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BEATRICE

Se consegui pôr por palavras aquilo que sinto em frente do Lewis, na minha cabeça não consigo traduzir todos os pensamentos que atravessam a minha mente. É uma sensação demasiado avassaladora para um tão curto espaço temporal, já que há uns dias atrás eu estava bem e nada destes pensamentos me assombravam. Eu não duvido de mim, das minhas capacidades e dos meus sentimentos. Apenas estou a perceber que, provavelmente, não sou capaz de saber lidar com tudo isso.

O meu temperamento podia ter um outro sentido de oportunidade e ter explodido depois da corrida, em vez de o ter feito no primeiro dia de treinos do Lewis. Eu não lhe poderia ter feito uma coisa destas, sabendo que ele não iria descansar enquanto não resolvesse as coisas comigo.

- Para estares com essa cara, o teu patrão só pode ser o Lawrence Stroll – assustei-me com aquela voz tão simpática, mas acabando por me rir ao mesmo tempo. O Lawrence é o dono da Aston Martin, uma das equipas de Fórmula 1 e, talvez, das pessoas com mais ar de mau feitio.

- Graças a Deus eu não trabalho aqui – acabei por sorrir, olhando para a pessoa que me tinha falado.

Uma jovem rapariga olhava-me, provavelmente achando muito estranho eu não trabalhar aqui e estar na zona dedicada ao staff. Ela também não tem roupa de nenhuma equipa, deverei calcular que seja namorada de alguém?

- A tua cara não me é nada estranha – e eu devia estar com máscara, mas neste momento não consigo andar com aquilo na cara – eu juro que nem parece que venho a corridas há anos – apontou para o lugar ao meu lado, como que pedindo se se poderia sentar.

- Fica à vontade – ela sentou-se ao meu lado, acabando por retirar a sua máscara. Estando todos testados e com vacinas tomadas, acabamos por estar um pouco mais à vontade. Fiquei a olhar para ela, não reconhecendo a sua bonita cara. Com umas bochechas bastante salientes e um sorriso contagiante nos lábios, aqueles olhos verdes são do mais bonito que alguma vez poderia ver.

- Eu sou a Camila – esticou a sua mão na minha direção e apertei-a logo de seguida.

- Beatrice, mas aqui todos me conhecem como Bea.

- Não! – virou ligeiramente o seu corpo para mim, como se tivesse uma mola a controlá-la – todos te conhecem como Be! Tu és a Be do Lewis! – levou a mão à testa por uns segundos, rindo-se logo de seguida – eu sou horrível com caras, mas safo-me com nomes.

- Enquanto eu passar despercebida de rosto, isso é ótimo.

- Mas não passas, deixa que te diga – fez uma cara estranha – eu estou a tratar-te como se te conhecesse desde a pré-primária, meu Deus, desculpa.

- Não tem problema – acabei por sorrir – haja alguém que o faz!

- Ótimo.

- Tu trabalhas aqui?

- Sim – puxou do seu badge identificativo, que tinha no bolso do casaco, mostrando-me – McLaren – voltou a colocá-lo no sítio de onde o tinha retirado – às vezes prefiro não andar por aí a mostrar que sou da equipa.

- Porquê?

- Eu comecei a trabalhar há pouco tempo, então ainda consigo passar despercebida e aproveitar o fim de semana de outra forma. Dá-me mais tranquilidade, é o meu primeiro Grande Prémio a pertencer à equipa – quem diria que, meia hora depois do meu surto com o Lewis, ia estar a ouvir uma rapariga que pretende passar despercebida, mesmo trabalhando numa das equipas com mais visibilidade no desporto.

- Acho que te compreendo um bocadinho.

- Muita pressão ser a namorada do campeão do mundo?

- Se fosse só isso – encolhi os ombros – hoje não está a ser dos melhores dias por estes lados.

Always, BeOnde histórias criam vida. Descubra agora