Uma pílula difícil de engolir

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Patrick:
Eu liguei pra Ellen no dia seguinte, escondido dentro no banheiro, com o chuveiro ligado.
Não era como se eu não pudesse ligar pra Ellen da minha sala de estar, mas certamente levantaria suspeitas e eu não estava com cabeça de responder às perguntas paranoicas de Jill. Talvez não tão paranoicas.

Eu liguei umas quatro vezes, todas elas caíram da caixa postal. Cogitei ir até a casa dela, mas se desse cara com Chris eu não teria uma boa desculpa pra dar a ele.
Mandei um SMS, ela não respondeu. Depois de um tempo, simplesmente desisti de tentar entrar em contato, ela iria aparecer, e iríamos esquecer isso, como bons amigos.

(...)

Já fazia uma semana que não gravamos, as tempestades eram frequentes nessa época do ano. Fiquei surpreso por receber uma ligação de Tony dizendo que voltariamos na terça de manhã.
Minhas ligações ainda eram rejeitadas por Ellen, e cada vez que eu ouvia aquela voz eletrônica ficava irritado. Isso já tinha passado dos limites, já era infantilidade.
Precisávamos enfrentar isso como adultos e resolver isso de preferência o mais rápido possível para que eu possa ter noites inteiras de sono.
Então na terça feira eu levantei cedo, não que tivesse dormido muito durante a noite, mas levantei umas duas horas antes do que o habitual. Tomei meu banho e me arrumei com rapidez, queria deixar as coisas claras  de uma vez por todas.

Passei no quarto de T antes de sair,beijei sua testa suada pelo calor da noite,desliguei a luz noturna que fica ao lado da cama. Quando me virei pra sair do quarto Jill estava na porta. Me olhando com os olhos azuis ainda sonolentos, com os cabelos loiros bagunçados.

~Por que está acordado a essa hora?~ Ela coçou os olhos, ainda parada em seus pijamas de vaquinha, ela era fofa quando acordava.

~ Tenho que ir gravar.

~Às...~ Ela olhou o relógio na cabeceira da cama de T.~ 6:08h da manhã? As gravações geralmente não começam depois das 8h?

~Atrasamos uma semana, Shonda pediu pra ir mais cedo.~Menti.

Ela levantou as sobrancelhas, concordou e deu meia volta. Quando saio do quarto de T, tenho a noção de que não posso chegar tão cedo no set. A mesa de leitura só começa depois das oito, sair agora me daria apenas mais duas horas esperando no trailer. Respiro fundo e passo a mão no rosto, pego as chaves do carro e saio pela porta da frente.

Cogitei a possibilidade de ir pra pista, mas se eu entrasse lá, dificilmente iria sair. Pensei em ficar ali, parado no carro esperando até dar a hora, mas corria o risco de Jill olhar da janela e querer satisfações. Então eu fiquei rodando pela cidade, tentando formular o que diria a ela.

O que seria mais interessante do que a verdade? Mentir parecia tentador, tão tentador que devo ter criado uma vinte historias diferentes na cabeça. Mas por incrível que pareça, mentir é ainda mais difícil quando nem você sabe a verdade. Não sei o que está acontecendo, nem porque disse o que disse, não sei o que estou sentindo, nem o que isso significa. Eu poderia dizer como estava me sentindo desde aquela conversa, para ser mais sincero, desde que eu disse as palavras magicas. Me sinto confuso, mas isso parece algo estupido pra se dizer em uma situação tão extrema.

Se eu fosse Derek, o que faria? Com certeza faria uma escolha da qual iria ne arrepender. Por mais que ame meu personagem, em matéria de escolhas ele não era o melhor. Já Meredith diria que eu era um idiota, que não deveria estar saindo e dizendo "eu te amo " por aí. Já Bailey me olharia severo, diria que eu era imaturo e estava entrando em um lugar que provavelmente não iria conseguir sair. De fato, a única personagem meramente sensata até agora era ela.

Então, devia dizer a ela? Devia dizer que realmente falei que a amava? Mas que preferi fingir que nada estava acontecendo porque julguei melhor pra ambos? Devia falar que sempre que ela está por perto eu sinto como se meus órgãos tremessem dentro de mim? Que sempre que alguma coisa acontece ela é a primeira pessoa que eu quero contar? E no final disso, o que mais diria? Que não sei o que isso quer dizer, mesmo sabendo no fundo o que é.

Rodo pela cidade até chegar a hora de ir pro set. Decidi depois de muito pensar, que diria o que ela quer ouvir, que de fato disse que a amava, que não sabia o porquê. Que todas as duvidas que ela aparentemente tinha eram minhas também, que deveríamos nos esforçar para esquecer.

Quando entrei no set, passando pelo segurança simpatico da portaria, o primeiro carro que vi foi o dela. Quase Instantaneamente meu corpo gela. Respiro fundo antes de sair, repasso na cabeça umas dez vezes o que tinha que falar. Quando sai, tive uma visão rápida de Chandra saindo do seu carro, acenou pra mim de longe e sorriu, caminhando para a sala de leitura.

Meus pés pareciam colados no concreto, não queria sair dali pra nada. Mas não teve jeito, quando Tony me viu ali parado perto do carro, acenou para ir pra lá.

~Bom dia Patrick!~Ele deu um sorriso cheio de dentes, que eu fiz questão de retribuir da melhor maneira possível. Quando entrei, na sala iluminada por uma luz gelada, pude ver seus cabelos loiros, ela estava conversando com Sandra, Chandra e Sara. Elas riam alto e sorriam animadas pra Ellen, tocando nela com carinho, dizendo palavras que eu não conseguia identificar.

~Bom, acho que estão todos aqui, vamos começar de uma vez, temos muita coisa para fazer hoje.

Tony diz chamando a atenção de todos, cada um se direcionando até a cadeira demarcada. Ellen na cadeira na ponta da mesa, alguns metros longe de mim, ela não se deu o trabalho de olhar pra mim.

~Antes de começar.~Chandra falou.~ Ellen tem uma notícia.

Uma notícia? aperto as sobrancelhas, o que ela teria de tão importante pra falar? Importante ao ponto de anunciar para todos saber?

Vi quando Sandra a olhou, incentivando ela falar, ela pareceu travada por um momento. Seus olhos cruzaram com os meus por um segundo, não decifrei o que tinha neles, foi rápido demais.

~Vou me casar.~Disse levantando a mão, mostrando o anel brilhando.

Mais que po...

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