Capítulo 43

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HAYLEY BLAKE


Estava amanhecendo quando chegamos a cidade de Mark e Ayla. O sol já nascia no horizonte, o céu azul livre de nuvens. O ar parecia tão puro e leve naquela manhã. As águas do rio onde Victoria fora morta reluziam à luz do sol, o lugar onde fui levada por Nick, o desgarrado.

E novamente aquele aperto no peito me incomodou.

A alcateia estava acordada, os lobos se reuniram no centro do território. Sete troncos de madeira foram erguidos bem no meio do povo, engoli em seco ao saber o que aquilo significava. Os Alfas da matilha haviam chegado minutos antes e estavam preparados junto aos lobos, acompanhados de quatro anciãos trajando mantos escuros com o símbolo da alcateia cravado no tecido.

Um calafrio me percorreu quando o carro parou. Senti o olhar do meu irmão sentado ao meu lado, o ignorei, mantive meus olhos nos troncos de madeira. Sabia que Aiden estava se mordendo para fazer perguntas, mas graças a Lua, soube respeitar meu espaço e silêncio. Ele devia estar eufórico com a gravidez da sua companheira, meu irmão merecia aquela felicidade de finalmente ter uma filhote com a fêmea que amava.

O julgamento em nosso meio era visto como cruel pelas outras espécies. Eu não sabia exatamente como era feito, seria a primeira vez que presenciava um, mas se o lobo fosse declarado culpado, seria torturado por dias em praça pública pelos seus irmãos e irmãs de raça, e no final do tempo decidido pelo Alfa, seriam mortos. Até a própria morte era escolhida, lenta ou rápida, curta ou demorada. Uma tortura ou uma decapitação.

Pela Lua! Que eu conseguisse passar por mais aquilo.

Me encolhi no banco do carro quando a porta foi aberta. Uma onda de pânico fez minha cabeça rodar, engoli uma respiração afobada, apertando as mãos para que ninguém notasse o tremor em meus dedos. Pude sentir meu coração batendo de forma desenfreada em meu peito, quase pulando para fora.

Fechei os olhos por alguns segundos, buscando acalmar minha respiração e meu coração. Não queria surtar ou perder o controle no meio de todos, não era muito seguro para mim. Um leve formigamento se espalhou pelos músculos doloridos do meu corpo, todo movimento que eu fazia resultava em mais dor.

Sequer notei quando todos saíram da mini vã e Jack se sentou ao meu lado. Dei um sobressalto no lugar quando ele segurou minhas mãos trêmulas e suadas. Abri meus olhos, minha visão embaçou rapidamente, mas logo consegui focar no macho ao meu lado, seu rosto contorcido em preocupação. Tão diferente do Alfa que me encontrou horas antes no covil.

-Você sabe que é a principal testemunha do julgamento, não sabe?

Assenti em concordância. Jack levou minhas mãos até seu rosto e beijou meus dedos lentamente. A sensação dos seus lábios em minha pele resultou em uma reviravolta em meu estômago. Não podia mentir e dizer que não sentirá falta dele nos últimos dois dias.

-Mas eu quero que saiba, que se decidir não participar do julgamento, tem todo meu apoio para partir. Você precisa descansar, lobinha, e não assistir esse espetáculo de merda. Queria acabar com todos eles com minhas próprias mãos.

Meus lábios tremeram.

-Não pode passar por cima da lei, Supremo.

Ele negou com a cabeça, apertando mais minhas mãos.

-Se você se negar a participar do julgamento, ninguém a forçará a nada, Hayley. Um dia eu lhe disse que você é uma loba livre para tomar suas próprias decisões.

Lá estava meu Jack novamente, o lobo que sempre colocaria minha segurança e meu bem-estar como prioridade, minhas vontades acima da sua. Eu o machucara mais do que podia imaginar, e mesmo assim, Jack continuava me tratando como se eu fosse um presente magnífico da Lua em sua vida.

Sangue Puro: A última Labonair ( Livro 1)Where stories live. Discover now