26 - Broken 🌟

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— Inevitável... — Taehyung repetiu a palavra que ouviu em um murmúrio, atônito, observando Erik se afastar.

Por alguns segundos, tragado pela cor cinza que por muitos anos envolveu a sua existência, Taehyung se viu novamente na adolescência. Em sua mente vislumbrou o garoto tolo, bobo e excêntrico que, por muitas vezes ignorado ou simplesmente tachado de esquisito, provou da maldade do ser humano ainda muito cedo.

Foi inevitável!

A mesma palavra foi usada para tentar atenuar o crescente sentimento de culpa que lhe acompanhou por um longo tempo.

Trouxe Alice para junto de si, apertando-a em seus braços, a fazendo segura, como não pode fazer por outra pessoa no passado. Hoje, presenciava, mais uma vez, o quão maldoso o ser humano pode ser com o seu semelhante.

Vivenciar a maldade humana estava acabando com o que restava de Alice, uma flor persistente, que tentava desabrochar, a despeito das intempéries vividas. Porém, a maldade a fazia murchar e, praticamente, "morrer" diante dos seus olhos.

A cor cinza se fez presente nela, mais uma vez. E o azul, belo e vistoso, brilhante, se recolheu para dentro da sua alma em pedaços.

— Está tudo bem, ele já foi!

O medo e pânico sentidos faziam Alice respirar com dificuldade, tanto que precisou respirar fundo inúmeras vezes, inalando o cheiro de paz que Taehyung sempre transmitia para tentar abrandar o amontoado de sentimentos.

Parados, ainda, em meio ao grande salão, sendo observados pelo barman, enquanto Alice tentava se recompor, Taehyung se permitiu sentir o que vinha tentando conter a todo custo: ódio.

Seus pensamentos foram tomados por uma onda insana de fúria, o que lhe causou um tremor repentino no corpo. Um calor doentio tomando seus poros e células, drenando seus pensamentos e deixando a lógica esquecida em algum lugar escuro da sua mente.

No entanto, ao sentir o corpo de Alice tremendo descontrolado entre seus braços, recobrou a sanidade e o equilíbrio que estavam escapando sutilmente por entre seus dedos.

— Vamos? Algumas pessoas estão nos observando... — chamou Alice, baixinho, que assentiu enquanto ainda tremia levemente.

No entanto, a despeito da necessidade de sair do centro do salão para fugir de olhares curiosos, desesperado para acabar com a agonia que acometia Alice, Taehyung buscou as mãos pequenas e gélidas dela, antes que pudessem se mover até Karen e SeoJoon, no intuito de a acalmar.

— Olha para mim?

Contudo, as palavras de amor e conforto que ele pretendia dizer perderam-se na linha tênue entre o dizer e o esquecer. Sua mente havia formulado as mais doces palavras, embutidas com o mais profundo sentimento que ele nutria por ela, as quais foram engolidas pela visão que seus olhos lhe entregavam.

No exato instante em que pousou as vistas nos pulsos dela, esqueceu-se!!! Esqueceu-se de tudo. O que sentiu o fez temer por si mesmo, por ela, por sua família e por tudo o que dependia de Kim Taehyung.

A manga da camisa que Alice vestia, sutilmente, deslizou pelos braços finos, deixando à mostra marcas de uma violência silenciosa, a qual ela esforçou-se para esconder.

— Não foi nada, Tae. — murmurou, a voz falhando.

Alice tentou puxar seus braços quando notou que deixou-se vacilar, mas foi em vão. Taehyung prendeu a respiração e a segurou firme, pelos braços, fitando em silêncio e demoradamente a pele clara que, marcada por um tom arroxeado em pequenos pontos, causava-lhe enjoo, pois lembrava de cada palavra dita por Alice acerca de todas as atrocidades que ela viveu anteriormente e que aconteceu mais uma vez.

The CURE Où les histoires vivent. Découvrez maintenant