Capítulo 30 - eu sou aquela que está se desfazendo

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Wonhee

 Não dói tanto e estou feliz de ter ficado por mais tempo do que na primeira vez em que controlei o corpo. Se pudesse escolher, gostaria de me dividir novamente, trazendo Hyungwon e Hoseok de volta, sabendo que eles são capazes de lidar melhor com nosso trauma em comum do que eu. Pensar que sou feita de seus defeitos faz desmoronar mais uma parcela de terra na ilha onde piso, tomada pelas águas sempre igualmente violentas que agora quase tocam os meus pés.

Eu vi Minhyuk e, embora ele tenha consciência de que nosso encontro não foi apenas um mero sonho, ainda não estou satisfeita. Não consegui exprimir meu medo diante de sua presença e não lhe dei o aviso que martela dentro de mim e que precisa chegar a ele de qualquer maneira.

Quando ele se sentou ao meu lado e usei o sinal que deu início a todo o caos do sistema, só pude elogiá-lo e abraçá-lo com força, sabendo que ele entenderia que estamos diante de uma inevitável integração. Achei que não acordaria mais sendo eu mesma, mas enganei-me e isso me traz duas sensações distintas ao mesmo tempo: a primeira sendo um pavor muito grande de que Kihyun esteja tramando arruinar-me com algo maior do que os incentivos à compulsão; a segunda sendo o alívio sobre ter uma nova chance de alertar Minhyuk sobre o perigo que corremos.

Mas não posso fazer isso estando no limbo, presa ao quarto como uma adolescente de castigo. Sei que Kihyun odeia o fato de que posso estragar seus planos e age para impedir-me de atrapalhá-lo, rasgando mensagens que escrevo quando estou no corpo, mas espero pacientemente por uma brecha e ela vem sem que eu mesma me dê conta.

Changkyun retorna do trabalho e se surpreende quando me encontra, afinal, todos estavam firmes na hipótese de eu ter me integrado a Minhyuk já que ele tem passado o tempo todo desperto. Desde o dia em que deixou a clínica, as alucinações e flashbacks diminuíram bastante, resultado da força que tenho feito para manter as lembranças trancafiadas comigo, e Minhyuk parece estar se adaptando bem a essa nova rotina.

Eu me desculpo, insistindo que não tem sido fácil lidar com as mudanças, mas Changkyun sorri e imagino que esteja apenas tranquilo por não ter me perdido tão repentinamente como aconteceu com Shownu. No entanto, deixo claro que estou aqui para uma despedida, afinal, sinto-me fraca e não há como negar que existe algo mais forte do que eu controlando os meus passos. A faixa de areia da ilha está cada vez menor e ela é minha ampulheta, indicando o pouco tempo que ainda me resta.

É por isso que explico a Changkyun que Minhyuk corre perigo. Não apenas pela enxurrada de informações que irá atolá-lo no passado quando ele tiver alcance das lembranças que possuo, mas também porque Kihyun planejou tudo isso.

— Ele vai aproveitar o momento, Changgie, e vai fazer o que for preciso para enlouquecer Minhyuk como fez comigo — digo, sentindo minhas pernas ficarem moles pelo medo. Sei que Kihyun está escutando e irá me punir mais cedo ou mais tarde. — Os traumas são sua vingança.

Não sei se ele consegue compreender minhas palavras, mas não consigo encontrar uma maneira mais simples de explicar que Kihyun está obcecado em devolver a Minhyuk todas as dores que nós sentimos separadamente. Seu empenho servirá tanto como satisfação aos sentimentos unilaterais que ele rega todos os dias e também como oportunidade.

— Ele quer que você o ame — falo, sabendo que essa vontade é gritante. — Quer que você deixe Minhyuk para ficar com ele, como se isso fosse possível...

O que vem depois de meu deboche é uma dor muito forte, quase como se alguém tivesse batido nas minhas costelas com muita força. Contraio-me e abraço meu próprio corpo escutando a voz de Changkyun e a voz de Kihyun de fundo, todos os palavrões possíveis soando um atrás do outro.

All The Demons Of My Soul | ChangHyukOnde histórias criam vida. Descubra agora