Capítulo 11 - Reflexos

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Teresa

- Não preciso conhecer muito pra saber que você é uma profissional. Além do mais, Rosana confia em você. E nos conhecemos há anos. Confio nela.

     Baixei a cabeça olhando para mi matcha. Seu olhar era muito intenso.

- São Paulo do tamanho do mundo e conseguimos nos encontrar várias vezes e ainda temos amigos em comum... - Pensei alto. Nos esbarramos em tantas pessoas diariamente, mas com ele foi até demais.

- Coisas do acaso.

     "É do acaso que saem os melhores casos". A voz de Rosana soou em minha mente. Tratei logo de mudar o rumo da conversa.

- Posso fazer uma pergunta? - Perguntei um pouco incerta.

- Claro.

- Como a Liz sofreu esse acidente?

     Gustavo se mexeu desconfortável na cadeira.

- Se não quiser falar, tudo bem.

- Não, você é a médica dela. Deve saber. - Assenti. - Estávamos no parquinho perto da minha casa que ela adora, e eu fui comprar uma água pra ela e... - Ele se mexeu inquieto de novo. - Foi questão de segundo que ela correu pra rua e a moto bateu nela. Liz é a minha vida inteira, se eu pudesse trocar de lugar com ela, trocaria sem pensar duas vezes.

     A forma bonita como ele falava da filha me encantou. Tinha uma adoração em sua voz, um amor incondicional que só quem é pai ou mãe sente.

- E a mãe dela? Eu pensei que a Estefânia fosse...

     O olhar de Gustavo passou de terno para duro e percebi que esse era um tópico sensível.

- Ela não tem mãe. Somos só ela e eu. E a Estefânia. Nós cuidamos da Liz desde o dia que ela nasceu. - Seu jeito brusco me fez recuar.

- Eu sinto muito, não queria causar um desconforto sobre isso. Mas eu entendo. Também tenho uma filha e sei o que é ser pai solteiro.

- Você tem uma filha? - Ele perguntou curioso.

- Sim, uma princesinha de quatro anos. - Sorri pensando na Dulce que tinha me acordado hoje pulando na minha cama e me enchendo de beijos.

- O que aconteceu com o pai?

- Ele faleceu no dia que ela nasceu.

- Sinto muito. - Ele apoiou a mão dele na minha, que estava em cima da mesa, por um momento.

- Entendo o que você passa. E pra mulher é ainda pior. Me julgam como péssima mãe porque tenho que deixar minha filha com a babá enquanto trabalho. Mas se eu não trabalhar, quem vai nos sustentar? Ser médica não é fácil, tenho que ficar o dia inteiro aqui enquanto ela fica na escola ou em casa.

- Tenho certeza que sua filha valoriza muito o que você faz e o tempo que vocês têm juntas. - Sorri para ele e olhei para sua mão ainda em cima da minha. Gustavo retirou logo em seguida limpando a garganta. - Preciso voltar para o quarto, pedi pra enfermeira ficar de olho na Liz.

- Eu vou checá-la daqui a pouco. Se tudo estiver bem, vamos retirar a medicação pra que ela acorde. Até o final do dia, você verá os olhinhos abertos da sua filha.

     Tentei animá-lo um pouco e ele se levantou acenando. Gustavo passou por mim para ir embora e eu não consegui resistir a vontade de me virar e olhá-lo. Ao mesmo tempo que fiz isso, Gustavo também voltou seu olhar para mim até que foi embora. O que estava acontecendo comigo? Nunca tinha me sentindo dessa forma com nenhum homem, nem mesmo com Rafael.

Amor para Recomeçar [PAUSADA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora