Eu sou uma árvore

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Pov: Patrick

Meu cérebro não  estava em suas melhores condições quando ela disse aquilo. Ela ouviu? Como? Sério? Quer dizer, por quê  ela nunca disse nada? Por que  me deixou pensar que nunca tinha ouvido?

~O que?~Digo em um sussurro morto.

Não tinha muito o que dizer, ela ouviu. Ela ouviu e estava me perguntando o que significava, e eu não tinha ideia do que significava. Cá entre nós, eu estou pensando nisso desde o momento em que disse, há  mais de seis meses atrás, e até agora, não faço ideia do que significa.

~ O que significa? Aquele "eu te amo", que você disse no dia da gravação do baile.

O olhar dela, ela nunca me olhou assim, com esperança, talvez medo da minha resposta. Eu não sabia o que responder, não tinha certeza do que responder. Então fui sincero.

~Não sei.

~ Você não sabe?Você está me dizendo que não sabe?!

~É exatamente isso... Eu me perdi no personagem.

~ Se perdeu...~ Ela riu. Não uma risada que ela estava acostumada a dar, uma risada seca. Como se ela tivesse se dado conta de quão trouxa ela foi.~ Será que  você não pensou em me contar que se "perdeu no personagem", ao invés de deixar eu pensar um monte de merda.

~ Eu pensei que você não  tivesse ouvido.

~ Pois, você pensou errado Patrick! Porra, quando você sussurra no ouvido de alguém é normal que essa pessoa, escute!

Ela estava certa, mas ela não respondeu, ela não falou nada depois. Agiu como se nada tivesse acontecido. Era natural eu pensar que ela não tivesse ouvido.

Ela evitou contato visual, respirou fundo, evitando as lágrimas  o que me matava por dentro.

~ Faça um favor pra si mesmo e pra mim. Não se perca no personagem de novo!

(...)

Ficamos em lados diferentes do trailer. Ela deitada na cama, encarando a janela, como se fosse a coisa mais cativante do mundo. E eu aqui sentado, na sala de jantar, tentando achar uma solução  pra contornar essa situação. Alguma coisa que a deixe menos  irritada.

O telefone dela tocou em cima da cama.
Ela olhou o nome é atendeu rapidamente.

~ Oi.~ Sua voz era rouca e baixa.~ Eu sei... Ok, eu não sei quando vou sair daqui. Estou no Trailer. ~ ela fez uma pausa, para ouvir o que a outra pessoa estava falando.~Eu sei Chris, mas eu não tive muita escolha,fiquei presa aqui.~ Mais uma pausa.~ Sim, estou sozinha. Mas tá tudo bem, só vou esperar a chuva passar e alguém  vai me tirar daqui, não se preocupe.

Sozinha?Ela disse a ele que estava sozinha?Por que faria isso?  Por que não disse a ele que estava aqui, presa, comigo?

Ela desligou, levantou da cama e direcionou até a cozinha, seus pés descalços, correram agitados e rápidos até o frigobar e pegou uma caixinha de suco de uva. Seu olhar não cruzou com o meu na volta, foi direto para a cama e ficou lá. Isso já estava indo pra um caminho longe demais, estávamos naquele clima de merda a quase meia hora.  E eu não tinha certeza do que exatamente deixado ela brava. Se foi o fato de eu ter dito que era o personagem, ou o fato de que eu não tinha tocado no assunto desde quando aconteceu.

Em minha defesa, ela também não  disse nada sobre. Mas de qualquer maneira teríamos que resolver isso.

Me levanto e vou até onde ela estava deitada, segurando com firmeza seu livro de alto ajuda, escrito por um coach fanfarrão que tinha um título bobo.

~ Será que podemos conversar?

~ Não tenho nada pra falar com você.

Eu lutei contra a vontade de bufar.

~ Ellen... Será que pelo menos pode me dizer o porquê  está tão brava?

~ O porquê?! Porra Patrick, você me deixou oito meses pensando que você tinha dito que me amava. Neurótica, sem dormir e com problemas com meu namorado, porque você "saiu do personagem", e nem para o bonito me avisar que era um personagem.

