the villain's miracle [DabixChildReader]

Capítulo V: Queimadura

Dabi sabia que estava longe de ser um bom pai.

Apesar disso, ele tentava. Tentava muito.

O vilão tornou-se pai muito jovem, antes mesmo dos vinte anos. Somado a isso, ele estava em constante luta com o seu próprio passado e, por muito tempo, pensou que não seria capaz de aceitar sua própria filha.

Não queria ter essa responsabilidade. Além disso, tinha um medo terrível de ser igual ao seu próprio pai, e fazer da criança a pessoa mais infeliz do mundo.

Porém, quando viu Yuki pela primeira vez, ele teve a certeza que ela era o seu milagre. Seu maior milagre; a sua esperança de apagar toda a dor do passado e, talvez, experimentar um pouco da felicidade que nunca sentiu.

Depois dela, ele até poderia esquecer que, um dia, foi tão triste e pensou em coisas tão terríveis, a ponto de tornar-se o vilão que é hoje.

Com isso, ele deu o seu melhor para dar uma vida confortável e segura.

Ademais, estava difícil mantê-la longe do perigo.

Vê-la com Endeavor foi a pior coisa que poderia lhe ocorrer, o que a fez pensar que a segurança da menina estava por um fio. Hawks também lhe fazia acender o sinal de perigo, já que não confiava no homem pássaro para esconder o seu segredo.

Também havia o pessoal da liga, que já estava desconfiando do que ele escondia. Seu corpo tremia só de pensar em Toga apertando as bochechas da criança ou em Twice confundindo-a com a sua dualidade.

Ele estava cercado de perigos.
Isso quase o fez optar por desistir de sua vingança e fugir com Yuki para o mais longe possível.

Se ele se revelasse e fosse pego, iriam entregá-la para sua família e ele iria acabar com ela.

Mas, se Dabi acabasse com o seu pai primeiro, isso não iria acontecer.

Yuki era a única pessoa que ele amava e que, provavelmente, amaria no mundo todo. Ela era o motivo de ele ainda não ter feito uma besteira sem limites. Seus momentos com a sua filhinha eram os únicos em que ele se esquecia de tudo o que já lhe aconteceu e de tudo o que lhe acontecia.

Yuki era o único resquício de felicidade que ele possuía.

Vou proteger a minha Yuki daqueles desgraçados.

Foi com esse pensamento que ele entrou em casa, já escuro.

Ficou alarmado ao ver que a casa estava silenciosa demais, principalmente porque era nesse momento que Yuki costumava fazer o jantar.

Ele detestava a ideia de sua filha, uma criança tão jovem, cumprisse tarefas domésticas, mas não podiam evitar isso.

Todavia, ela não estava na cozinha, então só poderia estar no quarto ou, na pior das hipóteses, em lugar nenhum.

O vilão se esgueirou pela casa, abrindo a porta do quarto com cautela. Ele ouviu uma fungada, seguido por um gemido de dor.

Ao entrar, viu que a luz estava ligada, enquanto Yuki estava no chão, com o rosto vermelho e molhado pelas lágrimas, enquanto enrolava seu braço com uma faixa.

— O que aconteceu? — ele se abaixou.

— T-tive um problema, papai. — Yuki respondeu, com certo medo na voz. — E-eu me queimei.

Dabi analisou a queimadura. Uma marca que tomava grande parte do seu antebraço. Ele conhecia bem uma queimadura daquelas.

— Usou a sua individualidade, certo? — ele arqueou a sobrancelha.

Só pelo olhar de Yuki, ele pôde ver a culpa.

— Eu falei para você não usá-la. Quer ficar toda marcada como eu?

— Sinto muito, papai. — a albina murmurou.

Ele suspirou, culpado.

— Quem sente muito sou eu. — Dabi afagou sua cabeça. — Eu sei que você gostaria de ser como os seus colegas da escola, e usar a sua individualidade como bem quiser. Mas  com o corpo que você herdou de mim, isso é impossível. Não quero que se machuque.

— Papai...

Isso era verdade.

Ele se culpava imensamente por tudo de ruim que acontecia com o corpo da filha.

Queria que ela fôsse a pessoa mais feliz do mundo, mas, mesmo com ela dizendo o contrário, sabia que ela sofria bastante por ter herdado o mesmo corpo e individualidade que ele.

Ela não duraria um dia com ele.

— Eu sei que é difícil. Porra, eu sei o quanto dói. — se repreendeu mentalmente pelo palavrão. — Mas, por favor, não use mais a sua individualidade.

— Eu nunca vou conseguir? — ela questionou, timidamente.

— Não sem se machucar. — ele puxou a filha para perto, dando-lhe um abraço. — Mas você não precisa se preocupar em usar os seus poderes. Eu sempre vou estar aqui para te proteger.

Naquele momento, a única coisa que Dabi poderia dar a sua filha era isso: segurança.

Foi uma surpresa, para ele mesmo, conseguir passar isso para Yuki. Dabi jamais tinha sentido segurança em sua vida e temia não ser capaz de fazer sua filha sentir aquilo.

Mas, pela reação de Yuki, ele sabia que tinha conseguido.

— Você está fazendo isso errado. — o pai falou, enquanto analisava a faixa que ela tinha colocado em parte do braço.

— É difícil fazer isso só com uma mão! — Yuki reclamou.

— Sei como é. Mas, para a sua sorte, eu sou um especialista nisso. — ele puxou o braço da criança, enrolando, com uma delicadeza que ninguém iria supor que ele tivesse. — Eu já passei bastante por isso.

— Papai. — ele ouviu Yuki chamá-lo, quando estava quase terminando o seu trabalho. — Suas cicatrizes...

Dabi realmente achava que ela perguntaria com tinha conseguido-as.

— Eu não me importo com elas. — ela sorriu. — Além disso, eu não me importo em me parecer com você. Eu gosto de termos os mesmos olhos. Eles são bonitos.

Vendo aquele brilho no olhar turquesa de sua filha, ele quase se esqueceu de que, em um olhar de mesma cor, ele já vi a raiva e o ódio.

— Eu sou feliz com você.

— Eu também sou. — Dabi sorriu. — Agora que já terminamos, é hora de jantar.

Ele se levantou, colocando a sua filha nos braços e seguindo para a saída do quarto.

Os dois, juntos, preparam uma refeição simples, porém deliciosa.

Naquele momento, ele podia esquecer que era o vilão de chamas azuis que queimava tudo e todos por sua frente, ou que era o primogênito de uma família quebrada que idolatrada o pai acima tudo.

Não havia desequilíbrio em sua cabeça ou vontade de se vingar.

Naquele momento, ele era única e exclusivamente dela.

Era apenas o seu pai.