Sempre chove no final

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Pov:Patrick

~Consigo ouvir suas engrenagens girando daqui.~ Chandra  dissr se sentando ao meu lado, no degrau do trailer dela.~ Seus pensamentos valem um dólar?

~Eu duvido muito.

~Problemas no paraíso bonitão?~ Eu sorrio com a forma que ela fala. Respiro fundo e seguro minha garrafa de água com força.

~ Já sentiu que não podia controlar sua própria vida?

~ Ah, diversas vezes. Todos os dias, desde quando eu acordo até quando eu vou dormir.

~ E o que você faz?

~Coloco a minha vida no piloto automático.~Ela riu.~ Deixo ela seguir o rumo que quiser, sem arrependimentos.

~E se não houvesse piloto automático? E  se você estivesse em uma pista a 200km/h  prestes a cair de um penhasco... Mas achando tudo uma maravilha, com o se andasse em uma montanha russa, mesmo sabendo que vai morrer.

Ela ficou em silêncio, olhou pra mim de maneira estranha, antes de virar pra frente e encarar os outros Trailers.

~Então eu aproveitaria os segundos maravilhosos,  aproveitaria cada momento antes de cair no penhasco.

Suspirei, não era isso que eu estava esperando ouvir. Eu esperava ouvir uma coisa diferente, mas vindo de Chandra não se pode esperar nada.

~As vezes os penhascos só estão lá, pra nós mostrar que existe uma consequência, e como o resultado é a morte temos medo de pisar no acelerador.

Ela estava certa. Estava muito certa.

~ Mesmo que nesse carro não esteja só você? E se tivesse outra pessoa com você, seu marido por exemplo.

~ Bom, aí é outra história, eu posso me responsabilizar pela minha morte mas não pela dos outros. ~Chandra olhou pra mim de novo.~O que está acontecendo Patrick?

~Estou em um carro, dirigindo à 72 horas, cansado, mas com medo de apertar o piloto automático e sofrer um acidente.

Eu senti quando a mão dela serpenteou e buscou a minha. A mão pequena e fria apertou a minha com força e ela não falou nada. Apenas pousou a cabeça no meu ombro. Chandra era assim, intensa quando necessário, quieta quando se precisa e alegre sempre que pode. E naquele momento eu precisava apenas da sua compreensão.

(...)

Nunca fui um cara muito religioso, mas assim que deixei o trailer de Chandra, eu comecei a orar pra qualquer ser divino que pudesse me ouvir. Eu não queria ter que trombar com Ellen, não depois do que aconteceu no banheiro, não depois do que eu fiz no meu banheiro.
Mas pelo visto, minhas orações não adiantaram muito. Quando entrei ela estava lá, sobre o script, com seus óculos de grau. Ela levantou os olhos durante um momento, mas depois desviaram de mim e voltaram para o papel. 

~Bom dia.~Ela falou em uma voz baixa, tão  baixa que eu quase não a ouvi.

~Dia!~ Foi a única palavra que eu falei. Ela parecia bem, tirando o fato que não olhava pra minha cara.

Ela não disse mais nada depois disso, simplesmente deu um sorriso de lado, pegou o script e  uma torrada que eu nem sequer tinha visto na mesa e saiu pela porta. Eu teria que gravar com ela hoje, teria que beijá-la na cena do sonho.  Seria um beijo rápido, mas mesmo assim um beijo, fazia meses que eu não a beijava. Não que eu esteja preocupado com isso, de forma alguma, mas era uma sensação diferente.

(...)

Quatro horas foi o quanto durou a filmagem, quatro fucking horas que eu t8ve que ficar seminu em uma cama, com a coxa de Ellen esfregando na minha, e tendo que olhar a cara de sonso de Chris O'Dannel. Foi o pior pesadelo que eu já tive, eu queria desaparecer daquele lugar. E para melhorar, quando saímos do set o tempo estava completamente fechado.

~Mais que merda.

~Pois é amigo, pelo visto vai ter uma tempestade, Tony disse que é melhor ficarmos aqui, estão evasiando o set do hall do hosital pra ficarmos lá. Ninguém vai pra casa. ~Eric disse sorrindo pra mim enquanto corria pra outro set.

Estamos em Los Angeles, por Deus aqui  não chove! Era um dia ruim, Ellen  não olhava pra minha cara, muito menos falava comigo, passei quatro horas com O'Dannel, vendo ele se esforçar pra fazer Ellen rir, o que era patético. Eu estou em um péssimo dia, e  agora uma tempestade vai vim. Pra fechar com cereja essa merda. Eu respiro fundo, e busco meu celular no bolso, rapidamente disco o telefone de Jill.

~Alô?

~ Oi, eu só queria saber se você já pegou a T na escola.

~Sim, a escola ligou dizendo que uma tempestade estava a caminho. Que loucura, o dia estava tão lindo.

~ Pois é.

~Você vem pra casa?

~ Na verdade não, Tony nos proibiu de sair, não podemos pegar a estrada com o risco de uma tempestade a caminho. Vamos todos ficar aqui até isso passar.

~ Que porcaria! Me liga assim que der, ok? Te amo.

~Certo.Também. Se cuida e toma conta das crianças.

Desliguei o telefone.  Droga, que ventania! Eu só estava usando uma blusa de algodão, que merda precisava pegar meu casaco no trailer.

~Ou  Patrick, Vem  logo, já está começando a chover!

Eu virei pra ver, Sara gritando pra mim.

~ Eu já vou!Só  vou pegar meu casaco.

Não esperei ela responder, apenas corri  debaixo dos pingos pesados e até então lentos até meu Trailer. Quando abri a porta e entrei, fui direto até a arara que ficava próximo da porta. Procurei no meio das roupas de Ellen meu moletom, e  não estava ali. Eu olhei em volta, e o encontrei em cima da cama, quando o agarrei e já ia sair novamente,Ellen entrou no Trailer, completamente molhada. O bagulho da chuva pesada começou a soar pelo ambiente e eu já sabia que se não saissemos agora não  iriamos sair dali e eu realmente  não quero  ficar preso com Ellen.

~Tá fazendo o que aqui? Deveria estar lá dentro.

~Eu vim pegar meu celular, preciso ligar pra Chris.~Ela falou passando por mim e indo até o banheiro, voltando com seu celular e um carregador.

Ela dá uns passos correndo até o frigobar e agarra umas barrinhas de cereais. Eu a olho incrédulo.

~Não sei quanto tempo a gente vai ficar lá.

Eu tive vontade de rir, e por um momento até vi diversão em seus olhos. Mas a diversão foi embora quando a luz do trailer começou a piscar e um barulho alto foi ouvido. O trailer balançou.

Nosso trailer ficava perto da parte aberta do grande set. Próximo as árvores e flores, em dias comuns isso era uma virtude, mas hoje isso era uma merda.
Eu fui até a porta e tentei abrir, não  consegui. Puxei  com mais força e mesmo assim a porta não se movia. Eu limpei com a mão o vidro da porta para olhar para o outro lado. E então tive certeza do que eu tinha imaginado, uma árvore havia caído e bloqueado a porta.

~ Não dá pra abrir.

~O que?

~Estamos presos.

Deixe acontecer Where stories live. Discover now