezes. - Respondi.

- Senhores, gostaria de falar sobre a filha de vocês. Ela está estável, mas ainda estamos fazendo alguns exames necessários. Liz sofreu uma pancada na cabeça e precisamos avaliar a situação real do impacto.

     Seu tom completamente formal me deixa ainda mais espantado. Tanto por reencontrá-la quanto por saber que ela estava me contando sobre o estado de saúde da minha filha.

- Gustavo! Estefânia!

     Rosana apareceu atrás de Teresa (agora eu sabia seu nome e ela sabia o meu) e abraçou Estefânia.

- Rosana, que bom que você está aqui.

- Quando soube que era a Liz, vim correndo. A Teresa está cuidando dela, ela está em boas mãos. - Olhei para Teresa e vi em seus olhos um misto de cautela e curiosidade.

- Quando vamos poder vê-la? - Um querido.

- Ela ainda está fazendo exames, mas daqui a pouco será para o quarto. Estamos monitorando a pressão no cérebro para não haver coágulos. Estamos avaliando o nível de oxigênio que está chegando até lá.

- Mas ela vai se recuperar?

- A doutora Rosana também estará com ela em todo o atendimento. Estamos esperançosos de que Liz responda bem aos procedimentos. Ela está entubada para ajudar na respiração e também muitas vezes enganchou seu braço que torceu, provavelmente no momento da queda.

- Meu Deus, minha menina... - Estefânia choramingou.

- Senhora Lários, a sua filha...

- Ela não é minha filha, é a minha sobrinha. - Ela a interrompeu. - E pode me chamar de Estefânia. - Achei engraçado o fato de Teresa achar que a Estefânia era mãe dela. Espere! Isso fez com que ela pensasse que eu era casado. Com a Estefânia! Que visão horrível.

- Me desculpe. Estefânia, a sua sobrinha é forte e vai sair dessa. Quando ela estiver no quarto, uma enfermeira irá chamá-los para vê-la.

- Que pena que nos encontramos em outras situações... - Não posso deixar de lamentar. Essa mulher mexeu de verdade comigo.

- Sim, mas a sua filha está sendo muito forte, vai se recuperar. - Ela me deu um sorriso singelo.

- Eu espero. - Suspirei. Não iria me perdoar se algo acontecesse com a Liz por minha causa.

- Guga, nós vamos fazer tudo pela Liz. Ela está sob os cuidados da melhor pediatra desse hospital. - Segurei uma careta ao ouvir Rosana me chamar de Guga. Ela era a única que me chamava assim.

- Tenho que voltar, com licença. - Teresa se virou para voltar a urgência.

- Doutora! Teresa... - Segurei seu braço rápido e ela voltou a me encarar. - Obrigado.

     Teresa apenas concordou e saiu com Rosana atrás. Por um momento, soube que ela estava ali e que estava cuidando da Liz me trouxe um pouco de conforto. Eu não sei explicar, mas essa mulher... Teresa... me deixou mais calma.

- Quem era essa mulher? - Voltei a realidade com a pergunta de Estefânia.

- Alguém que conheci por aí.

- Não pareceu que foi encontro qualquer.

- O que você quer dizer? - Fingi estar confuso.

- Eu vi como vocês dois se olharam. Tem algo para me contar? - Olhei pra Estefânia e ela estava com um olhar curioso.

- Foi apenas alguém que esbarrei algumas vezes, Estefânia.

- Certo. - Sua voz dizia que ela não acreditava em nada do que disse. - Se você está dizendo... Mas ela é uma mulher bonita, convenhamos. E está cuidando da Liz.

- Sim... - Disse mais como um suspiro do que como afirmação. Me senti novamente na cadeira e fixei os olhos por onde Teresa tinha ido embora. Queria ver a Liz, queria ver ela novamente.

Amor para Recomeçar [PAUSADA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora