5 - Luffy

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Law olhava para o interior do quarto de hospital através da pequena janela inserida na porta de madeira que separava o corredor daquele andar da maca onde o garoto misterioso continuava adormecido. Depois de intervenção cirúrgica e de duas transfusões de sangue de emergência, apesar do estado ainda critico do ex-cadáver, os médicos informaram que não podiam fazer mais nada por ele a não ser não esperar. Nisso, passaram algumas horas desde que fora encontrado e Law observara o seu rosto através do pequeno vidro, na cama dentro daquele quarto bege e branco do qual certamente o menor não sairia tão cedo.

- Capitão! - O policial foi retirado dos seus devaneios com uma voz familiar a entoar o seu ouvido. Esta, era originária de um chamado feito por um médico já bem conhecido pelo, homem de roupa casual que mantinha as mangas da camisola arregaçadas, deixando à vista as tatuagens bem marcadas motivo de, desde que chegou, receber olhares estranhos dos pacientes do edifício que passavam por ele.

- E ai, Bepo... Vim buscar os resultados das analises.

- Já os tenho - bufou, abrindo o quarto e fazendo sinal ao outro para que o seguisse. Entrando dentro do cómodo com o policial e fechando a porta em seguida, o médico de cabelos brancos e bata no mesmo tom tirou alguns papéis da primeira gaveta da mesinha junto da cama do garoto e entregou-os ao policial. - Ele passou por maus bocados. Sinais de abuso sexual, um monte de cicatrizes pelo corpo que sugerem cortes e queimaduras. A pior é essa - Bepo retirou o lençol que cobria o corpo magro adormecido, revelando o peito do menor. Lá, um "X" enorme que Law não vira na cena do crime por estar tapado com o tecido da única camisola que o rapaz tinha vestida, era agora percetivel e fazia revirar o estômago de quem a visse. - Não sei como ele sobreviveu a isso. - Pegou em algumas fotos - o resto do corpo também está uma bagunça. Veja aqui...

Law observou bem as imagens. Infelizmente, ele mesmo podia determinar a causa de todas aquelas marcas só de as olhar, algo que o deixava cada vez mais desconfortável com a situação. Como alguém podia fazer algo assim? Acima de tudo, continuava com aquela estranha sensação, como se já tivesse visto aquele rosto adormecido antes.

- Sabem quando vai acordar?

- Não. O estado dele é bem delicado, perdeu muito sangue. Foi uma sorte conseguir estabiliza-lo. Mais uma coisa, ele tinha algo estranho na barriga. Pode ser-vos útil.

Bepo baixou mais o lençol até ao ventre do menor e apontou para alguns arranhões específicos onde Law conseguiu ler uma única palavra.

- "Tama"... Tama? Quem é a Tama?

Bepo encolheu ombros. Law, apoiou o rosto na mão e continuou a olhar o moreno deitado na sua frente, com os pulsos agora enfaixados, como se aquilo o ajudasse a decifrar a situação. O olhar parou quando, no rosto dele, viu algo que não tinha notado antes. Uma pequena cicatriz de baixo do olho esquerdo que o fez ficar branco como papel ao associar e perceber, finalmente, de onde o reconhecia. Aquele tom de cabelos completamente negros, aquele rosto - agora diferente - mas tão parecido ao da sua infância, aquele porte baixo inconfundível... Law já o vira, sim, numa única foto que encontrara na entrada daquela casa sempre que estava lá...

Bem nessa hora, Kid chegou no quarto um pouco ofegante.

- Law! Descobrimos a identidade do garoto, as impressões digitais dele estavam na base de dados de pessoas desaparecidas. Você não vai acreditar-

- Luffy... - Murmúrio o tatuado.

- Sim... É o nome dele... Você já foi informado?

- É o irmão do Ace, porra! Ele desapareceu á 12 anos atrás!

- Ace? Aquele Ace que eu estou a pensar? O idiota que namora com a Boney?

- É... Esse mesmo!

