33-Camila Stevens

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Afastamo-nos quando ouvimos alguém bater à porta. Assim que Bernardo deu permissão, Alicia, a sua mãe, entrou com uma cara triste.

-Posso interromper?-ela aproximou-se.

Nós levantamos do sofá e ficamos à sua frente.

-Posso conversar contigo Camila?-ambas nos encaramos e eu apenas assenti sorrindo.

-Vou deixar-vos a sós-Bernardo beijou os meus lábios e a testa da mãe e saiu deixando-nos sozinhas.

-É melhor sentarmos-Ally sentou-se no sofá e eu fiz o mesmo.

-Ally, eu só quero que percebas que eu só tenho 18 anos e sinto que tudo na minha vida está a acontecer muito rápido-olhei para ela.

-Eu percebo perfeitamente o que estás a sentir Mimi-ela pegou na minha mão e olhou nos meus olhos-vou contar-te uma coisa...-ela pausou antes de continuar-quando eu tinha a tua idade quase provoquei uma guerra entre o Alfa e os membros do conselho por causa da mesma situação que a tua.

-A sério?-fiquei surpresa.

-Quando me casei com o Alfa-Ally sorriu assim que falou do seu marido-nós fomos obrigados a ter um filho após consumarmos o nosso casamento, eu achei aquilo um absurdo, pois eu só tinha apenas 18 anos também. Para mim era inaceitável essa estúpida regra que o conselho impôs a toda a alcateia-Alicia revirou os olhos-eu e o meu marido lutamos por muito tempo para que essa regra fosse excluída da nossa alcateia, mas sem sucesso, infelizmente.

-E o que fizeram depois?-perguntei curiosa.

-Alguns meses depois descobri que estava grávida-Ally estava com os seus olhos marejados de alegria ao se lembrar desses tempos-dentro de mim não cabia tamanha emoção e alegria, eram tantos sentimentos ao mesmo tempo que eu não conseguia distinguir cada um deles.

Eu sorri com lágrimas nos olhos também.

-Mas o momento mais mágico da minha vida...-ela piscou-me o olho e ambas rimos entre o choro-foi quando vi o meu menino pela primeira vez nos meus braços, foi naquele momento e naqueles breves segundos que o tive junto a mim que eu soube que não havia amor maior que eu pudesse sentir neste mundo-lágrimas eram visíveis no rosto de Alicia-ele era meu, era o meu menino e eu iria fazer de tudo para o proteger do mundo e agora?! Olha só...o meu menino cresceu, já não precisa da mãe e é casado com uma bela menina-ambas sorrimos.

-Eu amo muito o seu filho, mas não me sinto preparada para um filho agora-limpei algumas lágrimas do meu rosto.

-Do que tens medo Mimi?-Alicia apertou a minha mão que ainda se mantinha entre as suas-sei que algo mais se passa aqui...-ela colocou a sua mão por cima do local do meu coração-e aqui?-e agora apontou para a minha cabeça-podes confiar em mim.

-Eu confio-sorri-és como uma mãe para mim Ally-ambas sorrimos cúmplices.

-Então?-ela colocou a mecha do meu cabelo para trás da minha orelha.

-Tenho medo que me aconteça o mesmo que aconteceu à minha mãe-deixei cair uma lágrima-e se algo correr mal? E se eu...morrer!?

-Shhhh...-Alicia puxou-me para um abraço terno e materno, o que me fez tranquilizar um pouco-vai tudo correr bem e tu não estás sozinha, sim?

-Obrigada-falei ainda com a cabeça pousada no seu ombro.

-Nao faz mal termos medo às vezes-ela beijou a minha testa-faz parte de nós.

-Eu sei, mas nem sempre é fácil-encolhi os ombros.

-Eu sei...-ela concordou-mas te garanto que desta vez vai ser diferente-Alicia levantou-se e andou de um lado para o outro pensativa-nós vamos acabar com essa estúpida regra juntas.

-Como?-andei até ela que agora se encontrava na secretaria do marido a folhear uma agenda.

-Dentro de alguns dias teremos uma reunião com o Conselho e tu e o Bernardo podiam vir connosco.

-Mas de certeza que se formos o conselho vai-nos pressionar para termos um filho e...

-É aí onde eu queria chegar-ela encontrou o que procurava-podes chantagiá-los dizendo que só terás um filho assim que eles colocarem um fim nessa regra.

-E eles vão aceitar assim tão fácil?

-Eles acreditam que a procriação e o aumento da família vem sempre em primeiro lugar, eles não pensariam duas vezes Mimi-ambas sorrimos-era a dignidade deles posta em causa e, também, tem outro peso nesta reunião.

-Qual?-perguntei.

-Tu-eu franzi a testa-és uma bruxa e sendo tu a bruxa suprema da tua comunidade, eles não vão querer abrir uma nova guerra entre lobos e bruxas.

-Entendi-ambas sorrimos cúmplices-só espero que tudo isto resulte de verdade Alicia.

-Vai resultar minha querida-abraçamo-nos.

-Depois desta conversa sinto-me muito melhor-sorri para Ally-muito obrigada Alicia, não sei o que faria sem ti.

Rimos.

Ally escreveu o dia da reunião num pequeno papel e entregou-me e eu guardei no bolso.

-Agora é melhor irmos antes que o meu filho enlouqueça-gargalhamos e saímos do escritório.

Antes que eu pudesse abrir a porta do escritório, senti a mão de Alicia agarrar a minha. Olhei para ela confusa, conhecia demasiado bem a Alicia para saber que ela queria perguntar algo.

-Está tudo bem?-encarei-a.

-Posso fazer-te uma pergunta?-perguntou.

-Claro-assenti.

-Tu e o meu filho...bem, vocês...-ela estava visivelmente nervosa-vocês consumaram o casamento?

Senti as minhas bochechas queimarem ao ouvir a sua pergunta.

Eu estava tão envergonhada por falar daquele tipo de assunto com Alicia.

-Si...sim...-coloquei uma mecha de cabelo atrás da minha orelha nervosa.

-Diz-me...vocês só se envolveram ou...-ela também ficou nervosa e eu não percebia o porquê.

-Ou...?

-O que eu quero perguntar é...-ela engoliu em seco-vocês fizeram a união de sangue?

-União de sangue?-olhei para ela confusa.

-Não fizeram-Alicia afirmou virando costas e andando de um lado para o outro.

-O que queres dizer com isso Ally?-aproximei-me dela preocupada.

Alicia virou-se de frente para mim e olhou nos meus olhos.

-União de sangue é quando o casal bebe do sangue do outro para que de uma certa forma estejam ligados e...

-Não sabia disso-neguei-o Bernardo nunca me falou disso.

-Ele certamente não te queria assustar com um dos nossos costumes de lobos-Alicia sorriu carinhosa-o meu filho ama-te demasiado, ele não conseguiria ver-te sofrer.

-Eu sei Ally-sorri-agora é melhor irmos antes que Bernardo trepe as paredes-ambas rimos e saímos do escritório em direção à sala de estar onde se encontravam todos a conversar animados.

-Está tudo bem?-Bernardo veio ao nosso encontro.

-Sim-ambas respondemos e rimos.

-É melhor irmos para casa, está a ficar tarde-Ben olhou para o seu relógio de pulso e eu assenti.

Despedimo-nos de toda a família e fomos para nossa casa.

Camila e o MonstroOnde histórias criam vida. Descubra agora