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2020

O Lewis está, como tem vindo a ser um hábito, a criar músicas. Neste momento, deve estar a fazer mais um instrumental para uma das suas experiências. Já lhe disse, inúmeras vezes, que se ele quisesse, poderia ser um músico de excelência. Enquanto ele está assim distraído, eu tento acabar de ler um livro, mas passo mais tempo a olhar para ele e a passar com a minha mão pelas suas costas do que outra coisa. 

Passar o tempo deitada é o meu novo desporto preferido e ainda nem a meio do meu tempo com gesso vou. É a última noite que vou passar com o Lewis, durante as próximas duas semanas. É incrível como começo a ficar cheia de saudades dele e ainda o tenho do meu lado. Não me queria tornar este tipo de pessoa, completamente viciada no meu namorado, mas ele não me dá outras hipóteses. Torna-se aditivo o amor que todos os dias sinto que ele me dá, o respeito com que ele me olha e me trata e a forma como eu me sinto cada vez mais apaixonada por ele.

Voltei a fechar o livro, passando com a minha mão pelas costas dele. Está tão concentrado, com os auscultadores nos ouvidos, que apenas se endireita assim que a pele da minha mão entra em contacto com a dele. Quando nos começámos a conhecer melhor, claro que o fui pesquisar pela internet e já conhecia as suas tatuagens mesmo antes de se despir à minha frente pela primeira vez. Hoje, ao ter esta sorte de estar ao lado dele, perco largos minutos a contemplá-las.

Acabei por levantar um pouco o tronco, esticando-me até ele de forma a dar-lhe vários beijos espalhados pelas suas costas.

- Alguém quer atenção? – perguntou, retirando um dos auscultadores dos ouvidos.

- Por acaso gostava de aproveitar o resto da minha última noite contigo de outra maneira – ele olhou-me por cima do ombro, esticando-se na minha direção para juntar os seus lábios aos meus.

- Será que posso só acabar aqui umas coisinhas?

- Estás, mesmo, a dar-me uma nega para acabares a música? – falávamos com os lábios a tocarem um no outro enquanto ele continuava a beijar-me por entre palavras.

- Estou. Tens de aprender a ficar sozinha nas próximas noites – mordeu-me o lábio inferior, afastando-se logo de seguida e focando-se de novo na música, mas mantendo a orelha destapada.

- O Daniel vem cá depois de amanhã – disse, depois de encostar a minha cabeça nas suas costas.

- Ai vem?

- Sim. Ele só vai para lá nessa noite e quer despedir-se de mim – senti o desconforto no Lewis, que se começou a mexer mais do que até então – escusas de ficar aí todo nervoso.

- Deves pensar que eu me esqueço que dormiste com ele em Silverstone em 2018 – acabei por me rir baixinho – não sei onde é que está a piada!

- Porque não fui eu que andei a comer uma Britney no México, quando eu claramente me ia declarar a ti – ele virou o corpo dele, fazendo com que eu acabasse por tombar e ficar deitada na cama a olhá-lo – não faças de conta que a tua mãe não te disse.

- Ela disse, mas tu não – apoiou as mãos no colchão, ficando a olhar-me.

- Acredita que eu estava cheia de vontade de falar contigo. Tinha mil e um cenários daquilo que te queria dizer, mas acabei por ver o que não queria.

- E foste afogar as mágoas com o Daniel.

- Ao início, foi mesmo só para deixar de estar ao pé de ti – sentei-me, passando a minha mão direita para cima da perna dele – mas..., nós acabámos por prolongar ali um bocado a cena que tínhamos.

- Desculpa? – estava tão confuso, mas ao mesmo tempo queria rir-se – tu andaste com o Daniel e não me disseste nada...?

- Foram dois meses – encolhi os ombros – ninguém soube, foi na altura em que estavas já a morar aqui e ele andou lá por Londres. Depois foi para a Austrália e acabou tudo.

Always, BeWhere stories live. Discover now