Law ficou a observa-lo. Ace sempre falara nele, no irmãozinho que fora levado 12 anos atrás, na esperança que tinha de que ele ainda estivesse vivo, algures, apesar de todos lhe dizerem que não. Naquela altura, ele sempre preferia estar com Sabo. Não que não amasse o caçula, mas como ambos tinham idades mais próximas acabavam se dando melhor. Luffy era o protegido dos dois, aquele no qual tinham de ficar de olho o tempo todo para que nada de ruim lhe acontecesse. Naquele dia saíram cedo para o parque aquático e mandaram o irmãozinho para o escorrega de água enquanto ficavam a discutir o que fariam a seguir, ao invés de o acompanharem e esperaram ele descer para seguirem, finalmente, juntos para as diversões. Mas Luffy nunca desceu.

Começaram a procurar e a gritar por ele, mas nada. Chamaram o avô, os seguranças do parque e finalmente, veio a polícia.

Passou um dia... Dois... Uma semana... Um mês... Um ano... Nunca mais o encontraram e a cada dia, Ace e Sabo se culparam mais pelo que acontecera. Acabaram por precisar de procurar ajuda psiquiátrica depois que o caso foi arquivado sem chegarem a nenhuma conclusão, achando ambos que o mundo desistira do irmão mais novo e o descartara como se não existisse mais. Conseguiram superar essa culpa de o deixarem ir, mas nunca o esqueceram. Nunca deixaram de pensar num possível reencontro, por mais que a cada dia que passasse, essa hipótese parecesse mais impossível.

Com o tempo, eis que veio a faculdade onde Ace conheceu e passou a namorar com Boney, amiga de infância de Law e Kid. Depois de Law se formar como médico e acabar no Instituto de medicina legal a trabalhar com a polícia local como médico-legista, o mais velho contou-lhe então a sua história numa tentativa de que Law pudesse tentar, de algum jeito, usar os seus contactos com as autoridades para reabrir o caso. Sem sucesso... Law não era tão influente assim e um desaparecimento com tanto tempo dificilmente seria reaberto sem um motivo muito forte. Apesar disso, os dois irmãos não se afetaram. Amigos na mesma, convidavam frequentemente os dois polícias e a garota de cabelos rosa para sua casa onde uma fotografia dos três irmãos se mantinha, sem exceção, no móvel da entrada. Uma fotografia em que além dos dois, o rapaz de sardas e o de olhos azuis, se encontrava um terceiro garoto com cabelos negros, olhos castanhos e o maior sorriso que Law alguma vez vira.

Agora, ali estava ele doze anos depois, bem na frente de Law. Contudo, não parecia que o policial voltaria a ver de novo aquela expressão inocente que outrora, na sua infância, o garoto sempre portava no seu rosto.

- Acha melhor avisa-los?

- Termos de contactar com a família. Eu falo com eles, Kid. Tenho de lhes explicar que precisam de calma e que esta situação é crítica.

- Deixo isso com você, então. Mais uma coisa, temos os resultados dos cabelos encontrados na boca dele. Pertencem a duas pessoas diferentes. Uma, podemos deduzir que pertence a um homem mas não temos identificação. A outra, é de uma garotinha que foi dada como desaparecida á cerca de um mês.

- Garota... Deixe-me adivinhar... Tama?

- É... Esse o nome... Outra conhecida sua? - Law acenou em negação.

- Acho que, onde quer que ele estivesse até agora, ela estava lá. Ela tem a mesma idade que ele tinha quando desapareceu. Você está pensando o mesmo que eu?

- Não sei, Law. O que você está pensando?

- Que ela pode ter sido raptada com o intuito de o substituir? - Interrogou Bepo, atento à conversa, chamando à atenção do ruivo que agora, o encarava com desdém.

- Pense comigo. - Law completou. - Se ele soubesse disso, se o Luffy tivesse noção de que iria morrer, faria sentido deixar uma mensagem na própria pele e guardar o cabelo onde achava que o agressor não o encontraria para dizer que ela está viva e com quem. Kid... Ao fim desses 12 anos ele tentou salvá-la, mesmo que fosse depois de morrer.

- Mas não morreu.

- Pois não. E agora, temos de encontrar essa garota! Encontramo-la a ela, encontramos o raptor dos dois.

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