Aquilo me intrigou. Por que isso tinha afetado tanto ela? Mesmo eu dizendo eu te amo sem ser o personagem - O que de fato aconteceu- não seria o suficiente pra ela ficar brava, aliás amigos falam que amam uns aos outros o tempo todo. Tá que que não falei no sentido de amigos, e que eu estava entre as pernas dela,e com a minha mão perigosamente perto de sua bunda. Mas, ainda assim,poderia ser um singelo eu te amo.

~ Houve um erro de comunicação. ~ Eu falei me aproximando mais da cama, um pouco afastado dela.~Me desculpa, eu deveria ter dito.

Seu olhar pareceu suavizar um pouco,mas ainda assim eu podia ver que ela ainda estava chateada. Não sabia Como reverter as coisas. Nossa relação já não andava muito boa,e agora,isso? Isso só tá indo de mal a pior.

~Você é um idiota!

~Eu sei.~Dei os ombros pra ela.

Ela se levantou da cama, tive a impressão que era pra ser aquele famoso "aperto de mão" pra fazer as pazes. Com um olhar um pouco tímido ela estendeu a mão. Eu ia agarrá-la, mas a força do vento fez com que alguma coisa batesse no Trailer, projetando o corpo de Ellen pra frente. Em um impulso eu agarrei seu corpo, e nos sustentei. Suas mãos se apoiaram no meu peito, enquanto eu segurava ela pelos braços. Seu rosto estava próximo ao meu, tão próximo que consegui sentir sua respiração na minha bochecha. Seus olhos encontraram os meus por poucos segundos. Ficamos ali, em poucos intantes que pareciam horas que nunca se acabavam.

Ela firmou os pés no chão, apertou com suavidade as pontas dos dedos contra meu peito. Não teve tempo pra pensar, não era um personagem dessa vez, na realidade nunca tinha sido. Eu a beijei, ciente que a qualquer momento ela me empurraria com raiva e começaria a gritar comigo e me xingar de todos palavrões possíveis.

  Houve um instante de culpa em mim, por vários motivos, o principal deles meu casamento. " O que deu em você seu Eu idiota?!Largue-a agora! Ela vai odiar você!

Não  era um beijo premeditado, não,não. Não era como se tivesse câmeras a nossa volta, como se houvesse um diretor dizendo o que deveríamos fazer. Era apenas nós dois, e eu juro pra você, assim com tudo que é mais sagrado na minha vida que eu não esperava que estava prestes a me afastar, a pedir milhões de desculpas e falar que foi uma fraqueza um desturbio, sei la, estava prestes... até ela gemer.   Ela gemeu de prazer, as mãos que se apoiaram no meu peito, agarraram minha camisa com força, ela permitiu que o beijo fosse real, permitiu não só o toque dos lábios mas o da língua também. Como me afastaria agora?Com sua boca me prendendo como uma teia de aranha prende uma presa? Como eu me afastaria agora? 

Bom, eu não tive que me afastar. Ela pareceu recobrar a consciência e me empurrou longe. Seus lábios rosados  pela minha barba, sua boca inchada, eu poderia estar orgulhoso agora, se ela não estivesse me olhando com raiva.

~Você tá maluco!?

Sua respiração estava descompensada, sua mão ainda estava no ar, fazendo questão de ter certeza que eu estaria longe.

~Isso não pode acontecer!Você pirou?

~ Não, Eu sei. Me desculpa eu não...~Eu não o que? Eu não sabia o que estava fazendo? Foi sem querer? Foi seu personagem de novo? Seu imbecil. Ela estava com raiva, em choque.~Calma...

~Calma?Puta que pariu!Calma Patrick?! Eu amo o Chris, e você  tem a Jill,  que merda por que você fez isso?

Aquela declaração foi como um tiro, não que eu não soubesse, mas mesmo assim, ouvir ela falar com tanta firmeza  e indignação.

~ Desculpa eu...

Um barulho me impediu de falar. Alguém estava do lado de fora tentando arrancar a árvore da porta.

~Aguentem mais um tempo, já estamos  tirando!

Eu ouvi a voz de Eric gritar. Não  sei se fico contente ou se fico pilhado.

Eu sei que demorei,mas não se preocupem, essa é a minha última semana de aula. então depois eu vou ter mais tempo. Bjs 

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