O preconceito entre classes e povos constrói uma barreira de pedra, que separa e muitas vezes machuca aqueles que tentam destruí-la com a força das mãos.
O amor, no entanto, poderá derrubar qualquer barreira?
Será um homem, capaz de colocar de lado...
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Alguns dias passaram, desde a primeira vez que Archie recuperou a consciência. A partir de então, ele sempre despertava por alguns instantes e se deparava com o sorriso sem dentes da senhora Chinara.
A velha senhora o alimentava e tratava todos os dias. A cada novo amanhecer o cavaleiro passava mais tempo acordado, até o momento em que não precisou mais das porções que o faziam ficar inconsciente.
Tinha acabado de tomar o seu caldo diário, que segundo Chinara, estava lhe fortalecendo, quando dois homens enormes entraram na tenda.
Assim como a mulher, eles também possuíam muitos cordões em seus pescoços, porém, não tão coloridos quanto os dela. Alguns enfeites eram feitos com dentes de animais predadores. A maior parte dos seus corpos estavam expostas, as poucas roupas que vestiam eram feitas com peles de animais ou um tecido grosseiro. Também haviam muitas pinturas sobre as suas peles e nas suas mãos eles carregavam lanças afiadas.
- O kapala deseja vê-lo, gerdariano. - disse um dos homens, com menosprezo evidente na voz.
Era a primeira vez que Archie via outras pessoas, desde que chegou até ali. Já havia sido um choque, acordar e se deparar com a senhora enrugada, com as tranças coloridas que quase varriam o chão, no entanto, já estava acostumado com ela.
Aqueles homens eram muito diferentes. Nem mesmo os comerciantes adramitas que frequentavam Gerdara, tinham aquele aspecto intimidador e exótico. Guerreiros fortes e destemidos. Com toda certeza, foi esse mesmo tipo de guerreiro que surpreendeu o rei Amom e o derrotou vergonhosamente em sua juventude, quando ainda era um príncipe defendendo o trono do pai. Com certeza foram guerreiros como aqueles que mataram o rei Magnus e acabaram com a guerra, há anos atrás.
- Não ouviu, Gerdariano? - perguntou o mesmo homem, o tirando de seus devaneios. - Levante-se logo daí!
- O que é um kapala? - Archie perguntou a Chinara, sabia que aqueles homens não se dariam ao trabalho de lhe responder qualquer coisa.
- Ele é o líder da nossa tribo. Não o deixe esperar demais. - ela respondeu.
A senhora, então, se afastou e se retirou da tenda o deixando a sós com os dois soldados.
Archie se levantou imediatamente. Estava usando uma roupa de couro que Chinara havia lhe dado, ainda assim, se sentia desconfortável. Metade do seu tórax estava exposto e os seus braços também, suas pernas também não estavam totalmente adequadas e aquele estilo, definitivamente, não combinava com ele.
Ao caminhar alguns passos, foi tentando se readaptar com as próprias pernas. Havia recuperado o movimento por completo, todos os dias se esforçava ao extremo, até finalmente conseguir mexer os pés outra vez. Já havia ficado de pé, na noite anterior, porém, aquela era a primeira vez que caminhava, desde o dia em que fora picado pela cobra de gelo.
Lentamente Archie caminhou até a porta da tenda. Apesar de aborrecidos, os guerreiros não o empurravam ou batiam para que fosse mais rápido, coisa que o surpreendeu. Ao abrir as cortinas, seus olhos precisaram se acostumar com a luz e o que viu em seguida, não era nada que os olhos já tivessem contemplado alguma vez. Era diferente de tudo.
