⭟ | 𝐫𝐞𝐠𝐫𝐞𝐭

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harris

andamos lado a lado no calçadão. eu não tinha pressa alguma e diego parecia não ter também.

quando chegamos em um canto da praia de onde dava para se ver perfeitamente as ondas se quebrando ao longe, nós nos sentamos num tronco caído. olhei de meu amigo para o mar. escutei diego respirar fundo antes de começar.

---- meus pais... eles jogaram fora minhas coisas.

me virei para ele. ---- o quê? como assim?

---- eles... jogaram fora... a maioria das minhas coisas - continuei a olhar para diego, tentando entende-lo. não era possível, os pais dele não podiam apenas ter jogado fora. ---- meus pôsteres, nossas fotos, os livros que você me deu, nosso autoretrato, meus desenhos... tudo. - percebi que diego começara a gaguejar, de seus olhos caiam lágrimas grossas e gordas. ele tentava segurar o choro mas eu sabia que era difícil.

o puxei para perto de mim e deixei que ele deitasse sua cabeça no meu ombro e chorasse o quanto quisesse.

---- eles estragaram tudo, s/n... estragaram tudo...

*

quando diego parou de chorar, limpei as lágrimas de seu rosto vermelho. seus olhos estavam inchados e o cabelo relativamente longo grudava na testa.

continuamos conversando. tentei distrai-lo, levando a conversa para um rumo mais descontraído, mas minha mente sempre voltava para aquele pensamento. como seus próprios pais puderam fazer aquilo com ele? tudo bem que eles foram criados severamente, era sua cultura. mas acabar com tudo que o filho tinha não era certo.

eu sabia que os pais de diego me odiavam, sempre pensei que fosse por que eu não sou coreana, nem sou muito religiosa. mas descontar seu ódio em seu filho que eles deviam amar e proteger não faz sentido nenhum.

fotos de bons momentos... presentes escolhidos a dedo ao longo dos anos... memórias que ele colecionou... tudo jogado no lixo pelos pais. não podia pôr em palavras todo o ódio que eu sentia do senhor e da senhora kishimoto. não por jogar fora as minhas coisas que estavam na casa do diego, mas por machuca-lo ao fazer isso.

---- não consigo lidar com isso, s/n.

---- prometo que vai acabar logo - kim hu so, seu irmão mais velho, que mudou radicalmente seu nome para christopher, viria logo para londres. depois que se formou, christopher se mudou para a coreia para trabalhar em uma empresa multimilionária. a cada ano diego torcia para que seu presente de natal fosse o irmão, mas ele sempre ganhava fotos e postais, e tais presentes foram destruídos pelos pais hoje. eu esperava que kim voltasse logo.

---- podemos mudar de assunto, por favor - eu não queria, na verdade. queria que ele me contasse o que sentia e como eu podia ajudar. por que eu faria tudo que estivesse ao meu alcance. mas diego não me contou e eu não insisti. ---- me conta algo feliz.

---- sofia vai sair com o william amanhã - diego sorriu. primeiro um sorriso curto que foi se esticando até que seus olhos se fechassem. aquilo me fez sorrir. ---- você tem um sorriso lindo, seong-su.

eu não era uma boa falante de coreano, mas gostava de dizer seu nome porque era lindo e por que ele gostava quando eu o dizia. e porque o fazia corar.

---- você é boa demais, s/n harris - diego segurou minhas bochechas com ambas as mãos. tive vontade de chorar ao ficar tão perto dele e poder notar as marquinhas nos cantos de seus olhos.

---- acho que posso culpar você por isso - eu o abracei, nem notei o sol se pondo em nossas costas até que eu só pudesse ver a lua iluminando o cabelo escuro quase azul dele. ---- você quer ficar lá em casa ou...?

girlfriend.  louis partridgeWhere stories live. Discover now