C L A Ú D I A

3.5K 262 7
                                    

-Filho já arrumou sua mochila? Seu pai está vindo te pegar!

-Ainda não mãe, mas separei o que vou levar, está em cima da cama.

No seu quarto que está quase sempre organizado, pois ele gosta de suas coisas guardadas, toalha molhada em cima da cama, nunca deixa, já levei muitas vezes puxão de orelha por isso.

Examino o que separou. Sorrio ao ver que para um final de semana com o pai está levando só duas peças de roupas. O Lucas tem sete anos, magro com os cabelos cacheados, meu filhote é um moreno lindo, é o meu tesouro a única coisa que eu tive de bom na relação com seu pai, um homem que me levou ao céu, entretanto me mostrou o inferno em menos de dois anos de casamento.

Nos conhecemos através de amigos, muita conversa, passeios românticos, juras de amor e logo depois tornou-se meu primeiro homem de modo que oito meses depois estávamos casados, minha casa passou a ser nossa casa. Após seis meses engravidei. Foi então, que vi tudo transformar‐se de doce para féu.

Amei por inteira, entreguei tudo que tinha e o que ele não possuía ajudei‐lhe a conquistar: seu sonho era possuir uma moto, como uma tola apaixonada financiei para ele com minhas economias, dinheiro que eu tinha guardado da minha recessão de trabalho.

Meu pagamento: ele me traiu, descobri quando o meu filho estava com seis meses de vida e ainda engravidou a outra, hoje ele vive com ela, mas não deixa de me importunar mesmo depois de oito anos separados.

Após a separação ele tentou tirar tudo de mim, alegando que minhas coisas eram dele. Só não conseguiu colocar minha casa no processo por que é uma herança de minha mãe, portanto de herdeiros.

Meus cinco irmãos abriram mão de suas partes para mim, fiz uma bela reforma, meu filhote tem seu quarto, tenho minha suíte, uma cozinha ampla, mais um banheiro e uma sala bem confortável, tudo simples mais é meu, batalhei muito por cada coisa que tenho para um cafajeste que não lutou por nada querer tirar, até a moto que financiei para ele tomei no final.

Ele paga a pensão para o meu filho, com brigas, mas paga. Sempre alega que não pode, tenta reduzi-la, " Eu tenho duas filhas!" Sempre usa esse argumento para tentar amolecer meu coração, mas não percebe que só me machuca, pois é como se o meu filho não existisse para ele, deve ser por isso que sempre perde quando entra com pedido para reduzir as migalhas que dar ao próprio filho.

Restrições já basta às que eu passei em toda minha adolescência, não foi fácil passar por ela que deixou marcas em mim, negra, cabelos cacheados, alta para a minha idade. Sempre era a maior da turma, tanto entre os amigos ou na escola, o que me acarretava apelidos nada agradáveis. O que afetou minha interatividade, com o tempo passei a me esconder: usar roupas sempre maiores que o meu tamanho, usar os cabelos sempre presos, falar pouco. Tinha vergonha até de perguntar alguma coisa ao professor em sala de aula.

Namorar então, tinha se tornado impossível, não sei porquê sempre me apaixonava pelo rapaz inatingível, aquele que todas queriam, porque eles eram os mais altos e com certeza o mais bonito.

-Mãe, o pai ligou disse que não pode me buscar -escuto o Lucas gritar da sala decepcionado, apagando minhas memórias por um instante.

-Ele disse o por quê? -falo calma para não deixar meu filhote mais triste.

-A Ema ficou doente, estão levando ao médico. -Sento ao seu lado no sofá e o afago para amenizar sua decepção. Emanuelle é a sua irmã mais nova, ele tem mais uma a Clarisse, que tem a mesma idade que a dele.

-Eu preciso sair para aquele bico hoje, vou falar com a Mary, meu amor você quer ficar com o Théo e o Ruan? Assim posso sair tranquila.

-Vou sim mainha! -ele responde animado.

-Vou ligar agora para a Mary, já volto.

Não é a primeira vez que o pai do Lucas faz isso, tem vezes que não acredito que sua filha está realmente doente, usou mais uma vez a desculpa para não pegar o filho, é típico dele, mentir, enganar e ainda nos faz sentir culpados por sua ação.

Porque foi assim que me senti por dois anos após a separação o "se eu" era o que mais usava em minhas falas: se eu não tivesse discutido; se eu me vestisse com roupas diferente ou mais arrumada; se eu fosse mais carinhosa ; se eu... -"Como fui idiota!" Procurei ajuda até na igreja, parecia uma maluca, não sucumbi por causa do meu filhote, mesmo chorando, negando minha existência bastava olhar para ele que eu sorria em meios as lágrimas.

Um bebê de seis meses precisava da mãe e foi o que me tornei, lutei com o que eu tinha, os meus braços fortes e coragem para trabalhar e ter o que comer. Por dois anos andei de cabeça baixa porque ousei amar um homem que pensei ser meu príncipe encantado, mas no final ele me tornou um sapo. Sim, eu porque ele continuou sendo esposo e pai em outra casa e eu escolhi continuar sozinha carregando uma culpa pelo o fracasso do meu casamento.

-Obrigada Mary, você me salvou mais uma vez!

Mary é minha amiga, a minha mãe trabalhou na sua casa por muitos anos, eu quase sempre estava com ela e seus irmãos, Tony e a Dilen, tornei‐me amiga da família, mesmo quando moravam em uma casa perto da praia, eles sendo ricos nunca me destrataram, até fazia as refeições com eles á mesa. Hoje por razões financeiras e emocionais moram na mesma comunidade que eu moro.

-Por nada! Pode ir trabalhar em paz e descansa um pouco amanhã, não precisa pegar seu filhote cedo.

-Mary não vou recusar. -falo rindo e lhe dou um abraço. -trabalhar 24 horas não é mole.

Após deixar meu filhote, sigo para a parada de ônibus, Moro em uma comunidade mas é muita tranquila, cheguei nesse bairro ainda na minha adolescência, então conheço praticamente todo mundo.

Estou esperando o Túlio, um amigo, que irá me dar uma carona de moto, foi ele que me indicou como segurança para o dono de uma boate, esse é o meu bico dessa noite e não é a primeira vez que faço, já conheço o pessoal. Para esses eventos não uso o uniforme da empresa, a única exigência é roupa preta com blazer.

-Vamos amiga, o dono é gentil, mas não gosta de atrasos.

- Não precisa correr, ainda temos tempo seu maluco.

Não quero piedade de ninguém, depois do pai do Lucas não me envolvi emocionalmente com outro homem, tenho relacionamentos passageiros, não quero casamento, nem compromisso.

"O amor nunca me favorece em nada. Quero focar na minha vida profissional e criar meu filhote. Eu escolhi lutar sozinha, não preciso de um homem para ser feliz!"

 Eu escolhi lutar sozinha, não preciso de um homem para ser feliz!"

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
TE ENCONTREI Onde histórias criam vida. Descubra agora