A dor que parte meu coração (Capítulo Revisado)

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O som dos seus pés ecoam pelos cantos que passam, sua respiração é a mais pesado possível, seus ossos gritam para que pare de uma vez e ceda, seus cabelos invadem sua visão que insiste em olhar para trás como se corre de soldados que querem matá-la. Ela corre e corre pelos corredores como alguém que foge da lâmina da morte e o seu abraço frio. Seus olhos não se permitem abrir, suas mãos recuam e vacilam ao achar que tocou em algo sólido para se segurar, suas penas falham e em sua garganta, um nó.

Para quem vê de fora, parece algo sem sentido algum, uma cena aleatória e quase costumeira em toda a divisão. Mas o motivo para ver uma mulher correndo pelos cantos tão eufórica, é algo incomum de ser visto no dia a dia. Para S/n, o sentimento que vem como uma onda, é como dividir a sua alma em duas e ver uma delas sumir em sua frente, é como sentir garras arrancando o seu coração. Enquanto corre, ela erde a conta de quantas vezes caiu e se levantou para poder se manter longe, a mulher que antes era destemida e temida, parece ter desaparecido com o brilho do sol, caindo em desgraça e na penumbra da escuridão diante dos seus olhos.


Maldita seja a tempestade, sua mente grita como louca, tentando esquecer da cena em que a mãe é morta em sua frente. Mas como esquecer de algo tão brutal quanto isso? A cena se repete em sua mente mil vezes e nas mil vezes a dor parece cortar seu coração em pedaços. A pequena trancada em um canto escondido da casa, vendo homens com rostos risonhos espancando, abusando, torturando sua mãe em um chão sujo, sem poder fazer nada, sem poder correr até lá e morrer no lugar dela para que ela não sofra por mais nenhum segundo, ainda está marcada ali, em sua mente. A última coisa que viu da mãe que tanto amou, a última coisa que viu de Doroth, foi um olhar de desespero que gritava para que ela ficasse calada e quieta, até o tiro ser disparado sendo encoberto pelo raio que caiu na porta de entrada, iluminando todo o lugar, mostrando aos olhos da criança o sangue derramado no chão. Então viu os homens partirem deixando o corpo sem vida da mulher, jogado no chão com uma única lágrima caindo de seu olho esquerdo. S/n não dormiu naquela noite, esperou o dia chegar para poder dar a mãe a paz que tanto buscava. Mas em um momento de histeria, correu até o corpo de sua mãe e o agarrou, agarrou tão forte que a dor ao sentir sua pele gelada a fez gritar tão alto quanto os barulhos dos trovões no céu. Uma criança tão nova e ingênua presenciando a podridão da humanidade, faz qualquer alma se partir. De joelhos no chão em baixo da chuva fria e amarga, ela grita com tudo que há em em sua garganta, com o ar que está em seus pulmões. Ela clama pela mãe, ela chama por mais um abraço caloroso desejando que seu coração volte a ser como antes, que seu coração deixe de estar cheio de cicatrizes horrendas que fazem seu corpo definhar em agonia. S/n deseja a morte tanto quanto deseja viver sem as lembranças ruins de um passado obscuro, implora par que um dos raios a leve embora assim como levou a sua mãe.


Levi ─ S/n. ─ O homem grita por sua amada ao ver ela em meio a forte tempestade, gritando em pura agonia com as mãos tentando arrancar o próprio coração no intuito de fazer a dor parar. Levi entende bem como é perder alguém, o mesmo viu a mãe definhar de fome em uma cama suja em um quarto escuro. ─ Para com isso por favor, eu não posso suportar ver você se machucar dessa maneira!

Erwin ─ S/n por favor, saia dessa chuva, não se entregue a dor. ─ Dos olhos de Erwin, lágrimas de dor desaguam como um rio em um mar, é insuportável ver a sua mulher sofrer. ─ Vem. ─ O homem puxa Levi para o meio da tempestade para poder resgatar do mar de caos, a única em todo mundo capaz de dar paz ao dois.

S/n ─ Eu não quero ficar sozinha, eu não aguento mais sentir essa dor, faça para. ─ Olhando para o céu escuro, ela clama aos ventos que a chuva leve sua dor embora de uma vez por todas. Das janelas do castelo, os cadetes encaram a cena de uma forma dolorosa, como se eles pudessem sentir o que ela sente.

Levi ─ Você não estará mais sozinha, nunca mais, eu prometo pela minha vida! ─ Branda o homem, retirando as mãos de S/n de seu peito, onde há marcas de suas unhas.

Erwin ─ Eu prometo pela minha alma, que nunca a deixarei sozinha! ─ A mulher ainda chora como uma criança, mas é carregada por Erwin para dentro do castelo antes que os raios atendam aos seus pedidos.
Ao sentir o toque de Erwin, ela se permite abrir os olhos encharcados da água salgada, querendo gritar novamente por ver o homem que ama a olhar com amor. Ela jurou que ele a odiaria por guardar segredos, mas cá está ele a carregando como um príncipe em seu cavalo branco. ─ Não chore mais, estamos aqui por você! ─ Sentindo seu peito doer, Levi coloca sua mão direita sob a cabeça de S/n enquanto caminham para o quarto.

Levi ─ Nunca mais implore pela morte, eu odiaria ter que invadir o céu pra te trazer de volta. ─ Sob a cama fria eles a colocam após tirar suas roupas molhadas, esperando que ela deixe de chorar em silêncio. ─ Ficaremos ao seu lado para sempre!

Erwin ─ Até mesmo depois da morte, até mesmo em outra vida, nós estaremos ao seu lado. ─ Deitada entre os dois, ela ainda deixa suas lágrimas caírem enquanto a dor insiste em acertar seu coração machucado.
As mãos de Levi e Erwin a envolvem colando seus corpos para que ele pare de tremer e no silêncio ela ouve a voz que havia esquecido. S/n ouve a doce voz de sua mãe sussurrar entre os ventos, sussurrar que, tudo está bem, que ela está olhando por ela desde o momento em que seus olhos enxergaram a escuridão naquela noite. ─ Durma minha pequena, estaremos aqui quando acordar! ─ Ela olha para o seu lado direito enxergando o mar dos olhos de Erwin e do outro lado, o céu dos olhos de Levi. Por fim seus olhos se fecham vencidos pelo cansaço, caindo em um sono profundo e silencioso.

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─ Sabe a dor? Ela dói

─ Estão vivos e bem?

─ O que estão achando?

Nasty Desires | Livro 1 | Aot | Erwin + Levi + S/nWhere stories live. Discover now